Terça, 21 Julho 2020 14:49

Refutando os 10 argumentos mais usados a favor da existência de Deus

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01 - O ônus da prova. “Ninguém foi capaz de provar a sua inexistência, portanto o Deus X existe”.

Todos os teístas (isto é, as pessoas que acreditam na existência de uma ou mais divindades) afirmam existir alguma divindade, e por isso cabe a eles o ônus da prova dessa afirmação. Se os teístas jamais tivessem afirmado a existência de deuses não haveria a necessidade de nega-los. Se as pessoas inventam um Deus não somos nós que temos de provar que esse Deus não existe. Na realidade são os teístas que tem de apresentar provas deste suposto Deus que eles afirmam que existe.  Em milhares de anos de teísmo, essa prova ainda não foi encontrada, e não há sinal de que um dia venha a ser. Os chamados argumentos de existência não resistem à crítica. Tanto é assim que a crença em Deus tem de ser acompanhada de fé. Se existissem provas irrefutáveis da existência de Deus não seria necessário ter fé, pois, a fé é um sentimento de total adesão a uma hipótese ou crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de prova, evidência ou critério objetivo de verificação que comprove a veracidade disso.

Há outros motivos para que o ônus da prova caiba aos teístas. De todas as coisas cuja existência se pode conjeturar tudo indica que apenas uma ínfima minoria existe de fato. Sabemos que existe um jogador de futebol famoso chamado Neymar, mas não deve haver uma pessoa idêntica a ele em todas as suas moléculas como também não deve haver um Neymar com o dobro do tamanho do original ou um Neymar minúsculo do tamanho de um rato. Em suma, para cada coisa que existe de fato, há infinitas outras que não existem. A existência, portanto, é uma qualidade extremamente rara dentre todas as entidades que se pode imaginar. Tomando uma entidade imaginada ao acaso, a probabilidade é de que ela não exista. Assim, se assumirmos que devemos aceitar a existência de alguma coisa até que sua inexistência seja provada, então certamente vamos chegar à conclusão de que existe um Neymar roxo e outro com bolinhas azuis, já que não podemos provar a inexistência deles. Essa atitude certamente nos levará a uma enorme quantidade de erros de avaliação. Vamos acertar com muito, mas muito mais frequência se tomarmos a inexistência como a posição padrão e só aceitarmos a existência se ela nos for provada.

De fato, é isso que fazemos todos os dias, em especial no que diz respeito a alegações extraordinárias. Alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias. Se alguém afirma que consegue flutuar no ar sem ajuda de equipamentos, não será levado a sério antes que possa provar o que diz. O mesmo se dá com divindades. Se você é monoteísta, também não leva a sério as alegações de existência de todos os demais deuses além do seu. Se eu afirmasse que existe um unicórnio rosa vivendo em uma das luas de Júpiter ou que existe um pequeno bule voador que orbita a estrela Próxima Centauri, o fato de que minha afirmação não pode ser refutada não quer dizer que seja verdadeira. Com toda certeza a maioria das pessoas iria considerar tais afirmações como tolice. Entretanto, se tais afirmações estivessem em livros antigos considerados sagrados, ensinadas como verdade todo domingo em igrejas e instiladas na mente das crianças desde cedo, com certeza a maioria acreditaria. É mais ou menos isso que acontece com a afirmação da existência de Deus.

Portanto o argumento “ninguém foi capaz de provar a sua inexistência, portanto o Deus X existe” tenta inverter o ônus da prova. Com ele, podemos provar a existência de absolutamente qualquer coisa: “ninguém foi capaz de provar a inexistência do coelhinho da páscoa, então ele existe” ou “ninguém foi capaz de provar a inexistência da mula sem cabeça, então ela existe.” Inverter o ônus da prova pode parecer um pedido justo, mas sabemos que não existe prova de inexistência para grande parte das coisas inexistentes, portanto como provar a inexistência de algo? Os próprios teístas aceitam que o ônus da prova é de quem afirma a existência quando confrontados com pessoas que crêem em outros deuses. Os cristãos também não conseguem provar a inexistência dos deuses do hinduísmo, por exemplo, mas isso não os faz aceitar a existência de Shiva, Vishnu ou Brahma. Da mesma forma, não espere a crença de um ateu pelo fato de não se conseguir provar a inexistência de Deus.

