Vamos falar primeiro de nosso planeta

A grande maioria das órbitas dos planetas são instáveis e os que têm uma órbita estável ou estão muito próximos de sua estrela sendo extremamente quente ou muito distantes sendo extremamente frio. Alguns dos pouquíssimos planetas que estão na chamada zona habitável como a nossa terra tem uma fina crosta sob um manto de larva derretida que constantemente é lançada para cima através dos vulcões lançando gases tóxicos e larvas vulcânicas que destroem toda vida em sua volta. Além disso, essa fina crosta é cheia de rachaduras formando as placas tectônicas que constantemente entram em atrito causando grandes terremotos devastadores para a vida. Estes terremotos podem acontecer no fundo dos oceanos causando terríveis tsunamis que matam milhares de pessoas.  Não podemos deixar de mencionar nossa atmosfera que a milhares de anos vem provocando enchentes, tornados, furações, raios, chuvas devastadoras e secas mortais. A ação do homem pode aumentar esses fenômenos climáticos, mas, eles sempre existiram na história de nosso planeta. Não podemos viver em 70% de nosso planeta formado por gigantescos oceanos. Nos 30% restantes grande parte é formado por inóspitos desertos ou calotas polares. Portanto, podemos morrer de fome ou congelados nesta parte que nos resta. Realmente nosso planeta não favorece a vida, pois 99% de toda vida que já existiu foi extinta. Nosso planeta já teve diversas extinções em massa, pandemias, doenças, mudanças climáticas, sem falar que nosso planeta é uma galeria de tiro ao alvo constantemente alvejado por asteroides, cometas e meteoros assassinos que dependendo do tamanho causam catástrofes colossais. Veja quanto tempo levou para que vida multicelular pudesse surgir desde o começo de nosso planeta, aproximadamente 3,5 bilhões de anos.  Nossa estrela, o sol, como qualquer estrela tem um tempo de vida e daqui a 7,5 bilhões de anos vai apagar acabando com toda perspectiva de vida em nosso planeta, mas, antes disso o sol vai crescer brilhar muito mais e quase derreter nosso sistema solar. Com certeza isso não tem nada de design inteligente!

Vamos falar agora do universo.

Vivemos em um cosmos extremamente hostil ao desenvolvimento da vida. A maioria dos lugares no universo mata a vida instantaneamente, seja por extremo calor, frio ou radiação. Tem pessoas que falam sobre as forças da natureza que estão perfeitamente alinhadas para a vida, falam do famoso “ajuste fino” no cosmos que favorece a vida, mas, se você estudar o universo vai perceber que é justamente o contrário, na imensa maioria do universo não ha condições de vida. A órbita de nossa galáxia nos deixa perto de uma supernova a cada centena de milhões de anos, portanto, de tempos em tempos somos obrigados a passar perto de uma supernova, que varrerá nossa camada de ozônio matando toda vida na superfície.  Além disso, estamos em rota de colisão com a galáxia de Andrômeda, o que destruirá nossa galáxia. Sem contar que estamos em um universo em expansão só de ida que por fim sucumbirá ao esquecimento já que a temperatura do universo se aproxima de forma assintomática do zero absoluto.  Com certeza isso não tem nada de design inteligente!

Agora é a vez do nosso corpo

Nosso corpo é extremamente frágil e observamos a natureza nos matando. Eu poderia ficar o dia inteiro aqui falando de doenças como leucemia infantil agressiva, hemofilia, anemia falciforme, esclerose múltipla, epilepsia, Parkinson, Alzheimer, diversos tipos de câncer, a velhice com perda de visão, audição, dentes caindo, o colapso do organismo. Nós exaltamos tanto o olho humano, mas existem animais com olhos bem mais aguçados que os nossos. Nosso olho não consegue detectar campos magnéticos, CO, CH4, CO2, radiação ionizante, estamos completamente vulneráveis a radiação ionizante. Sem falar dos defeitos congênitos, fetos abortados, fetos com anomalias, alguns chegam a nascer com o coração para fora, grudados (siameses), sem cérebro (anencefálicos), sem falar em outros problemas como síndrome de down, autismo. Nós comemos, respiramos e bebemos pelo mesmo canal em nosso corpo, isso garante que milhares vão morrer engasgados todos os anos. Os golfinhos, por exemplo, são mamíferos que respiram e comem por canais diferentes, mas nós não tivemos essa sorte.  Não podemos nos esquecer dos órgãos vestigiais (sem uso) em nosso corpo como os dentes siso, mamas masculinas, membrana nictitante, apêndice vermiforme, músculo plantar, décima terceira costela, cóccix, entre outros. Com certeza isso não tem nada de design inteligente!

A Origem

Foi nos Estados Unidos que surgiu o movimento do design inteligente, uma pseudociência que tinha como objetivo combater o materialismo científico e a Teoria da Evolução usando a estratégia de cunhar um movimento político e social para tentar tirar proveito da primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante liberdade de culto a todos os cidadãos, e ensinar o design inteligente ao lado da Evolução nas escolas públicas, mas falharam e foram refutados no tribunal  que ficou conhecido como “O Julgamento de Dover”, no qual  foi comprovado que o design inteligente era uma forma de criacionismo disfarçado. Michael Behe, o pai do design inteligente, assumiu que não tinha lido grande parte dos artigos publicados sobre a evolução. O design inteligente não consegue explicar como as espécies surgiram. E o próprio Behe não negou a ancestralidade comum dos seres humanos com os demais primatas, já outros defensores do movimento acreditam na Terra jovem (uma ideia que diz que o planeta Terra tem apenas seis mil anos) e no criacionismo bíblico, os quais deixam explícita a ligação com crenças religiosas. Não tem como testar a ideia de um adepto do design inteligente, isso já mostra que o design inteligente não é uma teoria científica e que não resulta de aplicações do método científico. O design inteligente afirma que processos naturais são incapazes de explicarem a diversidade biológica, mas e isso não é verdade.  A biodiversidade biológica é explicada pela Evolução, e uma forte evidência a favor da Evolução é que existe um padrão de semelhança genética entre todos os seres vivos.

O Cromossomo 2

Além disso, os proponentes do design inteligente simplesmente não conseguem explicar a existência do cromossomo 2 no ser humano, que é resultado da fusão de outros dois cromossomos encontrados nos demais primatas, seria o resultado de um designer inteligente, já que o simples fato de existir em nós um do cromossomo 2 que é resultado da fusão de outros cromossomos existentes nos primatas é uma forte evidência para a evolução. Os proponentes do design inteligente nunca publicaram artigos em revistas sérias como Nature ou Science, não testam hipóteses e não fazem ciência, enquanto os cientistas publicam vários artigos e estudos sobre a evolução em periódicos científicos revisados pelos pares. Por esses motivos o design inteligente não pode ser considerado uma teoria científica, trata-se de uma pseudociência com influência do fundamentalismo religioso.

Complexidade Irredutível

Outro ponto, bem concreto, é que existem explicações plausíveis para a evolução gradual de várias características dos seres vivos, às vezes apontadas como “irredutivelmente complexas”. O livro “Creationism Trojan Horse”, de Barbara Forest e Paul Gross, por exemplo, indica listas e mais listas de artigos científicos que explicam e evolução das cadeias bioquímicas que Behe e seus colegas insistem em chamar de inexplicáveis. Ou, como escrevem os autores, “mostrando que o que Behe diz que não existe, existe”. Graças a Darwin, já não é verdade dizer que as coisas só podem parecer projetadas se tiverem sido projetadas. A evolução pela seleção natural produz um excelente simulacro de design, acumulando níveis incríveis de complexidade e elegância.

Explica o mundo natural?

O Design Inteligente tem a pretensão de explicar o mundo natural — mas as explicações que oferece são dramaticamente incompletas. Por exemplo, o Design Inteligente explica a existência de um tipo de flagelo bacteriano com a ação de um Designer Inteligente, mas não oferece nenhuma informação sobre a forma como o designer pode ter construído o flagelo ou sobre quem esse designer possa ser.

Usa ideias testáveis?

As ideias científicas geram expetativas específicas sobre observações do mundo natural que podem apoiar ou refutar a ideia. No entanto, porque o Design Inteligente não especifica o que o Designer é ou como o Designer opera, não pode gerar expetativas suficientemente específicas para nos ajudar a descobrir se as suas premissas básicas estão corretas ou incorretas. O design inteligente é intestável.

Baseia-se em evidência?

Porque o mecanismo central do Design Inteligente é intestável, não há evidência relevante para a ideia. No entanto, alguns proponentes do DI fizeram reivindicações testáveis que têm mais a ver com desacreditar a evolução do que com o mecanismo do Design Inteligente. Estas reivindicações (por exemplo, que os componentes de flagelos bacterianos não podem funcionar independentemente uns dos outros) foram testadas e refutadas pela evidência.

Envolve a comunidade científica?

Os defensores do Design Inteligente raramente publicaram artigos sobre o DI em revistas científicas estabelecidas, e resistiram a modificar as suas ideias em resposta ao escrutínio da comunidade científica. Esses defensores organizaram-se numa comunidade — mas uma comunidade dedicada a promover a sua ideia, e não a descobrir como o mundo natural realmente funciona.

Conduz a novas investigações?

Até agora, não há casos documentados de investigação sobre o Design Inteligente contribuindo para uma nova descoberta científica. Os proponentes do Design Inteligente, é claro, continuam a escrever sobre a ideia, mas este trabalho não é gerador — ou seja, ele tende a repetir-se e não ajuda a construir explicações novas e mais detalhadas. Os defensores do Design Inteligente tendem a concentrar-se em criticar explicações evolutivas específicas (por exemplo, sobre flagelos bacterianos). Ironicamente, a má aplicação da teoria da evolução e a incompreensão da natureza da ciência inerente a essas críticas foi tão frustrante para biólogos evolucionários, que por vezes aumentaram os seus esforços de investigação nas áreas atacados pelo DI. Hoje em dia sabemos muito mais sobre como o flagelo bacteriano evoluiu do que há dez anos atrás!

Os investigadores comportam-se cientificamente?

Embora haja diversidade dentro do grupo, os proponentes do Design Inteligente geralmente não satisfazem as normas de bom comportamento científico no seu trabalho sobre DI, em vários aspetos. Poucos utilizam conhecimento científico existente. Muitos interpretam erradamente a teoria da evolução e a natureza da ciência, e não compreendem a investigação atual em determinada área antes de a criticarem. Talvez o mais importante, visto que o Design Inteligente é intestável, os proponentes são incapazes de submeter as suas ideias a testes de modo significativo, e não conseguem avaliar se as suas ideias são apoiadas por evidência.

Quem projetou o projetista?

Um dos grandes desafios para o intelecto humano, ao longo dos séculos, vem sendo explicar de onde vem a aparência complexa e improvável de design no universo. A tentação natural é atribuir a aparência de design a um design verdadeiro. No caso de um artefato de fabricação humana, como um relógio, o projetista realmente era um engenheiro inteligente. É tentador aplicar a mesma lógica a um olho ou a uma asa, a uma aranha ou a uma pessoa. Entretanto, a tentação é falsa, porque a hipótese de que haja um projetista suscita imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista. O problema que tínhamos em nossas mãos quando começamos era o da improbabilidade estatística. Obviamente não é solução postular uma coisa ainda mais improvável. Além disso, invocar um “design inteligente” para explicar o “aparentemente inexplicável” é uma tarefa cômoda, que não requer muita elaboração, tampouco esforço intelectual. Ao longo de sua história, a ciência construiu a base do conhecimento da humanidade fundamentada em fatos comprovados ou refutáveis. O ”design inteligente” não é nem um fato e nem pode ser refutado. Logo, constitui-se em um argumento falso e enganoso, sem qualquer sombra de base científica. Ao contrário do postulado, não há uma teoria a ser contraposta à evolução darwinista, o criacionismo se fundamenta em dogmas religiosos e não pode ser considerada uma teoria científica.

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A espécie humana é negra

A cor da pele negra surgiu quando os hominídeos perderam os pelos 1,2 milhão de anos atrás. A espécie humana surgiu já negra há cerca de 350 mil anos na região leste da África e a ciência nos mostra que uma mutação no gene SLC24A5 resultou na versão Homo sapiens clara entre 6.000 e 12.000 anos atrás (mesma época em que olhos azuis surgiram). Olhos azuis são uma versão dos olhos castanhos como pouca melanina por conta de uma mutação e, por sua vez, os cabelos loiros são também uma variação dos cabelos escuros com pouca melanina. Assim, todas as versões humanas são derivadas literalmente da versão negra que surgiu na África, e o homem branco é apenas o homem negro com pouca melanina no corpo [1][2][3].

