Em 2 Reis 2:24, um profeta pede a Deus que castigue as crianças que estavam zombando de sua careca. E imediatamente surgem duas ursas e despedaçam os 42 jovens desrespeitosos. Em 1 Samuel 6:19, Deus não gostou que homens de Bete-Semes tivessem olhado dentro de sua enigmática arca e, em represália, matou 50.070. 

O cético e estudioso da Bíblia Steve Wells anotou todas as mortes, como essas, registradas nas sagradas escrituras cometidas direta ou indiretamente por Deus, ou em nome Dele, e as somou. Deu o total de 2.552.452 (ver vídeo abaixo). Pelos relatos bíblicos, Deus foi a causa de muito mais mortes, porque há ali eventos, como guerras santas, massacres étnicos e pragas e outros, como o dilúvio de Noé, cujo número de vítimas não é mencionado. Welles fez uma estimativa sobre o montante dessas mortes, para ter uma ideia do total que seria mais condizentes com os registros bíblicos. Ele estimou, por exemplo, que no dilúvio morreram 20 milhões de pessoas. Em outro caso, ele avaliou que morreram 70.000 pessoas na fome descrita em Gênesis 41:25-54. 


Welles também “corrigiu” alguns números de mortes os quais ele entendeu estarem subestimados na Bíblia. No caso do afogamento do exército egípcio (Êxodo 14:18-26), a Bíblia diz que morreram 600 soldados. Na avaliação do estudioso, morreram 5.000. O total de mortes estimadas por Welles dá 24.712.019. Os números do estudioso americano evidentemente podem ser questionados, porque não se baseiam em nenhum critério científico, até porque, para os céticos, em um exemplo, nunca houve arca de Noé. Mas Wells pode ser acusado tanto de ter inflado os números como de ter subestimado-os. Há quem, por exemplo, acredite que na época de Noé existiam mais de 20 milhões de pessoas. De qualquer forma, deixando as estimativas de Wells de lado, a quantidade parcial de 2.552.452 mortes, conforme está pela Bíblia, já é mais do que suficiente para desmoralizar qualquer deus, do ponto de vista humanitário e laico. De acordo com o levantamento de Welles, a Bíblia registra apenas 10 mortes sob a responsabilidade de Satanás.

Fonte: Paulopes

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Publicado em INJUSTIÇAS
Domingo, 24 Abril 2016 13:52

O Grande Plano

Publicado em CARTOONS

O ator americano Morgan Freeman (foto) tornou público a sua descrença em Deus em uma entrevista em meados de 2012 à revista Wrap. Ele disse que quem criou Deus foi o homem. O ser humano, portanto, é o deus de deus. No filme Bruce Almighty (“Todo Poderoso”, no título no Brasil), lançado em 2003, Freeman interpretou Deus. Morgan Porterfield Freeman Jr nasceu no dia 1º de junho de 1937 em Memphis, Tennessee. É filho de Mayne Edna Revere e Morgan. Tem cinco irmãos. Passou parte de sua infância com a avó em Charleston, Mississippi. Pretendia se tornar piloto das Forças Aéreas, mas só conseguiu ser mecânico de aviões. A sua formação como ator ocorreu na década de 1960 em palcos de teatro. Fez filmes e novelas para televisão. Em 2005, ganhou o Oscar de “Melhor Ator Coadjuvante” pela interpretação do ex-boxeador Eddie Scrap-Iron Dupris em Million Dollar Baby (“Menina de Ouro”, no Brasil). De voz marcante, tem sido convidado para narração e apresentação no cinema e TV.

 
No dia 9 de junho de 2010, a Science Channel começou a apresentar Through the Wormhole with Morgan Freeman. Trata-se de uma série de documentário científico que chegou a quatro temporadas abordando temas como “Existe um criador?”, “O que houve antes do ‘começo’"?, “É possível viajar no tempo?”, “Do que realmente somos feitos?”, “O sexto sentido existe?”, “Como O Universo Funciona?”, “O Que é o Nada?”, “O Que Nos Faz Ser Quem Nós Somos?” e “Podemos Sobreviver à morte do sol?” A série tem sido reprisada na TV a cabo brasileira com o nome de “Grandes Mistérios do Universo com Morgan Freeman”. O fato de ter lido muita ficção científica, principalmente de Isaac Asimov e Robert A. Heinlein, contribuiu para que aceitasse o convite para apresentar Through the Wormhole. Além disso, explicou, sempre teve interesse em pessoas que são fascinadas “com o que acontece lá fora”. Na entrevista à Wrap, Freeman não respondeu à pergunta se é ateu ou agnóstico. “É uma pergunta difícil, porque, como disse no início [da entrevista], acho que quem inventou Deus foi o homem. Então, eu acredito em Deus porque eu acho que sou Deus.” Ele afirmou que não podia acreditar no deus dos religiosos porque não há provas científicas de que tal entidade existe. “O que temos são teorias de profetas da antiguidade que acreditavam que há 6.000 Deus criou a Terra”, disse. Para ele, isso é apenas uma crença.
 