02 – A questão da fé. “Sabemos da existência do Deus X através da fé”

Com muita frequência se afirma que a fé dá provas, ou que a própria fé é uma prova. Mas é fácil perceber que ter fé é somente uma atitude, interna e pessoal como todas as atitudes. Ela nada nos diz sobre a realidade externa ao indivíduo. Se eu tiver fé que o Papai Noel existe, isso mostra que ele existe ou que eu me recuso obstinadamente a aceitar sua inexistência? A fé não dá respostas, ela apenas impede as perguntas. “Ter fé” é apenas uma expressão bonita para o que significa apenas e tão-somente desligar-se da realidade. E as próprias pessoas de fé reconhecem que ela não prova nada quando são confrontadas com outra fé diferente. Atualmente existe cerca de um bilhão de muçulmanos no planeta, muitos deles com fé profunda no islamismo. Mas isso não parece fazer a menor diferença para os dois bilhões de cristãos, e vice-versa. Se a fé apontasse a verdade com um mínimo de segurança, ela não estaria dirigida a dois sistemas incompatíveis de crenças. Se a fé apontasse a verdade com um mínimo de segurança, ela não estaria dirigida aos milhares de deuses e religiões que existem e já existiram.

03 – Os supostos milagres. “Sei que o Deus X existe porque ele faz (ou fez) milagres”

Como muitas supostas provas de existência divina, esta contém uma hipótese oculta, a hipótese de que só deuses fazem milagres, em especial, o deus cuja existência se está tentando provar. Um milagre poderia provar a existência de Thor, Amon-Rá, Tupã ou qualquer outro deus. E se a mula-sem-cabeça também for milagrosa, então os milagres poderiam provar a existência da dita mula. Portanto, tal raciocínio vale para qualquer Deus, inclusive aquela deidade que você não acredita.

Além disso, é preciso considerar que a afirmação de que existem milagres também é extremamente problemática, essencialmente por dois motivos. O primeiro é a chamada terceira lei de (Arthur C.) Clarke: “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de mágica”. Em outras palavras, qualquer candidato a milagre pode ser apenas o produto de uma tecnologia avançada, que nós desconhecemos. A partir do momento que entendemos tal tecnologia ela deixa de ser um milagre. Daí vem o ditado de que “para os peixes do aquário, quem troca a água é Deus”.

O outro problema com os alegados milagres é que simplesmente não existe nenhum caso cuja comprovação seja sólida o suficiente para uma prova tão importante quanto essa. Não existe um milagre que tenha uma comprovação incontestável. Eventos que se imaginam ser milagrosos sempre podem na realidade ser o produto de mentiras, enganos, desconhecimento de leis naturais, informações incompletas ou errôneas, ou ainda uma combinação desses fatores.

04 – Falácia da ignorância. “Se o Deus X não existe de onde veio tudo?”

A afirmação acima constitui a falácia da ignorância: só porque se ignora a existência de respostas a um problema, isso não significa que possamos adotar a resposta que bem entendemos. Por exemplo, até muito recentemente na história humana, era perfeitamente lícito usar argumentos como “mas se Zeus não existe de onde vêm os raios?”. Com certeza os antigos gregos usaram muito esse argumento quando eram questionados sobre a existência de Zeus. Na época as pessoas desconheciam ciências como a meteorologia e o eletromagnetismo. Mas esse tipo de argumento hoje não faz mais sentido. A humanidade já tem conhecimento suficiente para entender como acontecem os raios. Aqui fica claro que o desconhecimento de meteorologia e eletromagnetismo não é uma prova da existência de Zeus. O mesmo se dá quando o argumento se refere a outros deuses, ou a outros fenômenos de origem desconhecida para o interlocutor.

Fenômenos climáticos e sísmicos já estiveram muito em moda, mas atualmente estão em baixa por que já é de conhecimento geral que existem explicações 100% naturais e até triviais para o clima e os terremotos. Hoje em dia a falácia da ignorância usa outras coisas como “o homem”, “a vida”, “a Terra”, “o universo”, para tentar provar a existência de Deus e o motivo é claro: Deuses sempre foram chamados para explicar o desconhecido, e todo deus que cumpre essa função tem um nome: o deus das lacunas. Isso porque esse deus preenche as lacunas do conhecimento de uma época. O problema é que à medida que o conhecimento científico avança, ele preenche essas lacunas, tomando o lugar dos deuses e deixando cada vez menos espaço para eles. Quem acredita no divino porque não sabe de onde veio a vida está agindo de maneira idêntica a quem acreditava no divino por não saber de onde vem a chuva.