O macho é uma versão da fêmea (em mamíferos).

Em mamíferos, o cromossomo Y de XY (macho) surgiu da degeneração massiva de um cromossomo X de XX (fêmea). Uma vez que o cromossomo X resultante é o responsável pelo desenvolvimento das mamas e mamilos e o cromossomo Y (mutante de X) é aquele que contém a informação responsável pelo aparelho reprodutor masculino, nos embriões de mamíferos, os mamilos e uma pseudo-vagina são adicionados logo que o X se expressa (para formar uma fêmea). Então, quando o Y entra no processo para converter essa "fêmea" em macho, os mamilos são mantidos [4]. Vale deixar claro que o dimorfismo sexual existe muito antes desse sistema XY. Um caso interessante é que, exceto os mamíferos, os demais animais apresentam o processo alternativo de reprodução por partenogênese (que ocorre comumente quando há ausência de machos).

Sistemas não vivos reproduzem e evoluem.

Moléculas complexas sofrem "mutações" e formam novos "indivíduos" ligeiramente diferentes que possuem uma identidade totalmente nova [5]. Mas, não é só isso. Diversos sistemas contendo essas moléculas - embora entendidos como não-vivos - podem sofrer mutação rapidamente e evoluir formando novas espécies [6]! A diferença entre algo não-vivo e vivo torna-se literalmente uma chama de debates entre os conceitos estabelecidos na ciência. Mas a questão crucial discutida na ciência não é se os organismos vivos surgiram de sistemas químicos replicantes, mas quais foram as condições necessárias para isso ocorrer.

Animais e plantas possuem a mesma origem.

Os animais e plantas compartilham DNA porque são oriundos de um mesmo grupo ancestral: micro-organismos respiradores de sulfato e pioneiros na síntese de um aparato químico que formou derivados (clorofila e hemoglobina), permitindo o surgimento de versões com metabolismo diferente [7].

Fontes:

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Um número crescente de elefantes africanos está nascendo sem as presas, por conta de mudanças genéticas geradas pela caça excessiva por conta do marfim. De acordo com informações do jornal The Independent, do Reino Unido, em alguns locais da África, 98% dos animais estão nascendo sem as presas, em comparação ao máximo de 6% nascidos dessa forma no passado. Na última década, quase um terço dos elefantes da África foram caçados ilegalmente para satisfazer a procura de marfim em países asiáticos, particularmente na China. Joyce Poole, diretora da organização Elephant Voices, tem seguido o desenvolvimento da espécie ao longo de décadas e afirmou ter observado uma correlação direta entre a intensidade da caça furtiva e a percentagem de fêmeas que nascem sem presas em algumas das manadas que monitorizou. Entre 2007 e 2014, foram abatidos cerca de 144 mil elefantes, o que deixou a espécie em risco de extinção em algumas zonas. As populações que sobreviveram poderão ficar virtualmente sem presas, como as elefantas asiáticas, alertam os cientistas. No Parque Nacional de Gorongosa, em Moçambique, por exemplo, 90 por cento dos elefantes foram abatidos entre 1977 e 1992, durante a guerra civil do país. Dos que sobraram, quase metade das fêmeas não tem presas e acabam passando o gene sem presa para os filhos. “Fêmeas sem presas são propensas a produzir descendentes sem presas”, afirmou Joyce Poole, chefe da instituição de caridade Elephant Voices. “As presas são usadas para cavar alimentos e água, para desenterrar árvores e galhos e para defesa pessoal. Um elefante sem presas é um elefante aleijado”, informou Poole.

No Parque Nacional dos Elefantes Addo, na África do Sul, o caso é mais extremo: 98% das fêmeas não apresentam presas. Quando o parque foi criado, em 1931, já só restavam 11 elefantes – os outros tinham sido abatidos por caçadores de animais de grande porte. Das oito fêmeas sobreviventes, quatro não tinham marfim. Em 2008, os cientistas descobriram que mesmo entre os animais que tinham presas, estas eram mais pequenas do que as dos elefantes de há um século – cerca de metade desse tamanho. Se, por um lado, o facto de não terem presas os poderá proteger de caçadores, por outro, este fenómeno não deixa de ter outras implicações. As presas são usadas para escavar e procurar comida, água e sais minerais, para desenterrar árvores e ramos e os transportar, para autodefesa e para marcar o território. “Os conservacionistas afirmam que um elefante sem presas é um elefante incapacitado”, comenta a BBC.

Fonte: The Independent

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Cientistas conseguiram pela primeira vez analisar o DNA de uma inusitada espécie de mamífero que viveu América do Sul durante a Era do Gelo e determinar sua posição no reino animal - um mistério que já durava mais de 180 anos. Em 1834, Charles Darwin descobriu, na Argentina e no Uruguai, os fósseis do animal pré-histórico que foi batizado de Macrauchenia patachonica. Extinta há apenas 10 mil anos, a espécie foi considerada pelo naturalista britânico como "os animais mais estranhos já descobertos". Intrigado com a bizarra combinação de características do animal - a criatura parecia ter corpo semelhante ao do camelo, cabeça de anta, pescoço e pernas compridas e uma tromba no alto da cabeça -, Darwin pediu ajuda ao renomado paleontólogo britânico Richar Owen para determinar em qual grupo de mamíferos se encaixava a Macrauchenia

Inicialmente, Owen sugeriu um parentesco do animal com a lhama, por causa do pescoço comprido, mas a hipótese foi derrubada assim que se encontraram novos fósseis. Depois de várias tentativas, Owen não chegou a uma conclusão que fosse amplamente aceita e o problema persistiu por quase dois séculos.

Agora, graças a uma nova abordagem usada para recuperar o DNA mitocondrial de um espécime fóssil encontrado no sul do Chile, cientistas conseguiram resolver o mistério da Macrauchenia: um novo estudo confirmou que o animal pertencia ao grupo dos Perissodáctilos, que inclui os cavalos, as zebras, os rinocerontes e as antas.

O novo estudo, publicado nesta terça-feira, 27, na revista Nature Communications, foi liderado pelo especialista em paleogenômica Michi Hofreiter, da Universidade de Postdam (Alemanha), e pelo especialista em mamíferos Ross MacPhee, curador do Museu Americano de História Natural (Estados Unidos).

"O DNA mitocondrial é muito útil para avaliar o grau de parentesco entre as espécies. Nosso estudo corrobora e amplia os resultados de uma outra análise molecular publicada há dois anos, que utilizou as proteínas de colágeno para inferir os parentescos. Como naquele estudo, descobrimos que os parentes vivos mais próximos da Macrauchenia são os Perissodáctilos, grupo que inclui os cavalos, rinocerontes e antas", disse Hofreiter.

Assim, na árvore da vida, uma primeira divisão teria separado o ramo dos Cetartiodáctilos -  ao qual pertencem o camelo, a lhama, a girafa, o veado, os bovinos e os hipotótamos - do grupo que daria origem aos Carnívoros e aos Perissodáctilos. Os Carnívoros incluem os cães, lobos, ursos e felinos, enquanto os Perissodáctilos incluem o ricnoceronte, o cavalo, a anta e, agora, a Macrauchenia.

Abordagem alternativa. O DNA de animais extintos está frequentemente danificado, por isso as análises geralmente exigem que os cientistas completem as lacunas com materiais genéticos de espécies com parentesco evolutivo próximo. Mas, como as "relações familiares" da Macrauchenia eram desconhecidas, nesse caso foi preciso descobrir uma abordagem alternativa.

"Tínhamos um problema difícil de resolver, porque a Macrauchenia não tem nenhum parente realmente próximo entre os animais vivos. Tivemos então que usar uma abordagem que envolve o mapeamento interativo baseado no uso de parâmetros muito rigorosos e o DNA mitocondrial de várias espécies vivas, como referência múltipla para reconstruir as sequências genéticas mais prováveis dos fósseis", explicou outro dos autores, Mick Westbury, da Universidade de Postdam.

Com a nova abordagem, os cientistas conseguiram reconstituir quase 80% do genoma mitocondrial da Macrauchenia. Isso permitiu determinar sua posição filogenética - isto é, onde o animal se encaixa na árvore da vida - entre os Panperissodáctilos. Os ancestrais dos atuais membros do Perissodáctilos já existiam no início do Eoceno, há 55 milhões de anos. Os cientistas tiraram vantagem desse fato para calibrar um relógio molecular e determinar quando ocorreram os eventos de diferenciação  evolutiva.

Assim, os cientistas determinaram que a linhagem da Macrauchenia se separou dos Perissodáctlos modernos há cerca de 66 milhões de anos - mais ou menos na mesma época em que um meteoro caiu na península de Yucatán causando um dos maiores eventos de extinção de todos os tempos e varrendo os dinossauros da Terra.

A evidência molecular corrobora a hipótese de alguns paleontólogos, que acreditam que os ungulados da América do Sul tenham vindo da América do Norte há mais de 60 milhões de anos, provavelmente logo após a extinção em massa que acabou com os dinossauros não-aviários e muitos outros vertebrados. 

Fonte: Estadão

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Um "peixe fora d'água" nem sempre está deslocado de seu ambiente natural, como sugere o ditado popular. A evolução das espécies já registrou, há cerca de 400 milhões de anos, a passagem de algumas espécies do meio aquático para o o terrestre, em um processo que acabou, inclusive, dando origem aos seres humanos. Agora, um estudo da Universidade de Nova Gales do Sul, da Austrália, conduzido pelo cientista Terry Ord e publicado em The American Naturalist, demonstra que esse processo ainda pode ser presenciado com espécies de peixes blênios que possuem comportamento "anfíbio", ou seja, podem respirar fora da água em Rarotonga, a maior das Ilhas Cook, na Oceania, em um exemplo de "evolução em tempo real".

A equipe conduzida por Ord observou que os peixes blênios, nas águas do Pacífico Sul, quando a maré está baixa, geralmente são encontrados nadando nas bordas da ilha, em piscinas naturais que se formam nas rochas. Quando a maré sobe, porém, os animais se movem para as rochas secas e ali permanecem até que a maré baixe. A primeira hipótese aventada pelos pesquisadores para explicar o comportamento dos peixes blênios foi a de que, ao se deslocarem para um ambiente terrestre, os animais estariam se esquivando de predadores que surgem na maré alta como o linguado e o peixe-leão. Um teste, então, foi realizado com o intuito de confirmar esta hipótese: a equipe de cientistas instalou barreiras de plastilina na região onde vivem os peixes, de maneira que eles não pudessem se deslocar com a chegada da maré alta, obstruindo assim a "rota de fuga". O resultado comprovou a tese dos pesquisadores, já que os blênios, impedidos de fugirem dos predadores, acabaram sendo encontrados com ferimentos.

 

A vida em terra firme

 

Ao se deslocar da água para os rochedos, além de fugir de predadores, o peixe blênio encontra um ambiente favorável para sua reprodução e alimentação: buracos nas rochas servem de abrigo para os ovos e bactérias e algas incrustadas nestes rochedos são um "prato cheio" para este animal.

Segundo o estudo da Universidade de Nova Gales do Sul, várias espécies de peixes blênios já fizeram a transição completa de animais aquáticos para terrestres. Para isso, continuaram a respirar com as brânquias, mas desenvolveram barbatanas nas caudas mais fortes que lhes permitem saltar de rocha para rocha.

"Se você nunca olhar sobre a cerca, você nunca vai saber que a grama é mais verde", afirmou o cientista Terry Ord à New Scientist. "No entanto, se você for forçado ao outro lado para escapar de algo, você pode perceber que tem benefícios adicionais e quer ficar lá e se adaptar."

Fonte: UOL Noticias

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A organização independente Pew Center apurou que 65% dos adultos nos Estados Unidos acreditam que os humanos e demais seres vivos evoluíram ao longo do tempo, de acordo, portanto, com a teoria já consagrada do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Entre os norte-americanos não afiliados a igrejas, o percentual é mais ainda significativo, de 86%. Entre os religiosos, destacam-se os católicos brancos, 73% deles creem na teoria da evolução. Na sequência vêm os protestantes (71%) e os católicos hispânicos (59%). Do total dos 2.000 adultos entrevistados em agosto de 2014, 31% demonstraram ser criacionistas. Apesar dos estudos de fósseis, eles acreditam que os seres vivos de hoje são do mesmo jeito em relação ao seu primeiro dia após serem criados por Deus. A maioria (59%) da população acha que ciência e religião entram às vezes em conflito entre si. Parte dos religiosos não tem a mesma percepção. Do total deles, 38% acham que não há incompatibilidade entre religião e ciência.  Do total dos não filiados a nenhuma religião, 61% dão credibilidade à teoria de que o universo foi criado pelo “bing bang”.