Fonte: Paulopes

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Publicado em NOTÍCIAS

Quando as pessoas são questionadas sobre a hipótese da existência de Deus a maioria dos argumentos giram em torno dos seguintes pontos

1- As "provas" de São Tomás de Aquino
2- O argumento da moralidade
3- O argumento da beleza
4- O argumento da "experiência" Pessoal
5- O argumento das escrituras
6- O argumento dos cientistas admirados e religiosos
7- A aposta de Pascal.

A partir de agora irei analisá-los aqui um por um para vermos se tais argumentos tem fundamentos sólidos ou são apenas tentativas desesperadas de tentar provar algo que na realidade não tem comprovação.

 

AS "PROVAS" DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 

As cinco "provas" declaradas por Tomás de Aquino no século XIII não provam nada, e é fácil — embora eu hesite em dizê-lo, dada sua eminência — mostrar como são vazias. As três primeiras são apenas modos diferentes de dizer a mesma coisa, e podem ser analisadas juntas. Todas envolvem uma regressão infinita — a resposta a uma pergunta suscita uma pergunta anterior, e assim infinitamente.

1- O Motor que Não é Movido. Nada se move sem um motor anterior. Isso nos leva a uma regressão, da qual a única escapatória é Deus. Alguma coisa teve de fazer a primeira se mover, e a essa alguma coisa chamamos Deus.

2- A Causa sem Causa. Nada é causado por si só. Todo efeito tem uma causa anterior, e novamente somos forçados à regressão. Ela só é concluída por uma causa primeira, a que chamamos Deus.

3- O Argumento Cosmológico. Deve ter havido uma época em que não existia nada de físico. Mas, como as coisas físicas existem hoje, tem de ter havido algo de não físico para provocar sua existência, e a esse algo chamamos Deus.

Esses três argumentos baseiam-se na ideia da regressão e invocam Deus para encerrá-la. Eles assumem, sem nenhuma justificativa, que Deus é imune à regressão. Mesmo que nos dermos ao duvidoso luxo de conjurar arbitrariamente uma terminação para a regressão infinita e lhe dermos um nome, não há absolutamente nenhum motivo para dar a essa terminação as propriedades normalmente atribuídas a Deus: onipotência, onisciência, bondade, criatividade de design, sem falar de atributos humanos como atender a preces, perdoar pecados e ler os pensamentos mais íntimos. Por falar nisso, aos especialistas em lógica não escapou que a onisciência e a onipotência são incompatíveis entre si. Se Deus é onisciente, ele já tem de saber que vai intervir para mudar o curso da história usando sua onipotência. Mas isso significa que ele não pode mudar de ideia sobre a intervenção, o que significa que ele não é onipotente. Karen Owens captou esse divertido paradoxo em um verso igualmente cativante: "Pode Deus onisciente, que Sabe o futuro, encontrar a onipotência de mudar sua ideia futura?"

Para retomar a regressão infinita e a ineficácia de invocar Deus para encerrá-la, seria mais parcimonioso conjurar, digamos, a "singularidade do big bang" ou algum outro conceito físico ainda desconhecido. Chamar isso de Deus é na melhor das hipóteses inútil e, na pior, perniciosamente enganador. A Receita Absurda para fazer Filés Esfarelosos, de Edward Lear, convida-nos a "tomar algumas tiras de carne e, depois de cortá-las nos menores pedaços possíveis, prosseguir cortando-os ainda menores, oito ou quem sabe nove vezes". Algumas regressões chegam, sim, a uma terminação. Os cientistas costumavam ficar imaginando o que aconteceria se pudessem dissecar, digamos, o ouro nas menores partículas possíveis. Por que não se poderia cortar uma dessas partículas pela metade e produzir um farelo ainda menor de ouro? A regressão nesse caso é encerrada de maneira decisiva pelo átomo. A menor partícula possível de ouro é um núcleo que consista de exatamente 79 prótons e um número ligeiramente maior de nêutrons, acompanhado de um enxame de 79 elétrons. Se "cortarmos" o ouro além do nível de um único átomo, qualquer coisa que se obtiver já não será mais ouro. O átomo fornece uma terminação natural ao tipo de regressão dos Filés Esfarelosos. Não está de maneira nenhuma claro que Deus seja uma terminação natural para a regressão de Tomás de Aquino. Isso para dizer o menos, como veremos adiante. Avancemos na lista de Tomás de Aquino:

4- O Argumento de Grau. Percebemos que as coisas do mundo diferem entre si. Há graus de, digamos, bondade ou perfeição. Mas só julgamos esses graus se em comparação a um máximo. Os seres humanos podem ser tanto bons quanto ruins, portanto o máximo da bondade não pode estar em nós. Tem de haver, portanto, algum outro máximo para estabelecer o padrão da perfeição, e a esse máximo chamamos Deus. Isso é um argumento? Também seria possível dizer: as pessoas variam quanto ao fedor, mas só podemos fazer a comparação pela referência a um máximo perfeito de fedor concebível. Tem de haver, portanto, um fedorento inigualável, e a ele chamamos Deus. Ou substitua qualquer dimensão de comparação que quiser, derivando uma conclusão igualmente idiota.

