Sexta, 18 Agosto 2023 22:59

O Sacrifício de Jefté

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O Sacrifício de Jefté é uma das passagens mais complicadas para os religiosos interpretarem na Bíblia. O sacrifício foi feito por Jefté, um líder de Israel no tempo dos juízes. Naquele período a nação de Israel estava sendo subjugada pelos amonitas, e Jefté foi o homem escolhido para libertar o povo daquela opressão. Então Jefté fez um voto ao Senhor prometendo que se Israel fosse vitorioso naquela batalha e ele voltasse em paz para sua casa, ele ofereceria em holocausto ao Senhor o primeiro que saísse da porta de sua casa (Juízes 11:30). O problema no voto de Jefté é que quem primeiro saiu da porta de sua casa quando ele retornou em paz após vencer os amonitas foi uma pessoa; mais especificamente sua única filha (Juízes 11:34). A filha Jefté lhe saiu ao encontro comemorando a vitória que o Senhor tinha dado a Israel. Mas quando ele viu que era sua filha, imediatamente ele ficou completamente abatido. Ele rasgou suas vestes em sinal de lamentação, mas admitiu que como tinha dado sua palavra ao Senhor, não poderia voltar atrás (Juízes 11:35).

A filha de Jefté reagiu àquela situação com muita compreensão. Ela disse que Jefté deveria cumprir seu voto, ou seja, fazer dela o que ele havia prometido ao Senhor. Antes, porém, a única coisa que ela pediu é que Jefté lhe permitisse chorar sua virgindade por dois meses antes de o voto ser cumprido (Juízes 11:37). E assim foi feito. A filha de Jefté e suas amigas foram para as colinas e choraram a sua virgindade. Quando os dois meses acabaram, o voto de Jefté foi cumprido. O texto bíblico diz: “E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha feito; e ela não conheceu varão. E daqui veio o costume em Israel, que as filhas de Israel iam de ano em ano a lamentar a filha de Jefté, o gileadita, por quatro dias no ano” (Juízes 11:39-40).

A interpretação natural defende que o voto de Jefté significou a morte de sua filha. Ele prometeu que ofereceria um holocausto após a vitória. O significado básico da palavra “holocausto” na Bíblia é “oferta queimada”. Em outras palavras, Jefté prometeu apresentar uma oferta queimada sobre o altar ao Senhor. Como sua filha foi a primeira a lhe sair ao encontro, ele teve de matar a própria filha. O que deixa os religiosos constrangidos com esse relato é o fato de que Jefté é bem recomendado na sequência do texto bíblico. O profeta Samuel falou dos dias de liderança de Jefté. No Novo Testamento, Jefté também aparece entre os heróis da fé. Também, pouco antes de o texto bíblico registrar o voto de Jefté, o mesmo texto informa que o “Espírito do Senhor veio sobre Jefté” (Juízes 11:29). Isso significava uma capacitação especial para o seu serviço. A leitura mais natural e obvia de Juízes 11 favorece a ideia de que o voto de Jefté implicou num sacrifício humano que jamais deveria ter ocorrido. Inclusive, o texto termina falando de um costume em Israel que teve lugar depois do cumprimento do voto de Jefté, em que as mulheres celebravam a memória da filha de Jefté ­– como se de fato ela tivesse sido morta (Juízes 11:39).

Alguns religiosos numa tentativa desesperada de procurar inocentar a Jefté, afirmam que o cumprimento do seu voto não significou a morte de sua única filha, mas simplesmente a dedicação dela ao Senhor, como virgem, pelo resto de sua vida. Os defensores dessa posição argumentam: 1) O fato de Jefté haver sido usado pelo “Espírito do Senhor” na batalha contra os amonitas o impediria de fazer um voto contrário à vontade de Deus (ver Deuteronômio 12:31; 18:9 e 10); 2) A enunciação do voto em Juízes 11:31 sugere que se fosse um animal quem primeiro saísse da casa, este seria oferecido “em holocausto”, mas se fosse uma pessoa, esta seria simplesmente dedicada ao “Senhor” (ver Romanos 12:1); 3) A expressão “jamais foi possuída por varão” (Juízes 11:39) significa que a filha de Jefté continuou vivendo como virgem; 4) Se Jefté a houvesse realmente sacrificado,  o nome dele não apareceria entre os heróis da fé, em Hebreus 11:32.

Entretanto, a linguagem do próprio texto não deixa dúvidas de que Jefté realmente ofereceu sua filha em sacrifício.  1) Jefté certamente estava familiarizado com a prática de sacrifícios humanos das nações circunvizinhas (ver Juízes 11:1-3, 24); 2) Juízes 11:31 sugere claramente que a pessoa que primeiro saísse da casa de Jefté seria dedicada ao Senhor “em holocausto”; 3) A reação de Jefté em Juízes 11:35 seria exagerada se a questão envolvida fosse apenas a dedicação de sua filha em celibato ao Senhor; 4) Não faria sentido chorar “a sua virgindade” por “dois meses” (Juízes 11:38) já que a moça continuaria virgem; 6) O próprio texto declara que Jefté fez com sua filha “segundo o voto por ele proferido” (Juízes 11:39);

Vemos aí neste relato mais um claro exemplo de embaraço dos religiosos diante de uma passagem clara na bíblia. Se analisarmos a bíblia como um livro que retrata os povos antigos e simplesmente reflete os costumes da época, fica natural entendermos esse sacrifício humano feito por Jefté. Sabemos que sacrifícios humanos eram comuns nos povos antigos e muitos guerreiros faziam esses sacrifícios para terem êxito em suas batalhas. Com os povos que habitavam a mesopotâmia não era diferente. Estes povos bárbaros e tribais faziam isso com frequência. Esse relato que se encontra na bíblia provavelmente era um mito ou uma lenda que circulava entre aqueles povos e passou a fazer parte da tradição dos hebreus. Por fim, quando foi registrado se tornou a base do que encontramos hoje nas bíblias atuais. Se analisarmos tal passagem como sendo inspirada por Deus causa esse constrangimento entre os religiosos. Mas se considerarmos como realmente é, um relato escrito por homens primitivos que refletem a mentalidade daqueles povos tribais não provoca nenhum constrangimento.

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