Fonte: Paulopes

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Quando o tema são buracos negros, os estranhos hábitos sexuais dos insetos ou se o que tem na sua geladeira causa/cura câncer, não tem polêmica: quase todo mundo solta um "uau, a ciência é fantástica, não, minha gente?". Mas é falar em teoria da evolução, de Charles Darwin, e metade do público parece entrar em pânico, no modo "não é bem assim, minha gente".

Pesquisa de Darwin não
concluiu que evolução
é a lei do mais forte 

O fato é que Hollywood, os quadrinhos e os videogames também fazem um baita trabalho em deseducar as pessoas sobre a teoria mais importante da biologia. A seguir, algumas das bobagens que pipocam em qualquer conversa sobre evolução - e já passaram da hora de serem enterradas.

 

1) É só uma teoria


Sim, a evolução é "só" uma teoria. Assim como a relatividade, a ideia de que a Terra gira em torno do Sol (heliocentrismo) e a teoria dos germes, que diz que doenças podem ser causadas por bactérias e vírus. Teoria, em ciência, não é o mesmo que a "teoria" do dono do boteco de que jogadores de futebol de canelas grossas são piores que os de canelas finas. Uma teoria científica é uma explicação abrangente e amplamente aceita para fatos sólidos e bem conhecidos. No caso da moderna teoria da seleção natural, esse fato é a evolução. Pois é, fato. Já se sabia da evolução muito antes de Darwin - a primeira teoria da evolução, o lamarckismo, surgiu no ano de seu nascimento, em 1809. O que torna a evolução um fato observável é que os animais de hoje não são iguais aos do passado, o que sabemos pelo registro fóssil, e que não existiam animais como os de hoje no passado. Isso quer dizer que os animais se modificaram. Evoluíram. Darwin só explicou como. Outra variação desse argumento é dizer que não é "lei", como a da gravidade. Leis, na verdade, são menores que teorias. Elas descrevem o que se esperar de uma situação muito específica - por exemplo, um objeto caindo. Teorias explicam o porquê, e contém as leis.


2) Evolução é contra a religião


A evolução pode não bater com o literalismo bíblico, acreditar que as coisas foram palavra por palavra como no Livro do Gênesis e o resto da Bíblia. Mas até aí, também não batem com isso a geologia, a genética, a astronomia, a arqueologia, a paleontologia, a história... enfim, com todo o respeito à fé de cada um, a realidade. A maioria dos cristãos - inclusive a maioria dos brasileiros - não é assim. Eles não enxergam problema nenhum em acreditar em Deus e Darwin ao mesmo tempo, lendo a Bíblia mais como uma metáfora. De fato, essa é a posição oficial da Igreja Católica desde o papa Pio XII, e foi bastante reforçada por João Paulo II e seus sucessores. Para o fiel, a evolução pode ser entendida como o plano de Deus. Sem crise.

 

3) A evolução é a lei do mais forte

A seleção natural - cujo resultado é a evolução, não vamos confundir as duas coisas - favorece o mais apto. E mais apto significa quem se reproduz melhor e deixa mais descendentes, nada além disso. Quando a comida é escassa, por exemplo, ser menor (e gastar menos energia) pode ser uma vantagem. De nada adianta ser grandalhão e malvado e morrer de fome - isso não gera descendentes. Não que a seleção natural não seja implacável de outra maneira. Pela amplamente aceita teoria do gene egoísta, ela trata pura e exclusivamente da reprodução num nível genético, não de espécie e nem de indivíduo. O indivíduo que se lixe. É por isso que existem coisas como genes letais, que fazem com que vários animais morram após se reproduzirem. Passou o gene, venceu.

 

4) Organismos ficam "mais avançados" com a evolução

Assim como a seleção natural pode fazer mal aos indivíduos, se isso ajudar os genes, ela não necessariamente leva a seres que acharíamos mais complexos, interessantes, bonitos, inteligentes - enfim, mais como a gente. Não existe plano na evolução. Animais que um dia foram capazes de voar - o que tem algo de poético para nós - deixam de ser quando não existe mais pressão seletiva para que isso aconteça. Um caso interessantíssimo é o dos tunicados, seres marinhos às vezes bem bonitos, lembrando vasos de flores. Eles basicamente não tem cérebro ou órgãos dos sentidos e vivem como esponjas, os seres multicelulares mais simples que existem, fixos ao solo marinho e filtrando plâncton. Só que eles têm um segredo - são parentes distantes de nós. Em seu passado evolutivo, eles se pareciam com peixes e tinham cérebro, nadando livremente. De fato, eles ainda são assim em sua fase larval, o que faz com que sejam chamados de "animal que come o próprio cérebro". No caso deles, a evolução decidiu que o cérebro era dispensável.O ser humano que se cuide, aliás: desde a Idade da Pedra, nosso cérebro vem diminuindo.

 

5) Alguns animais - e gente - pararam de evoluir


Não corremos mais do leão nem precisamos matar uma mamute com a força dos próprios braços. Podemos passar o dia inteiro em frente à TV e ainda assim levar adiante os nossos genes. Sem essa pressão, será que a evolução parou? Enquanto algumas pessoas tiverem mais filhos que as outras, não. Cientistas discutem em qual direção estamos evoluindo agora, com alguns apontando coisas como uma menopausa mais tardia. O que é certeza é que não estamos criando um cabeção alienígena supergênio. Só seria assim se gente como Stephen Hawking e Neil DeGrasse Tyson fossem os maiores ricardões do planeta. Outra coisa interessante: os ditos "fósseis vivos", bichos que praticamente não mudaram por milhões de anos. O fascinante neles é que não mudam porque a evolução não parou. Mutações acontecem o tempo todo - se um bicho mantém a mesma forma, é porque a evolução está filtrando essas mutações fora. Evitando que mude. Por isso que não existe bicho mais ou menos evoluído. Em time que está ganhando, não se mexe.
 
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1. Vc acredita que o DNA é o material genético dos seres vivos?

2. Vc acredita que o DNA possa sofrer mutações ao acaso (alteração na sequência de bases nitrogenadas) devido a fatores físicos, químicos ou até mesmo biológicos?

3. Vc acredita que essas mutações possam modificar o produto de genes (proteínas ou enzimas) de uma célula, gerando novas variedades de genes (também chamadas de alelos)?

4. Vc acredita que essas modificações possam levar ao surgimento de novas funções, e, consequentemente, novas características (observáveis ou não)?

5. Vc acredita que se essas mutações ocorrerem em células gaméticas, elas serão passadas aos descendentes de uma linhagem dentro de uma população?

6. Vc acredita que a inclusão de novas variedades de diferentes genes, em diferentes linhagens, promovam uma DIVERSIDADE GENÉTICA nessa população?

7. Vc acredita que dentre as diferentes características, existem aquelas vantajosas e aquelas desvantajosas para um determinado ambiente no qual os indivíduos se encontram?

8. Vc acredita que indivíduos com características muito desvantajosas (deletérias) possam vir a ser eventualmente eliminados dentro dessa população?

9. Vc acredita que essas eliminações acabem alterando a frequência genética dessa população, aumentando a frequência daqueles alelos que conferem características vantajosas?

10. Vc acredita que se parte dessa população se separar e/ou se mudar para um novo ambiente diferente (mantendo-se isolada) tais eventos descritos acima continuarão acontecendo em ambas?

11. Vc acredita que à longo prazo isso possa mudar significativamente a constituição genética dessas duas populações isoladas?

12. Vc acredita que o acúmulo dessas diferenças chegue ao ponto de fazer com que esses indivíduos não possam mais se cruzar e gerar descendentes férteis (caso entrem em contato novamente)?

13. Vc acredita que essas duas populações se tornaram espécies diferentes?

14. Vc acredita que esses eventos possam seguir acontecendo ao longo de milhões de anos, originando espécies derivadas de outros espécies, e assim sucessivamente?

15. Vc acredita que todas essas espécies compartilhem um certo grau de semelhança na sequência de seu DNA, maior ou menor, dependendo do tempo em que elas se separaram?

16. Vc acredita que através da biotecnologia seja possível extrair DNA de TODAS as espécies e realizar sequenciamento de bases nitrogenadas?

17. Vc acredita que através da bioinformática seja possível analisar a distância genética entre TODAS as espécies, com base em alinhamento e modelos estatísticos, gerando árvores filogenéticas?

18. E finalmente, diante de tudo isso, você acredita em Evolução?

 

 

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Uma versão atualizada do genoma do gorila, publicada na última edição da revista Science, mostra que eles são ligeiramente mais parecidos conosco do que se acreditava. As divergências genéticas entre as duas espécies são de meros 1,6%. Apenas chimpanzés e bonobos são ainda mais semelhantes a nós que os gorilas. O novo sequenciamento pode ajudar os cientistas a compreender melhor a biologia humana e ter novas informações sobre como nossa espécie humana evoluiu e se diferenciou dos grandes macacos.

Quem ajudou os cientistas a revisar a sequência genética do gorila, que foi mapeada pela primeira vez em 2012, mas apresentava diversas lacunas, foi Susie, uma gorila de 11 anos do Zoológico e Aquário de Columbus em Ohio, nos Estados Unidos. Os pesquisadores da Universidade de Washington, usaram amostras de seu DNA como referência para fazer o sequenciamento completo da espécie. O estudo revela que algumas áreas de diferenças genéticas são os sistemas reprodutivo e imunológico, a percepção sensorial, a produção de queratina (uma proteína chave para a estrutura de cabelo, unhas e pele) e a regulagem de insulina, o hormônio que controla os níveis de açúcar no sangue. "As diferenças entre as espécies podem ajudar os pesquisadores a identificar regiões do genoma humano que são associadas com melhor cognição, linguagem complexa, comportamento e doenças neurológicas", disse o pesquisador Christopher Hill, da Universidade de Washington, um dos autores do estudo. "Ter genomas de referência completos e precisos para comparações permite que os pesquisadores descubram essas diferenças."

Diferenças genéticas - O laboratório da Universidade de Washington trabalha para criar um catálogo das diferenças genéticas entre humanos e grandes macacos como gorilas, orangotangos, chipanzés e bonobos. O novo sequenciamento usa pedaços mais amplos do genoma do gorila, em torno de 800 vezes maiores que os do antigo estudo. De acordo com os pesquisadores, 90% das lacunas genéticas foram preenchidas. Com essas novas informações, os autores buscam compreender como nossos ancestrais evoluíram e se tornaram tão diferentes dos grandes macacos. Diferenças em como os genes são controlados, faltas ou falhas genéticas podem ajudar na compreensão desse processo. Estudos recentes estimam que as linhas evolutivas dos gorilas e dos humanos se separaram entre 12 milhões e 8,5 milhões de anos atrás, segundo Hill.

Ameaça - Os gorilas, que costumam ser encontrados nas florestas da África central, são os maiores primatas do mundo. Um adulto macho pode alcançar 200 quilos. As populações de gorila estão ameaçadas por atividades humanas como a destruição do seu habitat e a caça.

Fonte: Veja

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Um grupo de pesquisadores apresentou nesta quinta-feira (10) na África do Sul os remanescentes fósseis de um primata que podem ser de uma espécie do gênero humano desconhecida até agora. A criatura foi encontrada na caverna conhecida como Rising Star (estrela ascendente), 50 km a nordeste de Johanesburgo, onde foram exumados os ossos de 15 hominídeos. O primata foi batizado de Homo naledi. Em língua sotho, "naledi" significa estrela, e Homo é o mesmo gênero ao qual pertencem os humanos modernos. Os fósseis foram encontrados em uma área profunda e de difícil acesso da caverna, na área arqueológica conhecida como "Berço da Humanidade", considerada patrimônio mundial pela Unesco. Por se situar num depósito sedimentar onde as camadas geológicas se misturam de maneira complexa, os cientistas ainda não conseguiram datar o primata descoberto, que poderia ter qualquer coisa entre 100 mil e 4 milhões de anos.