Só muda o objeto da ignorância. Dar o nome de “Deus” à própria ignorância não parece ser uma boa ideia. Além disso, existe o agravante de que já existem respostas bastante sólidas, apoiadas em um amplo espectro de evidências independentes que se confirmam mutuamente, a respeito da formação de nossa espécie, assim como de estrelas e planetas, inclusive a Terra e o nosso sol. A ciência do século vinte foi extremamente útil para dar as primeiras respostas sobre o surgimento da vida e do universo.

Assim que essa fronteira for rompida, e tivermos as respostas completas para estas questões seria lógico sepultarmos esse argumento da ignorância. Entretanto, se o passado nos serve de guia, parece que o argumento da ignorância continuará popular e as pessoas que creem em deuses se agarrarão a outro mistério ainda não desvendado. Pelo visto, o argumento da ignorância continuará imune às incontáveis lições que a história nos deu sobre os cada vez menores deuses das lacunas. O fato de os deuses encolherem quando a ciência avança é um dos diversos motivos pelos quais muitos ateus entendem que ciência e religião são incompatíveis.

05 – A suposta falta de sentido. “Se o Deus X não existe, a vida não tem sentido.”

Muitas pessoas usam esse argumento, mas poucas pessoas notam que isso não é um argumento: é apenas a expressão do desejo pessoal de que esse deus exista para dar sentido à sua vida. E não se deve confundir como desejamos que o mundo seja com a maneira como ele realmente é. Quem pensa assim está apenas afirmando que sua vida pode não ter sentido. A afirmação nada nos diz sobre a existência desse deus. Da mesma forma, quem diz “se não existe um milhão de dólares na minha conta, então a vida não tem sentido” definitivamente não está provando a existência daquele milhão de dólares.

Esse tipo de pensamento se chama “raciocínio desejoso”, que ocorre quando o desejo de que certa coisa seja verdade acaba levando à crença de que ela seja verdade. Este raciocínio peca por assumir como verdadeira a ideia de que a vida não tem sentido sem deuses. O fato é que existem centenas de milhões de ateus no mundo, e nada indica que suas vidas estejam vazias de sentido. Aqui também pode estar em curso o preconceito contra os ateus, ou também o fato de que a vida potencialmente sem sentido é a do próprio indivíduo que crê.

06 – A Aposta de Pascal. “Se você acreditar na existência do Deus X poderá ir para o paraíso, caso ele exista; caso ele não exista você não tem nada a perder acreditando nele. Por outro lado, se você não acreditar e ele existir, irá para o inferno.”

Esse é mais um “não argumento”, pois nada nos diz a respeito da existência de deuses. É apenas uma consideração calculista de como agir com relação ao ateísmo, considerando custos e benefícios. Ainda que fosse verdade que é vantajoso acreditar em deuses (e não é), os ateus estão na busca imparcial da verdade, e não de mentiras com grandes potenciais de ganho. Mas analisemos o caso mesmo assim: será o teísmo realmente mais vantajoso do que o ateísmo? Essa proposta chamada aposta de Pascal está cheia de falhas. Em primeiro lugar, Pascal desconhecia ou preferia ignorar a existência de muitos outros deuses além da divindade específica do cristianismo. Como a aposta não indica em qual deus crer, o crente ainda tem uma escolha muito problemática. Se ele escolher crer no Deus X para evitar o inferno X, mas na realidade existir o inferno Y do Deus Y? Ou seja: a aposta pode sair pela culatra porque o indivíduo acreditou no inferno errado, motivo pelo qual esse problema é conhecido por “evitar o inferno errado”.

Não devemos esquecer de que não é verdadeira a ideia de que nada se perde acreditando em um deus que não existe. As pessoas dedicam enormes quantidades de tempo, dinheiro e energia em atividades ligadas a essa crença, isso para não falar nas pessoas que morrem ao rejeitar a medicina em favor de curas milagrosas, nas guerras religiosas que sempre assolaram a humanidade, nas Cruzadas, a Inquisição, perseguições contra religiosos e ateus por motivos religiosos, o sofrimento dos indivíduos por desobedecer entidades que não existem, a discriminação contra mulheres e homossexuais… a lista é longa.

