Sexta, 03 Abril 2020 17:01

Refutando o Argumento Cosmológico de Kalam

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O famoso Argumento Cosmológico Kalām, comumente usado por cristãos, muçulmanos e judeus, se baseia em duas premissas com uma terceira conclusão.

1ª premissa: Tudo que veio a existir tem uma causa.

2ª premissa: O universo teve um começo.

Conclusão: Portanto, o universo tem uma causa.

Os teístas afirmam que esta “causa”, é Deus.

Existem vários ângulos que podem ser analisados quanto estamos refutando esse argumento, mas primeiro, vamos dar uma olhada na terminologia usada. Quando eu uso o termo suposição, eu estou discutindo sobre uma afirmação não provada, que foi estabelecida durante a discussão. Então, meu primeiro problema com o Argumento Cosmológico é que ele se apresenta como sendo baseado em leis universais, entretanto, ele distorce essas leis de forma que o argumento possa assim ser validado. Analisando a primeira premissa, a lei de causa e efeito não se aplica sobre criação da matéria ou da energia, isso nunca foi observado portanto é uma hipótese desconhecida, incontável e não testável. A lei de causa e efeito se aplica aos estados de mudança da matéria, seja isso a reorganização de átomos ou a mudança de estados; de sólido para liquido, gasoso ou vice e versa. Assim como também a transferência de energia, liberando-a seja através de calor, movimento ou som, assim como a armazenando outra vez. Esses são os casos onde as leis de causa e efeito têm sido observadas. Agora a criação da matéria e da energia nunca foi observada. Portanto, esse argumento está cometendo a falácia do equívoco. Temos que separar bem isso, causa e efeito se aplica a MUDANÇA da matéria, pois já foi observado, mas não pode ser aplicada a CRIAÇÃO da matéria que não foi observada, sendo algo desconhecido para o     ser humano. Tecnicamente quando você pinta um quadro ou constrói uma casa, você não está realmente criando coisa alguma a nível atômico, tudo o que você está fazendo é usando algo que já existia e transformando-o em algo novo, em escala maior. Para enfatizar um pouco mais, isso significa que, a lei de causa e efeito não está de forma alguma relacionada à criação nem de energia ou matéria.

O segundo problema que tenho com esse argumento é o uso da Falácia da Súplica Especial. Súplica especial é a falácia na qual as pessoas aplicam padrões, princípios, regras a posição opositora, enquanto espera que sua posição esteja isenta das mesmas regras, sem prover explicações adequadas para a isenção. Se tudo requer uma causa, então nós temos um paradoxo conhecido como regressão infinita. Em termos simples: Quem criou o criador? Essa regressão continuaria para sempre (looping infinito). A única forma que os religiosos acharam para burlar esse paradoxo é declarar que Deus não se restringe a lei de causa e efeito que eles afirmam serem aplicadas ao universo. Da mesma forma podemos declarar que a existência do universo também não se restringe a essas leis. Se o universo passou a existir em algum ponto eu posso dizer que ele pode fazer isso sem a necessidade de um criador. Essa afirmação segue a mesma linha de que Deus é capaz de existir sem um criador. Entretanto, entre essa suposição e a ideia de que o universo passou a existir, eles também necessitam de suposições extras.

Nós vemos que os teístas são deixados com três suposições, lembrando serem apenas suposições.

Deus existe.

Deus não requer um criador.

Deus criou o universo.

Já no caso de supormos que o universo sempre existiu ou que surgiu sem a necessidade de um criador temos apenas uma suposição.

O universo sempre existiu ou surgiu sem a necessidade de um criador

Segundo a ferramenta filosófica da Navalha de Occam “quando se explica algo, nenhuma suposição além do necessário deveria ser feita.” O argumento que puder chegar mais longe respondendo questões com o menor número de suposições é filosoficamente e cientificamente, o superior, e deveria ser aceito até que novas evidências venham à tona. O que eu mostrei com a estabilização do argumento através da rejeição da falácia teísta da Súplica Especial, “de que somente Deus pode existir sem a necessidade de um criador” é que Deus é um passo desnecessário. Adicionando três novas suposições que são desnecessárias em comparação a uma única suposição “de que o universo poderia existir sem um criador.” Sem falar que não importa o quão superior seja meu argumento, se eles provassem a existência de Deus e então propusessem que Deus criou o universo, essas ainda seriam suposições. O Argumento Cosmológico de Kalām requer dos teístas a prova prévia de que Deus existe, de que ele não requer um criador e que ele criou o universo. Assim, o Argumento Cosmológico Kalām torna-se obsoleto como um argumento.

A grande verdade é que ainda não sabemos todos os mistérios do universo. A ciência já fez grandes avanços neste assunto nos últimos 100 anos, mas, ainda a muito a descobrir. A teoria do big bang esclarece muita coisa, entretanto, não sabemos ainda se existia algo antes do big bang, e no caso, o que existia. Já foram formuladas teorias interessantes sobre isso, como a teoria dos multiuniversos, a teoria das cordas, as recentes descobertas quânticas que nos mostraram que é possível matéria surgir do nada, que a soma de energia negativa e positiva no universo é igual à zero (portanto, teoricamente seria possível a energia ter surgido do nada), entre outras descobertas que a ciência tem feito e que nos fazem pensar. Agora, o que a maioria das pessoas fazem é não reconhecer que nosso conhecimento ainda é limitado e passam a CRIAR UM DEUS para preencher essa lacuna que ainda não entendemos. Acho isso uma desonestidade intelectual e uma arrogância muito grande do ser humano inventar um suposto "Deus" e resolver em nossas mentes que ele supostamente "nunca teve principio e nunca teve fim, que ele é atemporal, está além das leis da física, etc..." e colocar este suposto ser nesta lacuna que ainda não compreendemos. O pior de tudo é que este suposto "Deus" que foi criado pela mente humana para preencher esta lacuna que ele não entende, ao invés de resolver o problema, cria outro muito maior. Pois, se partimos do pressuposto de que o universo é complexo demais para ter surgido do nada, o suposto criador do universo é muito mais complexo ainda para ter surgido do nada! Se a complexidade de algo determina que ela necessita de um criador, então o criador, sendo ainda mais complexo do que a criação, irá precisar de um criador também. Assim, partindo por esse raciocínio, ele precisaria ainda mais de uma explicação sobre sua origem! Quem criou o criador? Não podemos usar dois pesos e duas medidas, se o criador sempre existiu, o universo também pode ter sempre existido! Agora se o universo teve um início o suposto criador também teve e não pode ter surgido do nada! Entende a regressão infinita que nos leva esse suposto criador?

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