Em 2013 e 2014, os cientistas encontraram mais de 1.550 ossos que pertenceram a, pelo menos, 15 indivíduos, incluindo bebês, adultos jovens e pessoas mais velhas. Todos apresentavam uma morfologia homogênea e pertenciam a uma "nova espécie do gênero humano que era desconhecida até então". O Museu de História Natural de Londres classificou a descoberta como extraordinária. "Alguns aspectos do Homo naledi, como suas mãos, seus punhos e seus pés, estão muito próximos aos do homem moderno. Ao mesmo tempo, seu pequeno cérebro e a forma da parte superior de seu corpo são mais próximos aos de um grupo pré-humano chamado australopithecus", disse Chris Stringer, pesquisador do Museu de História Natural de Londres, autor de um artigo sobre o tema que acompanhou o estudo de Berger, publicado no periódico científico eLife. "Estou feliz de apresentar uma nova espécie do ancestral humano", declarou Lee Berger, pesquisador da Universidade Witwatersrand de Johannesburgo, numa entrevista coletiva em Moropeng, onde fica o "Berço da Humanidade".

A descoberta pode permitir uma compreensão melhor sobre a transição, há milhões de anos, entre o australopiteco primitivo e o primata do gênero homo, nosso ancestral direto. Se for muito antiga, com mais de 3 milhões de anos, a espécie teria convivido com os australopitecos, anteriores ao gênero homo. Se for mais recente, com menos de 1 milhão de anos, é possível que tenha coexistido com os neandertais -- primos mais próximos do Homo sapiens -- ou até mesmo com humanos modernos. Os trabalhos que levaram à descoberta foram patrocinados pela National Geographic Society, dos EUA, e pela Fundação Nacional de Pesquisa da África do Sul.

Fonte: Portal G1

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O biólogo britânico Richard Dawkins (foto), 74, respondeu “sim” ao ser questionado se “o ateísmo é a extensão lógica da crença na evolução”. Admitiu que, quanto a isso, nem todos concordam com ele. “O ponto fundamental da evolução é que ela explica como você pode ir de uma simplicidade primordial (que não precisa de explicação, ou precisa muito pouco) até alturas de prodigiosas complexidade (que, definitivamente, precisam de uma explicação).” Em entrevista por e-mail ao "Zero Hora", Dawkins se defendeu das acusações de que seja um militante “destemperado” do ateísmo. Argumentou que fala mais sobre ateísmo do que ciência por causa do interesse dos jornalistas que o entrevistam. Também falou sobre a influência que a teoria da evolução teve em sua vida, da popularidade do chamado “novo ateísmo”, do fanatismo religioso do século 21, da possível associação entre a programação genética e a fé, e da espiritualidade sem Deus. Segue a entrevista.

Qual sua primeira lembrança ligada à descoberta da ciência como uma paixão e um caminho a trilhar?


Acho que foi quando compreendi pela primeira vez, claramente, o poder da seleção natural darwiniana para explicar tudo a respeito da vida. A seleção natural é uma ideia surpreendentemente simples depois que você a compreende, mas ainda assim tem a capacidade de explicar questões muito complexas. Além disso, a humanidade demorou até o século 19 para conseguir entendê-la – o que também é muito surpreendente, dada a simplicidade da ideia.

 

O senhor acredita que hoje é mais fácil ou mais difícil despertar o interesse do público leigo em geral para a ciência? 


Quanto mais se compreende a ciência, mais fácil se torna interessar-se por ela. Porque quando entendemos alguma coisa só temos que explicar o princípio. Antes que compreendamos o princípio, os fatos que o explicam parecem ser todos desconexos, difíceis de transmitir e difíceis de guardar na memória. Por outro lado, nos dias de hoje, existem hostilidades e resistências à ciência aumentando em certos grupos de pessoas.

 

Desde a publicação do livro "Deus: Um Delírio", o senhor tem sido cada vez mais convidado a falar sobre ateísmo, tornando-se quase um porta-voz da causa ateísta no mundo todo. Como o senhor divide seu tempo entre esses dois papéis, o de cientista e o de orador público? 


Passo mais tempo escrevendo do que falando em público. Hoje em dia, quando falo em público, frequentemente sou entrevistado no palco, então eu vou até onde as perguntas me levam. O que parece ser o caso é que as perguntas, inclusive aquelas feitas pelo público em geral, são muito frequentemente sobre religião. Muitas vezes me sinto aliviado quando recebo uma pergunta sobre ciência.

 

O senhor acredita que o ateísmo é a extensão lógica da crença na evolução? 


Acredito, mas devo dizer que nem todo mundo concorda. O engraçado é que são os cristãos fundamentalistas os que concordam comigo. Teólogos sofisticados não têm nenhum problema em conciliar a religião com a evolução. Os fundamentalistas têm, e eu concordo com eles, embora por motivos diferentes. A razão deles é que a evolução entra em conflito com seu livro sagrado. A minha razão é: o ponto fundamental da evolução é que ela explica como você pode ir de uma simplicidade primordial (que não precisa de explicação, ou precisa muito pouco) até alturas de prodigiosas complexidade (que, definitivamente, precisam de uma explicação). E a evolução fornece essa explicação. Deuses criadores teriam que ser entes muito complexos e, portanto, requerem, por direito próprio, uma explicação – uma explicação que os religiosos não têm.

 

O senhor pensa que o aumento da popularidade do novo ateísmo em anos recentes está diretamente ligado à ascensão do fanatismo pós-11 de Setembro? Ou as pessoas estão simplesmente mais confortáveis em se declarar ateias? 


Acho que um pouco de ambas as coisas. Elas caminham juntas.

 

Por que o fanatismo religioso ainda é um assunto tão sensível em muitas partes do mundo em pleno século 21? 


Uma razão presumida é que as pessoas se identificam com a sua religião quase como se fosse parte de sua personalidade. Elas se sentem pessoalmente insultadas se você insultar sua religião, como se você dissesse que elas têm um rosto feio! Eu simpatizo com o sentido de identidade, e entendo por que as pessoas gostam de celebrar rituais que pertencem à sua cultura, sejam festividades cristãs como o Natal, judaicas, como o Pessach, ou muçulmanas, como o Eid al-Fitr. Mas enquanto posso facilmente aceitar a identidade cultural nesse sentido, não posso respeitar as crenças que vêm agarradas a ela a respeito do mundo real quando são manifestamente falsas (como o criacionismo), ou para as quais não há nenhuma boa evidência (tais como milagres), simplesmente porque elas também são parte de uma cultura. Você pode dizer: “Sou um cristão que gosta de celebrar o Natal” ou “Sou um judeu que gosta de celebrar o Pessach”, e isso é bom. Mas se você diz: “Creio que Jesus nasceu de uma virgem, e não tenho nenhuma razão melhor do que o fato de que é isso que diz a minha tradição cultural”, aí é ir longe demais. Crenças sobre fatos deveriam ser baseadas apenas em provas e evidências, não em tradição, livros sagrados ou autoridade sacerdotal.

 

A religião tem sido uma ideia muito persistente na história humana. Há uma possibilidade de que haja algum tipo de programação genética para a fé, como alguns pesquisadores, como Paul Bloom, por exemplo, parecem acreditar? 

Sim, mas eu prefiro dizer programação genética para uma predisposição psicológica à religião, em vez de para a própria religião.

 

Qual sua opinião sobre a ideia de “espiritualidade sem Deus”, expressa em livros de autores como Sam Harris e Alain de Botton? 


Não tenho nenhum problema com ela, embora não seja uma ideia que ressoe comigo pessoalmente.

 

Em uma entrevista em 2013, quando esteve em Porto Alegre no Fronteiras do Pensamento, a historiadora Karen Armstrong declarou que se sentia desconfortável com o “destempero” de seus “ataques contra a religião e contra aqueles que acreditam em uma”. Para ela, o senhor “denuncia a intolerância religiosa, mas corre o risco de se tornar intolerante”. No mesmo ano, o senhor deu uma entrevista ao jornal inglês The Guardian, no qual dizia que não pensava em si mesmo como alguém “estridente ou agressivo”. O senhor se considera mal interpretado? 


Se você ler Deus: Um Delírio, vai descobrir que não é, realmente, um livro destemperado. Ele tem essa reputação porque, na nossa cultura, nos tornamos tão acostumados a tratar a religião com “respeito” exagerado que mesmo um exame crítico suave e sóbrio de ideias religiosas soa destemperado. É verdade que o significado do que escrevo está expresso claramente, e para algumas pessoas a própria clareza soa ameaçadora. A própria Karen Armstrong faz tudo o que pode para ser tão obscura quanto possível, por isso não me surpreendo ao saber que ela considera a clareza “destemperada”. Ela escreve de modo tão pouco claro que provavelmente pensa que qualquer pessoa que diz claramente o que pensa representa uma ameaça.

 

Um conceito criado originalmente pelo senhor em "O Gene Egoísta", o “meme”, ganhou vida nos últimos anos na internet, com um sentido um pouco diferente. O que o senhor pensa disso? 

Eu apresentei o meme como uma analogia para o gene, para ilustrar o argumento de que a seleção natural de Darwin pode, em princípio, funcionar com qualquer informação codificada autorreplicante. Memes são unidades de hereditariedade cultural – unidades que são copiadas de mente para mente –, e elas têm a capacidade de funcionar como genes em uma forma de seleção natural darwiniana. Jovens na internet adotaram a palavra para um subconjunto específico de memes, ou seja, imagens com uma mensagem simples escrita por cima. Não tenho nenhuma grande objeção, só digo que eles estão perdendo muito em ficar só nisso.

Fonte: Paulo Lopes

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A maioria dos biólogos aceitam como certa a ideia de que toda a vida evoluiu pela seleção natural ao longo de bilhões de anos. Eles pesquisam e ensinam em disciplinas que têm essa ideia como base, seguros de que a seleção natural é um fato, da mesma forma que é um fato que a Terra orbita o Sol. Visto que os conceitos e realidades da evolução de Darwin ainda estão sob ataque, embora raramente por biólogos, um resumo sucinto sobre o porquê de a evolução pela seleção natural ser um princípio empiricamente validado é útil para as pessoas terem à mão. Oferecemos aqui 15 exemplos publicados pela Nature ao longo da década passada para ilustrar a extensão, a profundidade e o poder do pensamento evolutivo.

 

1 - Ancestrais terrestres das baleias

 

Os fósseis oferecem pistas cruciais para a evolução, porque revelam as formas frequentemente notáveis de criaturas há muito desaparecidas na Terra. Alguns deles até documentam a evolução em ação, ao registrar criaturas em trânsito entre um ambiente e outro. Baleias, por exemplo, estão belamente adaptadas à vida na água, e têm sido assim por milhões de anos. Mas como nós, são mamíferos. Elas respiram ar, dão à luz e amamentam seus filhotes. Mas há boas evidências de que os mamíferos evoluíram originalmente sobre a terra seca. Se é assim, então os ancestrais das baleias devem ter se mudado para a água em algum momento. Acontece que temos fósseis numerosos dos aproximadamente dez milhões de anos iniciais da evolução das baleias. Nesses se incluem vários fósseis de criaturas aquáticas comoAmbulocetus e Pakicetus, que têm características agora vistas apenas em baleias - especialmente a anatomia do ouvido interno - mas também têm membros como os dos mamíferos terrestres dos quais eles claramente derivaram. Tecnicamente, essas criaturas híbridas já eram baleias. O que estava faltando era o começo da história: as criaturas terrestres das quais as baleias evoluíram mais tarde. Um trabalho publicado em 2007 pode ter apontado com precisão este grupo. Chamados de raoelídeos, essas criaturas agora extintas seriam parecidas com pequenos cachorrinhos, mas eram mais intimamente relacionadas aos ungulados com número par de dedos [artiodáctilos] - o grupo que inclui vacas, ovelhas, veados, porcos e hipopótamos modernos. Evidências moleculares também sugeriram que baleias e ungulados com número par de dedos compartilham uma profunda afinidade evolutiva. O estudo detalhado de Hans Thewissen e colaboradores em NEOUCOM, Rootstown, mostra que um raoelídeo, Indohyus, é similar às baleias, mas diferente de outros artiodáctilos em relação à estrutura de seus ouvidos e dentes, à espessura de seus ossos e à composição química de seus dentes. Esses indicadores sugerem que essa criatura do tamanho de um guaxinim passava bastante tempo na água. Raoelídeos típicos, entretanto, têm uma dieta bem diferente da dieta das baleias, o que sugere que o estímulo para a mudança para a água pode ter sido a mudança de dieta. Esse estudo demonstra a existência de potenciais formas transicionais no registro fóssil. Muitos outros exemplos poderiam ter sido ressaltados, e há toda razão para se pensar que muitos outros estão para serem descobertos, especialmente em grupos que estão bem representados no registro fóssil.

