Na antiga mesopotâmia os babilônicos (caldeus) se estabelecem mais ao sul enquanto os assírios mais ao norte. Os babilônicos foram mais intelectuais, são precursores na religião e nas artes. Os assírios foram mais vigorosos, mais brutais e guerreiros. Por muito tempo os assírios dominaram os babilônicos antes de serem por eles dominados. Mesmo como vassalos, os babilônicos exerceram uma hegemonia cultural comparável à da Grécia sobre Roma. São eles que forneceram o essencial das crenças. Podendo-se dessa maneira falarmos na civilização assírio-babilônica. Os sumérios contribuíram com suas divindades e suas lendas. Os semitas trouxeram sua língua, rica e flexível, e seu gênio político. Numa tendência natural de proteção se agruparam em cidades. As divindades conservavam um caráter local, quando uma cidade dominava, sua deidade exerciam certa hegemonia e as outras divindades subordinavam-se a ela ou às vezes, confundiam-se com ela.
DEUSES BABILÔNICOS
O panteão de Deuses do primeiro Império Babilônico incluíam numerosas tríades de Deuses, ou deidades. Uma de tais tríades era composta de Anu (o Deus do céu), Enlil (o Deus da terra, do ar e da tempestade) e Ea (o Deus que presidia as águas). Outra tríade era composta do Deus-lua, Sin, do Deus-sol, Xamaxe, e da Deusa da fertilidade Ishtar, amante ou consorte de Tamuz. Os babilônios tinham até mesmo tríades de demônios, tais como a tríade de Labartu, Labasu e Akhkhazu. A adoração de corpos celestiais tornou-se proeminente e diversos planetas vieram a ser associados a certas deidades. O planeta Júpiter foi identificado com o Deus principal de Babilônia, Marduk; Vênus com Ishtar, Deusa do amor e da fertilidade; Saturno com Ninurta, Deus da guerra e da caça, e padroeiro da agricultura; Mercúrio com Nebo, Deus da sabedoria e da agricultura; Marte com Nergal, Deus da guerra e da pestilência, e senhor do além. As cidades da antiga Babilônia passaram a ter as suas próprias divindades guardiãs especiais, algo parecido a “santos padroeiros”. Em Ur, era Sin; em Eridu, Ea; em Nipur, Enlil; em Cuta, Nergal; em Borsipa, Nebo, e na cidade de Babilônia, Marduk (Merodaque). Na época em que Hamurábi tornou Babilônia a capital do império babilônico, aumentou, naturalmente, a importância do Deus favorito da cidade, Marduk. Por fim, Marduk recebeu os atributos de anteriores deuses e substituiu estes nos mitos babilônicos. Em períodos posteriores, seu nome próprio, “Marduque”, foi substituído pelo título “Belu” (“Dono”), de modo que finalmente passou a ser chamado de Bel. A esposa dele chamava-se Belit (“Senhora”, por excelência).
A CRIAÇÃO E O DILÚVIO
Marduk é convidado pelos outros Deuses para combater Tiamat, a divindade do oceano. Recebe deles todos os poderes. Vence Tiamat, impõe limites ao mar, cria o homem com a argila, a fim de que haja um ser que adore, sirva e conserve os Deuses. Alguns Deuses, descontentes com os homens, decidem destruí-los. Enill ou Bel organiza o cataclismo. Um dos Deuses, Ea, aparece em sonho a um homem de quem gostava, Ut-Napíshtim, e ordena-lhe que construa um navio. O homem neste navio coloca sua família, seus trabalhadores, seu gado, seus animais campestres e sementes. O dilúvio começa, afoga todos os homens. Os Deuses horrorizam-se com tal espetáculo e a Rainha dos Deuses Ishtar, lamenta-se: “A antiga raça dos homens voltou a ser argila e eu concordei com esse ato funesto, no Conselho dos Deuses, quando consenti nesta tempestade que destruiu meu povo!” A tempestade desabou durante sete dias. Ut-Napishtim solta uma pomba, que volta, depois uma andorinha, que torna a voltar, depois um corvo que não regressa. Fez o navio parar e ofereceu no cume da montanha, um sacrifício em torno do qual os Deuses se juntaram. O Deus que organizou o cataclisma, Enlil queixa-se a Ea, que revelou seu plano de traição. Depois que tudo se acalmou entre os Deuses Ea conferiu a imortalidade a seu favorito Ut-Napishtim e à sua mulher.