Além disso, se é verdade que para o religioso nada se perde acreditando em mentiras, então quem tem sérias explicações a dar é o religioso, e não o ateu. Você acha que realmente nada se perde acreditando numa mentira? Caso o deus em questão seja onisciente, temos mais um problema, pois ele também teria que ser ingênuo ou burro o suficiente para aceitar como válida uma crença formada a partir de um cálculo de conveniência. E mais: para a aposta funcionar, seria necessário que conseguíssemos acreditar naquilo que na verdade não acreditamos, por um puro ato de vontade. Você seria capaz de acreditar realmente na mula sem cabeça se isso supostamente significasse que você vai ganhar um presente? Os problemas não cessam aí, pois o argumento assume que só existem deuses do tipo que recompensam a crença e punem a descrença. Suponhamos que na realidade existam deuses que valorizem a intelectualidade e a busca honesta da verdade, e que esse suposto Deus recompense a pessoa não pela fé, mas pela busca honesta da verdade. Nesse cenário, a melhor aposta é mesmo descrer.

Por fim, caso existisse mesmo um deus que punisse seres humanos eternamente por “crimes de opinião”, independentemente de quão boas e justas tenham sido suas vidas, então esse não seria um deus digno de ser adorado.

07- Todo mundo acredita em Deus. “Todas as civilizações têm religião. Isso mostra que Deus existe.”

Não, não mostra. Uma mentira repetida mil vezes não vira verdade, assim como um erro muito popular não se torna um acerto. Além disso, é falso que todas as civilizações têm religião (a tribo dos Pirahãs, por exemplo, aqui mesmo no Brasil, não tem crença em nenhuma divindade. Curiosamente, um missionário inglês destacado para convertê-los acabou se tornando ateu.) e é obviamente falso que “todo mundo” acredita em algum deus — quanto mais no deus dos cristãos.

Para cada cristão existem hoje dois não-cristãos. Se muita gente tem a impressão de que não existem ateus é porque muitos descrentes se sentem forçados a ficar “no armário” devido ao preconceito e à discriminação que sofrem. Os cerca de 2% de ateus no Brasil correspondem a quase o triplo do número de umbandistas, judeus e budistas juntos. A idéia de que a popularidade de uma crença prova sua veracidade, ou ao menos é um bom indicador, também é uma falácia. A falácia da popularidade. Muitas crenças que já foram bastante populares no passado, hoje estão desacreditadas. Tanto crenças sobre a natureza como sobre a moral: a idéia de que é certo escravizar ou subjugar certos grupos de pessoas e a idéia de que a Terra é plana ou de que o Sol gira em volta dela são alguns dos exemplos mais conhecidos. O próprio cristianismo já foi uma crença de um pequeno grupo de pessoas em uma época em que os deuses do Olimpo faziam muito mais sucesso. Utilizando a falácia da popularidade, seríamos levados a concluir que naquela época Zeus e Hércules realmente existiam, já que a crença neles era popular.

08 - Deus é como o amor: “você não pode provar que ele existe, mas sabe que ele está lá”.

A analogia é realmente muito boa, mas só prova que, assim como o amor, esse deus só existe dentro da cabeça das pessoas, e não fora. O amor é um estado mental químico causado por um fluxo de substâncias químicas fabricadas no corpo da pessoa apaixonada. Entre as substâncias, estão a adrenalina, noradrenalina, dopamina, oxitocina, vasopressina, serotonina e as endorfinas. Na realidade esse argumento serve para deixar bem claro que nem tudo que sentimos intensamente existe fora de nós. O mesmo vale para todos os outros sentimentos e sensações que conhecemos: ódio, angústia, felicidade, e tudo que vem dos nossos sentidos. Esses fenômenos povoam nossa mente e nosso mundo e sem dúvida são da maior importância para nós, mas isso não quer dizer que eles vão além das fronteiras do nosso sistema nervoso. O mesmo se dá com os deuses.

09 – Deus é como o vento. “Existem muitas coisas que não podemos ver, mas sabemos que existem: o ar, as bactérias, os átomos, etc. O mesmo se dá com Deus”.

A questão da existência não tem nada a ver com a visão: trata-se de provas ou ao menos evidências. E há muitos tipos de evidências além das visuais. Temos todos os sentidos além da visão, temos a lógica e uma enorme variedade de aparelhos e técnicas que nos ajudam a coletar evidências e provas sobre o ar, as bactérias, os átomos e todas as coisas cuja existência damos como certa. Só na esfera místico-religiosa existem entidades cuja existência há quem aceite pacificamente sem evidências, ou mesmo apesar de evidências contrárias: deuses, anjos, espíritos, fantasmas, almas, “energias”, etc.