 

2 - Da água para a terra

 

De todos os animais, estamos mais familiarizados com os tetrápodos - eles são vertebrados (têm coluna vertebral) e vivem sobre a terra. Incluem-se nisso humanos, quase todos os animais domésticos e a maioria dos animais selvagens que uma criança reconheceria imediatamente: mamíferos, aves, anfíbios e répteis. A vasta maioria dos vertebrados, entretanto, não é de tetrápodos, mas de peixes. Há mais tipos de peixes, na verdade, que todas as espécies de tetrápodos somadas. De fato, pela lente da evolução, os tetrápodos são apenas mais um ramo da árvore genealógica dos peixes, um ramo cujos membros são adaptados para a vida fora da água. A primeira transição da água para a terra aconteceu há mais de 360 milhões de anos. Foi uma das transições que necessitou de algumas das maiores mudanças já feitas na história da vida. Como nadadeiras se tornaram pernas? E como as criaturas transicionais lidaram com as formidáveis exigências da vida terrestre, da secura do ambiente à esmagadora gravidade? Pensava-se que os primeiros terrícolas foram peixes que se encalhavam e evoluíram de modo a passar mais e mais tempo em terra firme, voltando à água para se reproduzirem. Ao longo dos últimos 20 anos, paleontólogos desenterraram fósseis que viraram essa ideia de cabeça para baixo. Os tetrápodos mais antigos, tais como o Acanthostega da Groenlândia oriental de cerca de 365 milhões de anos atrás, tinham pernas completamente formadas, com dedos, mas retiveram brânquias internas que se secariam facilmente se fossem expostas por muito tempo ao ar. Os peixes evoluíram pernas muito tempo antes de subirem à terra. Os tetrápodos mais antigos passaram a maior parte de sua evolução no ambiente aquático mais clemente. Subir à terra parece ter sido a última etapa. Os pesquisadores suspeitam que os ancestrais dos tetrápodos eram criaturas chamadas elpistostegídeos. Esses peixes grandes, carnívoros de água rasa, se pareceriam bastante (até no comportamento) com jacarés ou salamandras gigantes. Eles aparentavam ser tetrápodos em muitos aspectos, exceto pelas nadadeirasque ainda tinham. Até recentemente, os elpistostegídeos eram conhecidos apenas por pequenos fragmentos de fósseis pobremente preservados, então foi difícil completar um esboço de como eles eram. De poucos anos atrás até aqui, várias descobertas na ilha Ellesmere na região de Nunavut no norte do Canadá mudaram tudo isso. Em 2006, Edward Daeschler e seus colaboradores descreveram fósseis espetacularmente bem preservados de um elpistostegídeo conhecido como Tiktaalik, que nos permite reconstruir uma boa imagem de um predador aquático com similaridades distintas com os tetrápodos - de seu pescoço flexível à sua estrutura de barbatana semelhante a um membro. A descoberta e a análise exaustiva do Tiktaalik iluminam a etapa anterior à evolução dos tetrápodos, e mostram como o registro fóssil é uma caixa de surpresas, embora as surpresas sejam completamente compatíveis com o pensamento evolutivo.
 
 
 
3 - A origem das penas
 
 
 
Uma das objeções à teoria da evolução de Charles Darwin era a ausência de 'formas transicionais' no registro fóssil - formas que ilustrassem a evolução em ação, de um grande grupo de animais para outro. Entretanto, quase um ano após a publicação de Origem das Espécies, uma pena isolada foi achada no Jurássico Superior do calcário litográfico de Solnhofen (com idade de cerca de 150 milhões de anos), na Bavária. Em seguida, em 1861, foi encontrado o primeiro fóssil de Archaeopteryx, uma criatura com muitas características reptilianas primitivas, tais como dentes e uma longa cauda óssea, mas com asas e penas de voo, exatamente como uma ave. Embora o Archaeopteryx fosse comumente visto como a primeira ave conhecida, muitos suspeitaram que ele fosse melhor descrito como um dinossauro com penas. Thomas Henry Huxley, colega e amigo de Darwin, discutiu a possível ligação evolutiva entre dinossauros e aves, e paleontólogos especularam, talvez com ousadia, que dinossauros com penas poderiam ser achados um dia. Nos anos 80 [do século XX], depósitos do período do Cretáceo Inferior (cerca de 125 milhões de anos atrás) na província de Liaoning no norte da China sustentaram essas especulações da forma mais dramática, com descobertas de aves primitivas em abundância - junto com dinossauros com penas e com plumagem semelhante e penas. Começando com a descoberta do pequeno terópode Sinosauropteryx por Pei-ji Chen e colaboradores, do Instituto Nanjing de Geologia e Paleontologia da China, uma variedade de formas cobertas por penas foram encontradas em seguida. Muitos desses dinossauros com penas não podiam possivelmente voar, mostrando que as penas evoluíram primeiramente por outras razões que não o voo, possivelmente para displays sexuais [como faz o pavão] ou isolamento térmico, por exemplo. Em 2008, Fucheng Zhang e seus colegas da Academia Chinesa de Ciências em Pequim anunciaram a bizarra criatura Epidexipteryx, um pequeno dinossauro coberto por uma plumagem macia e dotado de quatro longas plumas em sua cauda. Os paleontólogos agora começam a pensar que suas especulações não eram ousadas o bastante, e que as penas eram na verdade bem comuns nos dinossauros. A descoberta de dinossauros com penas não só apoiou a ideia das formas transicionais, como também mostrou que a evolução tem maneiras de fazer surgir uma fascinante variedade de soluções quando não fazíamos nem ideia de que havia problemas. O voo pode ter sido nada mais que uma oportunidade adicional que se apresentou a criaturas já revestidas por penas.
 
 
 
4 - A história evolutiva dos dentes
 

 

Uma motivação para o estudo do desenvolvimento é a descoberta de mecanismos que guiam a mudança evolutiva. Kathryn Kavanagh e seus colaboradores, da Universidade de Helsinki, investigaram justamente isso observando os mecanismos por trás dotamanho relativo enúmero de dentes molares em camundongos. A pesquisa, publicada em 2007, desvendou o padrão de expressão dos genes que governam o desenvolvimento dos dentes - os molares emergem da parte da frente para a parte de trás, com cada novo dente sendo menor que o último a emergir. A beleza deste estudo está em sua aplicação. O modelo dos pesquisadores prevê os padrões de dentição encontrados em espécies de roedores semelhantes aos camundongos, com várias dietas, fornecendo um exemplo de evolução ecologicamente guiada por uma trajetória favorecida no desenvolvimento. Em geral, o trabalho mostra como o padrão de expressão gênica pode ser modificado durante a evolução para produzir mudanças adaptativas em sistemas naturais.

 

5 - A origem do esqueleto dos vertebrados

 

Devemos muito do que nos faz humanos a um notável tecido chamado crista neural, encontrado apenas em embriões.As células da crista neural emergem da medula espinhal prematura e migram para todo o corpo, efetuando uma série de transformações importantes. Sem a crista neural, não teríamos a maioria dos ossos em nossa face e pescoço, e muitas das características de nossa pele e de nossos órgãos sensoriais. A crista neural parece ser exclusiva dos vertebrados, e ajuda a explicar por que os vertebrados têm 'cabeças' e 'faces' distintas. Desvendar a história evolutiva da crista neural é especialmente difícil em formas fósseis, pois dados embrionários estão obviamente ausentes. Um mistério crucial, por exemplo, é saber quanto do crânio dos vertebrados provém da contribuição das células da crista neural e quanto vem de camadas mais internas de tecido. Novas técnicas permitiram aos pesquisadores rotular e acompanhar células individuais enquanto os embriões se desenvolviam. As técnicas revelaram, até o nível das células individuais, que as bordas dos ossos do pescoço e do ombro derivam da crista neural. O tecido derivado da crista neural ancora a cabeça na superfície anterior da cintura escapular, enquanto o esqueleto que forma a parte de trás do pescoço e dos ombros [escápulas e clavículas] cresce de uma camada mais interna de tecido chamada mesoderme. Tal mapeamento detalhado, em animais vivos, esclarece a evolução de estruturas em cabeças e pescoços de animais extintos há tempos, mesmo sem tecido mole fossilizado,como pele e músculo. Similaridades de esqueleto que resultam de uma história evolutiva compartilhada podem ser identificadas nas marcas de inserção musculares [nos ossos]. Isso permite delinear, por exemplo, a localização do maior osso do "ombro" de ancestrais terrestres extintos dos vertebrados, o cleitro. Esse osso parece sobreviver até hoje na forma de parte da escápula em mamíferos viventes. Esse tipo de exame evolutivo pode ter relevância clínica imediata. As partes do esqueleto identificadas como derivadas da crista neural, por Toshiyuki Matsuoka e seus colaboradores no Instituto Wolfson para Pesquisa Biomédica em Londres, são especificamente afetadas em várias doenças do desenvolvimento em humanos, o que permite esclarecimentos sobre suas origens. O estudo de Matsuoka mostra como uma análise detalhada da morfologia dos animais viventes, informada pelo pensamento evolutivo, ajuda os pesquisadores a interpretar formas fossilizadas e extintas.

 

6 - Seleção natural na especiação

 

A teoria evolutiva prevê que a seleção natural disruptiva terá frequentemente um papel principal na especiação. Trabalhando com esgana-gatas (Gasterosteus aculeatus [peixes da família Gasterosteidae]), Jeffrey McKinnone seus colaboradores,na Universidade de Wisconsin em Whitewater, relataram em 2004 que o isolamento reprodutivo pode evoluir como um subproduto da seleção sobre o tamanho do corpo. Esse trabalho fornece um vínculo entre o estabelecimento do isolamento reprodutivo e a divergência de uma característica ecologicamente importante. O estudo foi feito numa escala geográfica extraordinária, envolvendo testes de acasalamento entre peixes coletados no Alasca, Colúmbia Britânica, Islândia, Reino Unido, Noruega e Japão; e se sustentou em análises de genética molecular que forneceram sólidas evidências de que os peixes que se adaptaram a viver em cursos d'água evoluíram repetidamente de ancestrais marinhos, ou de peixes que vivem no oceano mas retornam à água doce para reprodução. Tais populações migratórias no estudo tinhamem médiacorpos maiores se comparadas às que vivem em cursos d'água. Os indivíduos tenderam a se acasalar com peixes de tamanho similar ao seu, o que serve bem para o isolamento reprodutivo entre diferentes ecótipos[populações geneticamente singulares adaptadas a seu ambiente local]de cursos d'água e seus vizinhos próximos de vida marítima. Levando em consideração as relações evolutivas, uma comparação dos vários tipos de esgana-gata, quer de cursos d'água ou marinhos, apóia fortemente a visão de que a adaptação a diferentes ambientes acarreta o isolamento reprodutivo. Os experimentos dos pesquisadores confirmaram também a conexão entre divergência de tamanho e o estabelecimento de isolamento reprodutivo, embora outras características além do tamanho também contribuam para o isolamento reprodutivo em alguma medida.

 

7 - Seleção natural em lagartos

 

Uma hipótese evolutiva popular diz que mudanças comportamentais em novos ambientes anulam os efeitos da seleção natural. Mas o trabalho de Jonathan Losos e seus colaboradores na Universidade de Harvard, em 2003, empresta pouco apoio a essa teoria. Os pesquisadores introduziram um grande lagarto terrícola e predador, Leiocephalus carinatus, a seis ilhas pequenas nas Bahamas, com seis outras ilhas servindo como controle. Descobriram que a presa desse lagarto, que é um lagarto menor chamado Anolis sagrei, passava mais tempo em maiores alturas na vegetação de ilhas ocupadas pelo predador do que em ilhas onde L. carinatusestava ausente. Mas a mortalidade de A. sagrei continuou mais alta nas ilhas experimentais que nas ilhas controle. A presença do predador maior selecionou em favor de machos de lagarto A. sagreicom pernas mais altas, que podem correr mais rápido, e também favoreceu fêmeas maiores, que são tanto mais rápidas quanto mais difíceis de vencer e de ingerir. Os pesquisadores não detectaram seleção de tamanho em machos; sugeriram que os machos maiores podem ter sido mais vulneráveis por causa de seu comportamento territorial conspícuo. O estudo mostra como a introdução de um predador pode fazer com que os indivíduos de uma espécie predada mudem seu comportamento de modo a reduzir o risco de predação, mas também causa uma resposta evolutiva no nível da população, resposta que difere entre os sexos de acordo com sua ecologia.