A CIDADE DE BABILÔNIA
Quando Babilônia prevaleceu sobre as outras cidades, seu deus Marduk tornou-se o grande Deus. No tempo de Hamurabi, ele absorve os outros Deuses, considerados como seus diferentes aspectos, enquanto ilumina as trevas ele é Sim, como Deus da dominação é Enlil, enquanto Deus da justiça é Shamash, e assim por diante. Nabucodonosor (605-562) considera Marduk, senão na prática pelo menos em teoria, seu Deus único e pessoal. Nenhum monarca da Mesopotâmia fez uma concepção da divindade tão semelhante ao monoteísmo. A religião do Estado era e continuou politeísta. Foi Shamash, isto é, Marduk considerado sob o aspecto da Justiça que, no começo do ano 2000 antes de cristo, teria ditado ao grande soberano Hamurabi um código de 282 artigos, dos quais alguns processos de sindicância são sumários e algumas penalidades exageradamente severas, mas que, no entanto contém muitas normas razoáveis. A religião só intervém na introdução e na conclusão do código, o que permitiu dizer que os babilônicos já haviam separado, em parte, a religião do direito.
LENDAS BABILÔNICAS
Ao lado do Marduk, a divindade mais popular é Ishtar, Deusa da estrela da manhã e da estrela da noite (atribuída ao planeta Vênus), do amor, da maternidade e da fecundidade. Prostitutas sagradas (sacerdotisas) são empregadas em seus templos, onde possivelmente realizavam-se os cultos tântricos, ou se usava a sexualidade como meio de atingir a transformação, por isso eram consideradas prostitutas sagradas. Ishtar é a mãe, esposa e amante de Tamuz, também chamado o filho, o pastor, o senhor. Ele morre segundo certas lendas, por um javali, em outras pela própria Ishtar que desce aos infernos em busca de seu amante. Ao descer aos infernos, em cada uma das sete portas ela deve deixar uma peça de suas vestes, chega nua a frente da Rainha dos Infernos que a conserva prisioneira. Durante o tempo de cativeiro, a terra seca, torna-se estéril, o desejo acaba, homens e animais vão desaparecendo. Os Deuses receando ficar sem sacrifícios, intervêm junto às divindades infernais. Ishtar é libertada, volta à terra acompanhada por Tamuz ressuscitado. Segundo alguns textos posteriores o jovem Deus passa a pertencer, numa metade do ano à Deusa do amor, em outra à Deusa dos infernos. Explica-se assim, a morte da natureza no inverno, seu renascimento e justificam-se os ritos destinados a assegurar o retorno da vegetação. As mulheres lamentam o desaparecimento de Tamuz e os dramas sagrados comemoram a paixão e a ressurreição do Deus.
LENDAS E CULTOS ASSÍRIOS
Outra lenda liga Ishtar ao rei da Assíria, Sargon I. Filho de pai desconhecido, é exposto numa cesta de caniço no Eufrates, salvo por um camponês, amado por Ishtar que o faz ascender à realeza. Ao tempo de Hamurabi, em que todos os Deuses concentram-se em Marduk, o nome da semita Ishtar torna-se sinônimo do nome comum “Deusa”, e todas as outras divindades femininas quase desaparecem diante dela. Embora venerando outras divindades, os assírios possuem um Deus principal que foi, a princípio, o Deus local da cidade de Assur, antes de tornar-se seu Deus nacional. Os assírios, tendo organizado a mais temível força militar que o mundo conheceu antes de Roma, acreditavam honrar seu Deus através de abomináveis crueldades. Outros aspectos da vida religiosa, sobretudo na Caldéia, são menos odiosos. Os salmos da penitência pedem aos Deuses perdão pelos pecados cometidos seja contra eles, seja contra outros homens, sendo alguns desses textos comparados aos salmos do Antigo Testamento. O regime político é sempre, quer na Babilônia, quer na Assíria, uma teocracia. Todo o poder emana de um Deus ou dos deuses. O rei é representante do Deus na terra. Seu primeiro dever é entreter os Deuses. Tal é o objetivo do sacrifício que é o ato essencial do culto. O animal do sacrifício parece ser um substituto do fiel, que deveria ser ele próprio comido pelos Deuses. Como o diz um poema: “Ele entregou o cordeiro pela sua vida. Ele entregou a cabeça de cordeiro por cabeça de homem.” Todas as práticas do bode expiatório, todas as esperanças de salvação pela imolação de um cordeiro divino, são consequências ocidentais do sacrifício caldeu. A adivinhação pelo fígado de carneiro levou os babilônicos a várias observações anatômicas. Por outro lado, os astros observados do alto das ziggurats, ocuparam grande espaço em seu pensamento, dando grande consideração aos presságios do céu. A astrologia conduziu, assim, a importantes pesquisas nos astros e, por essa via, a precisas conclusões sobre o determinismo da natureza, bem como sobre a medida do tempo. Os caldeus distinguiram os dias fastos dos nefastos, originando os sabás. Os sete dias da semana foram designados pelos nomes dos planetas sagrados, tradição respeitada pelos gregos e romanos. Muitas ideias religiosas, difundidas posteriormente provem desta Mesopotâmia, onde os judeus foram obrigados a habitar durante o cativeiro da Babilônia, como o valor do céu, o valor do sacrifício expiatório, os mitos da criação e do dilúvio, e a explicação das variações das estações pela morte e pela ressurreição de um Deus.
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