Pode-se mostrar a existência do ar através de qualquer um de uma série de experimentos simples. O mesmo vale para bactérias e átomos. Só temos certeza de que eles existem em virtude dos resultados conclusivos desses experimentos, que podem ser reproduzidos em qualquer lugar do mundo, sempre com os mesmos resultados, por pessoas de qualquer crença. Mas no caso de divindades, esses experimentos simplesmente não existem, ou são apenas experiências internas que não podem ser reproduzidas por outras pessoas.

10 – A moralidade. “Todos nós temos um sentido de certo e errado, este apelo moral universal aponta para Deus”.

Muitos afirmam que todos nós temos um sentido do certo e do errado, uma consciência que nos coloca sob uma lei superior. Isto os leva a crer que este apelo moral universal aponta para fora da Humanidade. No caso, segundo eles, Deus colocou em nós esta moralidade inata. Portanto, o fato de termos este senso comum do que é certo e do que é errado seria uma prova da existência de Deus. Entretanto, este argumento também se mostra frágil. Na realidade os sistemas éticos baseiam-se no valor que os humanos atribuíram à vida: “bem” é aquilo que melhora a vida, e “mal” é aquilo que a ameaça. Não precisamos de uma divindade para nos dizer que é errado matar, mentir ou roubar.

Os humanos sempre tiveram o potencial para usar as suas mentes para determinar o que é bondoso e razoável. Não existe um “apelo moral universal” e nem todos os sistemas éticos concordam entre si. Poligamia, sacrifícios humanos, canibalismo (eucaristia), espancamento da esposa, automutilação, guerra, circuncisão, castração e incesto são ações perfeitamente “morais” em algumas culturas. Será que Deus está confuso? Os valores residem no interior dos cérebros físicos, portanto se a moralidade aponta para “Deus”, então nós somos Deus: o conceito de Deus é simplesmente uma projeção de ideais humanos. Aquele velho argumento da moralidade onde muito usam a frase: "Se não existe um padrão moral absoluto, então não existe certo e errado absolutos, sem Deus, não há base ética e a ordem social desintegrar-se-ia” é um argumento a favor da crença num Deus, mas, não é um argumento a favor da existência de um Deus.

A exigência de uma moralidade “absoluta” só vem de religiosos inseguros (Voltaire ironizou: “Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”). Pessoas maduras sentem-se confortáveis com o caráter relativo do humanismo, visto que este fornece um quadro de referência consistente, racional e flexível para o comportamento humano ético, sem uma divindade. As leis dos países mais desenvolvidos baseiam-se numa constituição secular, não se baseiam na Bíblia. Quaisquer textos bíblicos que apoiem uma boa lei só fazem isso porque passaram no teste dos valores humanos, que são muito anteriores aos ineficazes Dez Mandamentos. Não há evidência de que os teístas são mais morais que os ateus. De fato, o contrário parece ser verdadeiro, conforme evidenciado por séculos de violência religiosa. Em sua maioria, os ateus são pessoas felizes, produtivas e morais. Mesmo que este argumento fosse verdadeiro, seria de pouco valor prático. Cristãos devotos e crentes na Bíblia não conseguem concordar entre si quanto ao que a Bíblia diz sobre muitas questões morais cruciais. Crentes comumente adotam posições opostas em assuntos tais como pena de morte, aborto, pacifismo, controle de natalidade, suicídio medicamente assistido, direitos dos animais, ambiente, separação entre igreja e estado, direitos dos homossexuais e direitos das mulheres. Disso pode concluir-se que ou há uma multiplicidade de deuses distribuindo conselhos morais contraditórios, ou um único deus está irremediavelmente confuso.

Vários livros como "Why good is good" (Por que o bom é bom), de Robert Hinde, "The science of good and evil" (A ciência do bem e do mal), de Michael Shermer, "Can we be good without God?" (Podemos ser bons sem Deus?), de Robert Buckman, e "Moral minds" (Mentes morais), de Marc Hauser, argumentam que nosso senso de certo e errado é uma consequência de nosso passado darwiniano. A seleção natural durante milhões de anos “criou (desenvolveu)” o senso de moralidade que nós temos hoje.

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