 

8 - Um caso de coevolução

 

As espécies evoluem juntas, e em competição. Predadores evoluem sempre armas e habilidades mais letais para caçarem suas presas, que por sua vez, como resultado da canônica 'luta pela existência' de Darwin, se tornam melhores em escapar, e então a corrida armamentista continua. Em 1973, o biólogo evolutivo Leigh Van Valen comparou essa corrida ao comentário da Rainha Vermelha para Alice em "Alice no País do Espelho", de Lewis Carroll: "é preciso correr o máximo que pode, para continuar no mesmo lugar. Se você quer chegar a outro lugar, precisa correr pelo menos duas vezes mais rápido que isso!" Nascia a hipótese da 'Rainha Vermelha', sobre a coevolução. Um problema em estudar a dinâmica de Rainha Vermelha é que essa dinâmica só pode ser vista no eterno presente. Descobrir sua história é problemático, porque a evolução geralmente eliminou todos os estágios anteriores. Felizmente, Ellen Decaestecker e seus colegas, na Universidade Católica de Leuven na Bélgica, descobriram uma notável exceção na corrida armamentista coevolutiva entre as pulgas d'água (Daphnia) e os parasitas microscópicos que as infestam; a pesquisa foi publicada em 2007. Enquanto as pulgas d'água se tornam melhores em evitar o parasitismo, os parasitas se tornam melhores em infectá-las. Ambos presa e predador, nesse sistema, podem persistir em estágios dormentes por muitos anos na lama do fundo do lago que compartilham. Os sedimentos do lago podem ser datados conforme o ano em que se formaram, e os predadores e presas enterrados podem ser ressuscitados. Assim, suas interações podem ser testadas, uma contra a outra, e contra predadores e presas provenientes de seus passados e futuros relativos. Confirmando as expectativas teóricas, o parasita adaptou-se a seu hospedeiro ao longo de apenas alguns anos. Sua infectividade a qualquer determinado tempo mudou pouco, mas sua virulência e aptidão [fitness] cresceram constantemente - equiparadas em cada etapa pela capacidade das pulgas d'água de resistência a elas. Esse estudo fornece um exemplo elegante no qual um registro histórico de alta resolução do processo coevolutivo providenciou uma confirmação da teoria evolutiva, mostrando que a interação entre parasitas e seus hospedeiros não é fixa no tempo, mas, alternativamente, é o resultado de uma corrida armamentista dinâmica de adaptação e contra-adaptação, conduzida pela seleção natural de geração para geração.

 

9 - Dispersão diferencial em aves selvagens

 

O fluxo gênico causadopela migração, por exemplo, pode desfazer adaptações para condições locais e ir na contramão da diferenciação evolutiva dentro de uma população e entre populações. De fato, a teoria clássica da genética de populações sugere que quanto mais as populações locais migrarem e se intercruzarem, mais geneticamente similares elas serão. Esse conceito parece estar de acordo com o senso comum, assume que o fluxo gênico é um processo casual, como a difusão. Mas a dispersão não-casual pode na verdade favorecer a adaptação local e a diferenciação evolutiva, como relataram em 2005 Ben Sheldon e seus colaboradores, do Instituto Edward Gray de Ornitologia de Campo, em Oxford, Reino Unido. O trabalho deles foi parte de um estudo multidécada sobre os chapins-reais (Parus major) que habitam um bosque em Oxfordshire, Reino Unido. Os pesquisadores descobriram que a quantidade e tipo de variação genética no peso dos ninhegos dessa ave canora difere entre uma parte do bosque e outra. Esse padrão de variação leva a respostas diversas à seleção em partes diferentes do bosque, resultando em adaptação local. O efeito é reforçado pela dispersão não-casual; aves individuais selecionam e se reproduzem em diferentes habitats de um modo que aumenta sua aptidão [fitness]. Os autores concluem que "quando o fluxo gênico não é homogêneo, a diferenciação evolutiva pode ser rápida e pode ocorrer sobre escalas espaciais surpreendentemente pequenas." Em outro estudo sobre chapins-reais na ilha Vlieland da Holanda, publicado na mesma edição da Nature, Erik Postma e Arie van Noordwijk, do Instituto Holandês de Ecologia em Heteren, descobriram que o fluxo gênico mediado pela dispersão não-casual mantém uma grande diferença genética do tamanho das garras numa pequena escala espacial, mais uma vez ilustrando, como dizem esses cientistas, "o grande efeito da imigração na evolução de adaptações locais e na estrutura genética da população".

 

 10 - Sobrevivência seletiva em lebistes selvagens

 

A seleção natural favorece características que aumentam a aptidão. Ao longo do tempo, poderia-se esperar que tal seleção exaurisse a variação genética por conduzir variantes genéticas vantajosas à fixação em detrimento de variantes menos vantajosas ou deletérias. Na verdade, as populações naturais apresentam frequentemente grandes quantidades de variação genética. Então como esta é mantida? Um exemplo é o polimorfismo genético que se vê nos padrões de cor de machos de lebiste (Poecilia reticulata [peixe da família Poeciliidae]). Como relatado em 2006, Kimberly Hughes e colaboradores, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, manipularam as frequências de machos com diferentes padrões de cor em três populações selvagens de lebiste em Trinidad. Os pesquisadores mostraram que variantes raras têm taxas muito maiores de sobrevivência do que os mais comuns. Essencialmente, variantes são favorecidas quando raras, e selecionadas negativamente quando comuns. Tal sobrevivência 'dependente de frequência', na qual a seleção favorece tipos raros, tem sido relacionada à manutenção de polimorfismos moleculares, morfológicos e relativos à saúde em humanos e em outros mamíferos.

 

11 - A história evolutiva é importante

 

 

 Pensa-se, muitas vezes, que a evolução tem algo a ver com encontrar soluções ótimas para os problemas que a vida apresenta. Mas a seleção natural só pode trabalhar com os materiais disponíveis - materiais que são por sua vez os resultados de muitos milhões de anos de história evolutiva. Ela nunca começa com uma folha em branco. Se o ótimo fosse o caso, então os tetrápodos, ao se depararem com o problema de andar sobre a terra, poderiam talvez ter evoluído rodas em vez de terem suas nadadeiras transformadas em pernas. Um caso real da engenhosidade da adaptação diz respeito a uma moreia (Muraena retifera), um predador dos recifes de coral que parece uma grande serpente. Historicamente, os peixes ósseos usam a sucção para capturar suas presas. Um peixe, ao se aproximar do alimento, abre sua boca para criar uma grande cavidade que suga água para dentro de si junto com a presa. Quando o excesso de água sai pelas fendas branquiais, o peixe leva a presa ao esôfago e às mandíbulas faringeais, que são um segundo conjunto de mandíbulas e dentes derivados do esqueleto que sustenta as brânquias. Mas as moreias têm um problema por causa de sua forma alongada e estreita. Mesmo com suas mandíbulas abertas, sua cavidade bucal é pequena demais para gerar sucção suficiente para conduzir a presa até suas mandíbulas faringeais. A solução para este impasse foi documentada em 2007. Através de observação cuidadosa e de cinematografia de raios-X, Rita Mehta e Peter Wainwright da Universidade da Califórnia, Davis, descobriram a empolgante solução da evolução. Em vez de a presa vir às mandíbulas faringeais, as mandíbulas faringeais se projetam para a cavidade bucal, encurralando a presa e arrastando-a para dentro. Esse, dizem os pesquisadores, é o primeiro caso descrito de um vertebrado usando um segundo conjunto de mandíbulas para conter e transportar a presa, e é a única alternativa conhecida para o transporte hidráulico de presa registrado na maioria dos peixes ósseos - uma grande inovação que pode ter contribuído para o sucesso das moreias como predadores. A mecânica das mandíbulas faringeais da moréia lembra os mecanismos de retenção usados pelas serpentes - também criaturas longas, estreitas, que fazem predação. Esse é um exemplo da convergência, o fenômeno evolutivo no qual criaturas distantemente aparentadas evoluem soluções similares para problemas comuns. Esse estudo demonstra a natureza contingente da evolução; como um processo ela não pode desfrutar do luxo de 'projetar do nada'.

 

 12 - Os tentilhões das Galápagos e Darwin

 

Quando Charles Darwin visitou as Ilhas Galápagos, registrou a presença de várias espécies de tentilhão que tinham aparência muito similar, exceto por seus bicos. Tentilhões do solo têm bicos profundos e largos; tentilhões do cacto têm bicos longos e pontudos; tentilhões-rouxinóis têm bicos afilados e pontudos; refletindo diferenças em suas respectivas dietas. Darwin especulou que todos os tentilhões tinham um ancestral comum que tinha migrado para as ilhas. Parentes próximos dos tentilhões das Galápagos são conhecidos no continente da América do Sul, e o caso dos tentilhões de Darwin se tornou desde então o exemplo clássico de como a seleção natural levou à evolução de uma variedade de formas adaptadas a nichos ecológicos diferentes a partir de uma espécie ancestral comum - o que se chama de 'radiação adaptativa'. Essa ideia tem sido fortalecida desde então, por dados que mostram que mesmo pequenas diferenças na profundidade, largura e comprimento do bico podem ter grandes consequências para a aptidão geral das aves. Para descobrir que mecanismos genéticos estão na base das mudanças no formato do bico que marca cada espécie, Arhat Abzhanov, da Universidade de Harvard, e seus colaboradores examinaram genes numerosos que são ativados durante o desenvolvimento dos bicos nos filhotes de tentilhão; o estudo foi publicado em 2006. Os pesquisadores descobriram que as diferenças na forma coincidem com a expressão diferenciada do gene para calmodulina, uma molécula envolvida na sinalização por cálcio, que é vital em muitos aspectos do desenvolvimento e do metabolismo. A calmodulina é expressada mais fortemente nos bicos longos e pontudos dos tentilhões do cacto do que em bicos mais robustos de outras espécies. Aumentar artificialmente a expressão da calmodulina nos tecidos embrionários que dão origem ao bico causa um alongamento da parte superior do bico, parecido com o que se observa em tentilhões do cacto. Os resultados mostram que ao menos parte da variação na forma do bico dos tentilhões de Darwin é provável que esteja relacionada à variação na atividade da calmodulina, e associam a calmodulina ao desenvolvimento de estruturas craniofaciais do esqueleto de maneira mais geral. O estudo mostra como os biólogos estão indo além da mera documentação de mudanças evolutivas para identificar os mecanismos moleculares subjacentes a elas.

 

 

 13 - Microevolução vai ao encontro da macroevolução

 

Darwinconcebeu a mudança evolutiva como um acontecimento dividido em passos pequenos, infinitesimais. Ele os chamou de 'gradações imperceptíveis' que, se extrapoladas a longos períodos de tempo, resultariam em mudanças radicais de forma e função. Há uma montanha de evidências para essas pequenas mudanças, chamadas de microevolução - a evolução da resistência a antibióticos, por exemplo, é apenas um de muitos casos documentados. Podemos inferir do registro fóssil que mudanças maiores de espécie para espécie, ou macroevolução, também ocorrem, mas são naturalmente mais difíceis de se observar em ação. Porém, os mecanismos da macroevolução podem ser vistos no aqui e agora, na arquitetura dos genes. Às vezes os genes envolvidos nas vidas cotidianas dos organismos estão conectados ou são os mesmos que governam características principais na forma e no desenvolvimento dos animais. Então a evolução mais vulgar pode ter efeitos extensos. Sean Carroll, do Instituto Médico Howard Hughes em Chevy Chase, Maryland, e seus colaboradores observaram um mecanismo molecular que contribui para o ganho de uma única mancha nas asas de machos da mosca da espécie Drosophila biarmipes; eles relataram seus achados em 2005. Os pesquisadores mostraram que a evolução dessa mancha é conectada a modificações de um elemento regulatório ancestral de um gene envolvido na pigmentação. Esse elemento regulatório adquiriu, com o tempo, sítios de ligação para fatores de transcrição que são componentes primitivos do desenvolvimento das asas. Um dos fatores de transcrição que se liga especificamente ao elemento regulatório do gene yellow é codificado pelo gene engrailed, que é um gene fundamental para o desenvolvimento como um todo. Isso mostra que um gene envolvido em um processo pode ser cooptado para outro, em princípio conduzindo a mudança macroevolutiva.

 

 

14 - Resistência a toxinas em serpentes e em clame-da-areia

 

Os biólogos estão compreendendo cada vez mais os mecanismos moleculares subjacentes à mudança evolutiva adaptativa. Em algumas populações do tritãoTaricha granulosa, por exemplo, os indivíduos acumulam o veneno neuroativo tetrodotoxina em sua pele, aparentemente como uma defesa contra a cobraThamnophis sirtalis. As cobras dessa espécie que predam os tritões venenosos evoluíram resistência à toxina. Através de trabalho exaustivo, Shana Geffeney, da Escola de Medicina de Stanford, na Califórnia, e seus colaboradores descobriram o mecanismo por trás disso; seu estudo foi publicado em 2005. A variação no nível de resistência das cobras à sua caça venenosa pode ser delineada em mudanças moleculares que afetam a ligação da tetrodotoxina a um canal de sódio particular. Uma seleção similar para a resistência a toxinas aparentemente ocorre nos clames-da-areia (Mya arenaria) em áreas costeiras do Atlântico Norte no continente americano, como relatado por Monica Bricelj do Instituto de Biociências Marinhas da Nova Escócia, Canadá, e seus colaboradores na mesma edição da Nature. As algas que produzem 'marés vermelhas' geram saxitoxina - uma causa de envenenamento por frutos-do-mar em humanos. Esses molucos se expõem à toxina ao ingerirem as algas. Os provenientes de áreas com marés vermelhas recorrentes são relativamente resistentes à toxina e acumulam-na em seus tecidos. Os que vivem em áreas não afetadas não evoluíram tal resistência. A resistência à toxina nas populações expostas está correlacionada com uma única mutação no gene que codifica para um canal de sódio, num sítio já relacionado à ligação da saxitoxina. Parece provável, portanto, que a saxitoxina age como um potente agente seletivo nos clames-da-areia e leva à adaptação genética. Esses dois estudos mostram como pressões seletivas similares podem levar a respostas adaptativas similares mesmo em táxons [unidades de classificação] muito diferentes.

 

 15 - Variação versus estabilidade

 

As espécies podem permanecer sem grandes mudanças por milhões de anos, tempo o bastante para coletarmos suas marcas no registro fóssil. Mas elas mudam também, e muitas vezes muito abruptamente. Isso levou alguns a se perguntarem se as espécies - geralmente aquelas se desenvolvendo em trajetórias específicas - guardavam oculto o potencial para a mudança abrupta, soltando uma enxurrada de variação em tempos de estresse ambiental, variação estasobre a qual a seleção pode atuar, e que ficaencoberta em outras circunstâncias em que não há estresse. Essa ideia de 'capacidade evolutiva' foi trazida à baila primeiramente por Suzanne Rutherford e Susan Lindquist em experimentos surpreendentes com moscas-das-frutas. Sua ideia era que proteínas-chave envolvidas na regulação de processos de desenvolvimento são 'acompanhadas' por uma proteína chamada Hsp90, que é produzida mais em tempos de estresse. Nessas situações, Hsp90 é sobrepujada por outros processos e as proteínas normalmente reguladas por ela podem circular livremente, produzindo um rebuliço de variação que de outra forma estaria oculta. Aviv Bergman, da Faculdade Albert Einstein de Medicina em Nova York, e Mark Siegal, da Universidade de Nova York, exploraram se a capacidade evolutiva é restrita à Hsp90 ou é encontrada mais geralmente; seu estudo foi publicado em 2003. Eles usaram simulações numéricas de redes genéticas complexas e dados de expressão gênica de todo o genoma de linhagens de levedura nas quais genes individuais foram deletados. Mostraram que a maioria e talvez todos os genes guardem variação em reserva que é liberada apenas quando são funcionalmente comprometidos. Em outras palavras, parece que a capacidade evolutiva pode ser maior e mais profunda do que se vê na Hsp90.

 

 Fonte: Nature

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Publicado em EVOLUÇÃO
Segunda, 18 Abril 2016 11:45

Os Achados Fósseis e a Evolução

Milhares de achados fósseis tem sido descobertos nos últimos anos confirmando a teoria da Evolução. Visto ser um assunto bem extenso vou me concentrar apenas em alguns achados relacionados com a espécie humana e sua evolução. Em 19 de julho de 2001 um grupo de paleontólogos da França e do Chade divulgou a descoberta de um fóssil que teria pertencido ao primeiro antepassado humano já conhecido o Sahelanthropus tchadensis ou homem de Toumai. Esse fóssil foi encontrado no Chade, na África Central. Hoje a comunidade científica aceita razoavelmente bem que este é o fóssil do hominídeo mais antigo já encontrado, com 7 milhões de anos. Trata-se de uma indicação de que o bipedismo humano surgiu não na savana como se acreditava, mas na floresta tropical das imediações do Chade, hoje desértica (Alain Beauvilain. "Toumaï, l'aventure huamine". Paris, La Table Ronde, 2003).

     Em outubro de 2009, a revista científica Science publicou um estudo iniciado em 1992 onde 47 investigadores de dez países publicaram em onze artigos os resultados das análises de fósseis do hominídeo Ardipithecus ramidus (Ardi) com 4,4 milhões de anos. Ardi era uma criatura das florestas, com cérebro pequeno, braços longos e pernas curtas. O pélvis e os pés mostram uma forma primitiva de caminhar ereto, porém, o Ardipithecus também era capaz de subir em árvores com seus longos e grandes dedos que lhe permitiam agarrar, assim como os macacos.

     O estágio australopitecídeo, iniciado há uns 3 milhões de anos, inclui achados fósseis que podem ser reunidos em dois grupos: os pequenos australopitecos e os grandes australopitecos ou parantropos. Os pequenos australopitecos eram bípedes, mediam cerca de 1,20m e pesavam entre 25 e 50 quilos, com capacidade craniana média de 500 cm3. Seus primeiros fósseis foram encontrados na garganta de Olduvai, Tanzânia, na África, junto a seixos grosseiramente trabalhados à mão. A postura vertical trazia a vantagem de libertar as mãos para a manipulação e a associação dos movimentos das mãos com os olhos estimulava o cérebro. Assim, o bipedismo constituiu uma base para as habilidades culturais. Aos australopitecos pequenos sucederam-se os australopitecos grandes ou parantropos, do tamanho do homem moderno, porém com o cérebro de 600 cm3. Foram encontrados em Olduvai e no Saara, na África e em Java, na Indonésia.  Entre os principais achados fósseis deste período estão DIK-1 (Selam) descoberto em 2000 na Etiópia por Zeresenay Alemseged e o AL 288-1 (Lucy) descoberto em 1974 na Etiópia por Donald Johanson (Zeresenay Alemseged, Mother of man, 3.2 million years ago. BBC Science & Nature,2006; Um esqueleto hominídeo juvenil de Dikika, na Etiópia.Nature 443 pág. 296-301).

     Depois dos australopitecos, os fósseis encontrados foram classificados como pertencentes ao estágio pitecantropóide. Os primeiros pitecantropos ou "homo erectus" datam de aproximadamente 500.000 anos e foram descobertos em Java (Indonésia), Pequim (China), Heidelberg (Alemanha), Tenerife (Marrocos), Olduvai (Tanzânia) e na Hungria. Viveram na segunda fase interglaciária e seu cérebro possuía capacidade craniana média de 1 000 cm3. Os pitecantropos conheciam o fogo, fato que lhes permitia habitar em cavernas e prolongar o período das atividades, antes limitado pelo cair da noite. Nas cavernas onde moravam, inclusive em lugares muito frios como na Europa, foram encontradas boas quantidades de carvão acumuladas, indicando que várias gerações deles acendiam fogueiras. Eram carnívoros, andarilhos e praticavam a caça de rastreio. Proporcionando luz para habitar as cavernas, calor para enfrentar climas mais frios e um método para preservar a carne, o fogo representou uma grande revolução na cultura dos hominídeos. E com sua ajuda, provavelmente iniciaram a migração pelo planeta, visto que os hominídeos do estágio pitecantropóide só não foram encontrados na América e na Austrália.

     Os Neanderthais viveram entre 100 000 e 40 000 anos atrás e possuíam uma capacidade cerebral próxima à do homem moderno. Eles poderiam ser descritos como possuidores de uma caixa craniana moderna e uma face próxima à dos pitecantropos. Talhavam a pedra com perfeição e praticavam ritos funerários enterrando seus mortos. Descobriu-se que um esqueleto dessa espécie, desenterrado em Shanidar, fora recoberto com oito espécies diversas de flores. Ora, isso demonstra a existência de ritos conscientes, além de uma vida social organizada tal qual a das tribos primitivas de homo sapiens-sapiens.

     Os esqueletos sucessivos aos Neanderthais são denominados de Cro-Magnon ou Homo sapiens-sapiens. Foram encontrados numa localidade da França que lhes deu o nome, a cerca de 35 000 anos, no Paleolítico superior. O uso de instrumentos de caça provavelmente ativou o desenvolvimento do cérebro e a redução das mandíbulas e dos dentes até então usados como ataque e defesa.O homem de Cro-Magnon é o nosso antepassado direto. Vestido como um homem atual, ele seria indistinguível nas ruas das cidades. Possuía estatura elevada e capacidade craniana de 1500 cm3 em média. Desenvolveu a linguagem articulada, fazia instrumentos especializados para a caça e a pesca e criou a arte rupestre e a escultura.A complexidade do cérebro humano, no entanto, levou estes primeiros homens a perceber que era possível interferir na produção tanto das plantas quanto dos animais de que tanto precisavam para se alimentar. A experiência de geração após geração acabou por levar o homem a descobrir a agricultura e a domesticação dos animais. Foi um passo decisivo para a transformação das sociedades primitivas.

     Como vimos até agora os registros fósseis são uma prova consistente de que nosso planeta já abrigou espécies diferentes das que existem hoje. Esses registros são uma forte evidência da evolução porque nos fornecem indícios de parentesco entre estes e os seres viventes atuais ao observarmos, em muitos casos, uma modificação contínua evidente das espécies.

     adaptação, capacidade do ser vivo em se ajustar ao ambiente é outra evidência, uma vez que, por seleção natural, indivíduos portadores de determinadas características vantajosas, como a coloração parecida com a de seu substrato, possuem mais chances de sobreviver e transmitir a seus descendentes tais características. Assim, ao longo das gerações, determinadas características vão se modificando, tornando-se cada vez mais eficientes. Como exemplos de adaptação por meio da seleção natural temos a camuflagem e o mimetismo.

     As analogias e homologias também podem ser consideradas como provas da evolução baseadas em aspectos morfológicos e funcionais, uma vez que o estudo comparativo da anatomia dos organismos mostra a existência de um padrão fundamental similar na estrutura dos sistemas de órgãos.A ciência tem encontrado cada vez mais evidências de que as espécies se originaram de um tronco único, por isso possuem estruturas tão fundamentalmente semelhantes.

    As estruturas análogas desempenham a mesma função, mas possuem origens diferenciadas, como as asas de insetos e asas de aves. Estas, apesar de exercerem papéis semelhantes, não são derivadas das mesmas estruturas presentes em um ancestral comum exclusivo entre essas duas espécies. Assim, a adaptação evolutiva a modos de vida semelhantes leva organismos pouco aparentados a desenvolverem formas semelhantes, fenômeno este chamado de evolução convergente.

     A homologia se refere a estruturas corporais ou órgãos que possuem origem embrionária semelhante, podendo desempenhar mesma função (nadadeira de uma baleia e nadadeira de um golfinho) ou funções diferentes, como as asas de um morcego e os braços de um humano, nadadeiras peitorais de um golfinho e as asas de uma ave. Essa adaptação a modos de vida distintos é denominada evolução divergente. 

     Os órgãos vestigiais são estruturas pouco desenvolvidas e sem função expressiva no organismo, como o apêndice vermiforme e o cóccix indicando que estes órgãos foram importantes em nossos ancestrais remotos e por deixarem de ser vantajosos ao longo da evolução, regrediram durante tal processo. Estes órgãos podem também estar presente em determinadas espécies e ausentes em outras, mesmo ambas existindo em um mesmo período.

     evidência molecular nos mostra a semelhança na estrutura molecular de diversos organismos sendo que, quanto maior as semelhanças entre as sequências das bases nitrogenadas dos ácidos nucléicos ou quanto maior a semelhança entre as proteínas destas espécies, maior o parentesco e, portanto, a proximidade evolutiva entre as espécies.

       É digno de nota que as recentes pesquisas genéticas tem demonstrado que o código genético do ser humano e muito semelhante ao do chimpanzé, 98,7% do código genético do homem é igual ao do chimpanzé e a semelhança com os outros primatas chega a 98,3%. Assim, a Teoria da Evolução reúne uma série de evidências e provas que a faz ser irrefutável até o presente momento.

Este texto foi extraído do livro "A BÍBLIA SOB ESCRUTÍNIO", para adquiri-lo CLIQUE AQUI!  

 

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Publicado em EVOLUÇÃO
Sexta, 21 Outubro 2016 11:22

A Origem das Espécies

A evolução da espécies foi descrita pelo naturalista britânico Charles Darwin no seu célebre livro “A Origem das Espécies” publicado em 1859. Como é de conhecimento geral, esta teoria culminou no que é agora considerado o paradigma central para a explicação de diversos fenômenos na biologia tornando-se a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza (Charles Darwin, A Origem Das Espécies, Coleção Obra-Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret, 2007. ISBN 8572325840). A teoria científica da evolução explica como as formas de vida desenvolveram diversidade ao longo das gerações. Uma coisa que se deve entender imediatamente é que ela não alega explicar o desenvolvimento do universo ou o surgimento da vida. Ela explica como novas formas de vida surgiram de formas de vida mais antigas. Mesmo que a vida na terra tenha se iniciado por algum tipo de intervenção divina ou alienígena, isto não afetaria a evidência da evolução, que é aceita por pessoas que acreditam em um ou mais Deuses, bem como por quem não acredita em nenhum. Também é importante entender o que é uma teoria cientifica. Fora do meio cientifico as pessoas frequentemente usam a palavra teoria para se referir a um palpite, ou a qualquer opinião pessoal não provada. Não é isso o que a palavra teoria significa na ciência. Na ciência, uma teoria se refere especificamente a uma explicação bem concreta sobre uma grande quantidade de fatos bem concretos e firmemente estabelecidos. Assim, sempre que encontramos declarações do tipo “evolução é só uma teoria, não um fato”, isso nos diz que quem fez tal declaração não está usando o termo adequadamente. Em ciência, a teoria não é enaltecida pelos fatos, antes, os fatos é que são explicados pela teoria. Por causa de seu poder de explicar as coisas, as teorias são a meta suprema e a plena conquista da natureza da ciência. 

Para começar com alguns fatos bem conhecidos, nós sabemos que as características físicas dos pais são herdadas pela geração seguinte e através do artifício de criação seletiva, muitas características podem ser aumentadas em gerações posteriores. Isso pode ser conseguido muito facilmente acasalando os indivíduos que exibem mais fortemente aquela característica e repetindo este processo através de sucessivas gerações. Crie apenas cavalos que tem ótimo desempenho em competições e seus filhotes também serão premiados. Crie apenas cachorros agressivos, e seus filhotes serão agressivos. Muitos que alegre e facilmente dirão entender esse tipo de seleção artificial são os mesmos que rotulam evolução como “impossível” ou “um conto de fadas”. Contudo, a seleção natural, um dos principais mecanismos que guiam a evolução não requer nenhuma suspensão mágica ou violação das leis da física. Ela simplesmente diz que as características também surgem e oportunidades reprodutivas também são limitadas por outros fatores que não a influência humana. Se um criador de cachorros selecionar apenas os cachorros mais velozes para sua criação, e se na selva, somente as gazelas mais rápidas escaparam dos predadores e sobreviveram para reproduzir, então ambos, a natureza e o criador de cachorros estão favorecendo certos indivíduos para produzirem filhotes e passar sua informação genética para a geração seguinte.

Antes de falar mais sobre seleção natural, gostaria de mencionar outro termo comumente incompreendido: “Mutação”. Muitos pensam que quando biologistas falam sobre mutação, eles estão se referindo apenas a malformações dramáticas como animais com membros ou cabeças a mais. Ou cenários forçados como cães produzindo gatos, ou até se transformando em gatos. Isto tudo é fruto de desinformação. “Mutação” é simplesmente a mudança na variação genética dentro de uma população, originada por inserção, exclusão ou recombinação de sequência do DNA. Mas mutação não é a única causa de variação, porque não é só a sequência do DNA que é importante para a Evolução. Estudos de epigenética, por exemplo, mostram que os genes podem ser ligados ou desligados, e que essa ativação ou inibição pode ser herdada e se expressar em gerações futuras. A maioria das variações são neutras e não tem qualquer impacto na sobrevivência do organismo, acumulando-se naturalmente em gerações sucessivas, o que se chama de deriva genética, cujos efeitos são melhor percebidos em pequenas populações (Richard Dawkins, O Gene Egoísta. Companhia das Letras, 2007. ISBN 978-8535911299).

Mas variação na cor, por exemplo, pode ter um impacto maior. Considere um inseto de coloração pouco parecida com a casca das arvores onde habita. Se a variação genética fizer alguns de seus filhotes menos evidentes para os predadores, eles terão mais chances de sobreviver e de se reproduzir. E com o passar do tempo, os insetos com esta variação de cor podem se tornar mais abundantes dentro da população. Se a variação fizer alguns dos outros filhotes mais evidentes para os predadores, então talvez eles não sobrevivam para se reproduzir, e essa variação pode desaparecer ou ser suprimida pela seleção natural. Muitos que não entendem a evolução tentam descrevê-la como “puro acaso”. Mas não foi por acaso que camuflagem, cascos, pétalas, antenas, barbatanas, asas, olhos e raízes evoluíram no mundo natural. Todas estas características físicas tiveram funções especificas na contribuição para o sucesso reprodutivo de diferentes organismos. E fica óbvio que se os organismos que exibem essas características se reproduzirem, eles perpetuarão sua informação genética, incluindo a informação responsável pela característica para a próxima geração. Mas não é verdade que toda característica de um organismo tem que ser vantajosa. Por exemplo, características que não trazem nenhuma vantagem ainda podem ser favorecidas se estiverem associadas à outra que traz. Quando se trata de características vantajosas, não existe um “tamanho único”. Tamanho pode ser uma grande vantagem para um leão-marinho que quer dominar seus rivais, mas seria uma considerável desvantagem para um macaco-aranha, que está adaptado para movimentar-se agilmente pelas árvores. De novo, não é por acaso que o leão-marinho evoluiu para ser enorme e o macaco-aranha evoluiu para ser esbelto e ter membros tão esguios. Esses atributos físicos os ajudam nos seus respectivos ambientes e meios de vida para sobreviver e competir para se reproduzirem.

Pessoas que dizem que evolução é sobre um impossível e improvável golpe de sorte cega, frequentemente gostam de alegar que a probabilidade de formas de vida evoluir é a mesma de se ganhar o prêmio máximo de um caça-níquel centenas de vezes seguidas. Mas acasos milagrosos não tem nada a ver com evolução. Se formos usar a mesma analogia da máquina caça-níquel, então a evolução mantém presos quase todos os símbolos e só aceita os que combinam cada vez que se puxa a alavanca. Começando com uma palavra nós só precisamos mudar uma letra para transformá-la numa nova palavra. Mudando uma letra dessa nova palavra resultam novas palavras adicionais. E se nós prosseguirmos com esse processo, produziremos palavras totalmente diferentes da original. Uma mudança dramática obtida através de pequenas mudanças por vez. É isso que acontece na Evolução, exceto que na evolução, incontáveis minúsculas mudanças se acumulam ao longo de milhões de anos. O problema para a maioria das pessoas entenderem o processo da evolução é que eles não conseguem pensar em termos de milhões de anos, para muitos é difícil conceber tal espaço de tempo devido à curta duração de nossas vidas (Richard Dawkins, O Relojoeiro Cego, A Teoria da Evolução Contra o Desígnio Divino. Companhia das Letras, 2001. ISBN 8535901612).

Se membros de uma dada espécie se isolam geograficamente, cada grupo acaba por ter que responder a um ambiente muito diferente e a enfrentar diferentes predadores e se adaptar a formas diferentes de obter comida. Assim, a variação genética não mais estará sendo compartilhada por toda a população, mas apenas entre os membros de cada grupo vivendo em determinado ambiente. Desta forma, a deriva genética e a seleção natural podem fazer com que surjam duas espécies distintas que passando um certo período de tempo não são mais tão próximas a ponto de ser possível se reproduzir entre si.

A teoria da evolução não diz que “organismos de uma espécie de repente passam a produzir organismos de outra espécie”. Cães não produzem gatos e organismos individuais não mudam de espécie. Um macaco não se torna um ser humano, há um mal-entendido comum sobre como a evolução nos liga aos macacos que é revelado pela clássica pergunta que a maioria faz “Se os humanos evoluíram dos macacos, por que ainda existem macacos?” Em primeiro lugar os humanos não evoluíram dos macacos que vemos hoje. Humanos e macacos modernos compartilham um ancestral comum, semelhante a um macaco, mas diferente de ambos. Em segundo lugar, quando uma forma de vida evolui de outra isso não quer dizer que a forma de vida original tem que deixar de existir. Considere por exemplo à espécie A tão bem adaptada ao seu meio ambiente que muda muito pouco de uma geração para outra, então, parte dessa população se espalha para um novo meio ambiente em que se mostra pessimamente adaptada. Diferentes pressões de sobrevivência agora levam as gerações dessa população a mudarem dramaticamente enquanto as mudanças na primeira população são quase imperceptíveis. Após muitas gerações a população 1 ainda existe mais ou menos na sua forma original enquanto que a população 2 está agora muito diferente devido a uma adaptação em um ambiente mais hostil. A população 1 não precisa ser extinta, nem mudar da mesma maneira. Por exemplo, os brasileiros descendem dos portugueses, mas nem por isso os portugueses deixaram de existir ou se transformaram em brasileiros.

A teoria da evolução não requer a existência de um animal com a cabeça de crocodilo e o corpo de pato, mesmo quando há evidências de que um animal evoluiu diretamente de outro isso não significa que a transição de todas as formas tem que parecer como pedaços de ambos os animais colados juntos. A evolução não trabalha combinando diferentes espécies aleatoriamente. Cientistas evolucionistas nunca caçaram o “crocopato” ou o “rinopolvo”. A teoria da evolução nos diz uma coisa bem diferente. A natureza não recompensa apenas combinações aleatórias de características, mesmo animais altamente especializados têm sido levados à extinção. A natureza só recompensa aquilo que é capaz de se reproduzir com eficiência. O “crocopato”, inventado para ridicularizar a evolução tornou-se, em vez disso, num símbolo de mau argumento contra a Evolução.

Algumas pessoas dizem que a aceitação dessa teoria implica ou leva inevitavelmente ao desejo por um controle étnico de seres humanos, porém, reconhecer um aspecto da natureza não significa que você tem qualquer desejo de adaptá-lo a uma política social e cometer graves violações aos direitos humanos. Evolução não é um apoio à eugenia. Assim como aceitar o fato de que a fêmea de inúmeras espécies mata e come os machos após o acasalamento não é um endosso ao canibalismo. É apenas a aceitação da realidade. Se alguém menciona que a teoria da Evolução diz alguma dessas inverdades então ele simplesmente não a entende ou está deturpando-a deliberadamente e tentando criar confusão sobre o que é ciência na esperança de que isso dê mais apoio a sua causa.

De qualquer forma, tentativas de fazer a evolução se parecer com um conto de fadas sendo por desinformação ou desonestidade, continuarão sendo desmascaradas. O conto de fadas é a alegação de que a evolução tem alguma coisa a ver com cães gerando gatos, animais se transformando de uma hora para outra em uma diferente espécie ou surgirem por puro acaso. Se você conversar com qualquer um que conheça e aceite a evolução descobrirá que estas ideias são tão ridículas para eles como são para os antievolucionistas. Evolução é tanto o fato como a teoria. É o fato cientificamente estabelecido de que a vida evolui e continua evoluindo e a teoria da evolução explica como isso se dá. Existem muitas razões que tornam importante o entendimento da evolução, não apenas porque ela é essencial para a compreensão da biologia. Nós convivemos com vírus que rapidamente desenvolvem resistência aos nossos sistemas de defesa. Falhar em entender esse processo significa falhar em entender uma das ameaças mais mortais que enfrentamos.

     Pela curiosidade e cuidadosa dedicação ao trabalho de gerações de cientistas nós agora entendemos com mais detalhes do que em qualquer outro momento da história respostas para as maiores perguntas sobre a vida nesse planeta. Essas são as peças chaves da herança cientifica que vale a pena passar para as novas gerações que certamente irão aperfeiçoar o nosso entendimento sobre a vida (Edward O. Wilson, The Diversity of Life. Harvard Univ. Press, 2ª Edição 1992. ISBN 978-0674212985). 

Este texto foi extraído do livro "A BÍBLIA SOB ESCRUTÍNIO", para adquiri-lo CLIQUE AQUI!

 

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