5- O Argumento Teleológico, ou O Argumento do Design. As coisas do mundo, especialmente as coisas vivas, parecem ter sido projetadas. Nada que conhecemos parece ter sido projetado a menos que tenha sido projetado. Tem de haver, portanto, um projetista, e a ele chamamos Deus. Tomás de Aquino usou a analogia de uma flecha avançando para o alvo, mas um míssil antiaéreo moderno guiado a calor teria se adequado melhor a seus propósitos. O argumento do design é o único que ainda é regularmente usado hoje em dia, e ainda soa para muita gente como o argumento determinante do nocaute. O jovem Darwin ficou impressionado com ele quando, estudante de graduação em Cambridge, o leu na Teologia natural de William Paley. Infelizmente para Paley, o Darwin maduro virou a mesa. Provavelmente jamais houve uma derrubada tão devastadora de uma crença popular através de um raciocínio inteligente quanto a destruição do argumento do design perpetrada por Charles Darwin. Foi totalmente inesperado. Graças a Darwin, já não é verdade dizer que as coisas só podem parecer projetadas se tiverem sido projetadas. A evolução pela seleção natural produz um excelente simulacro de design, acumulando níveis incríveis de complexidade e elegância. Podemos resumir os argumentos contra o design inteligente em 6 pontos:

1- Um dos grandes desafios para o intelecto humano, ao longo dos séculos, vem sendo explicar de onde vem a aparência complexa e improvável de design no universo.

2- A tentação natural é atribuir a aparência de design a um design verdadeiro. No caso de um artefato de fabricação humana, como um relógio, o projetista realmente era um engenheiro inteligente. É tentador aplicar a mesma lógica a um olho ou a uma asa, a uma aranha ou a uma pessoa.

3- A tentação é falsa, porque a hipótese de que haja um projetista suscita imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista. O problema que tínhamos em nossas mãos quando começamos era o da improbabilidade estatística. Obviamente não é solução postular uma coisa ainda mais improvável. Precisamos de um "guindaste", não de um "guincho celeste", pois apenas um guindaste é capaz de avançar de forma gradativa e plausível da simplicidade para a complexidade, que de outra maneira seria improvável.

4- O guindaste mais engenhoso e poderoso descoberto até agora é a evolução darwiniana, pela seleção natural. Darwin e seus sucessores mostraram como as criaturas vivas, com sua improbabilidade estatística espetacular e enorme aparência de ter sido projetadas, evoluíram através de degraus gradativos, a partir de um início simples. Podemos dizer hoje com segurança que a ilusão do design nas criaturas vivas não passa disso — uma ilusão.

5- Não temos ainda um guindaste equivalente para a física. Alguma teoria do tipo da do multiuniverso pode em princípio fazer pela física o mesmo trabalho explanatório que o darwinismo fez pela biologia. Esse tipo de explicação é, na superfície, menos satisfatório que a versão biológica do darwinismo, porque faz exigências maiores à sorte. Mas o princípio antrópico nos dá o direito de postular uma dose de sorte bem maior que aquela com a qual nossa intuição humana limitada consegue se sentir confortável.

6- Não devemos perder a esperança de que surja um guindaste melhor na física, algo tão poderoso quanto o darwinismo é para a biologia. Mas, mesmo na ausência de um guindaste altamente satisfatório equivalente ao biológico, os guindastes relativamente fracos que temos hoje são, com a ajuda do princípio antrópico, obviamente melhores que a hipótese contraproducente de um guincho celeste, o projetista inteligente.

 

O ARGUMENTO DA MORALIDADE

Muitos afirmam que todos nós temos um sentido do certo e do errado, uma consciência que nos coloca sob uma lei superior. Isto os leva a crer que este apelo moral universal aponta para fora da Humanidade. No caso, segundo eles, Deus colocou em nós esta moralidade inata. Portanto, o fato de termos este senso comum do que é certo e do que é errado seria uma prova da existência de Deus. Entretanto, este argumento também se mostra frágil. Na realidade os sistemas éticos baseiam-se no valor que os humanos atribuíram à vida: “bem” é aquilo que melhora a vida, e “mal” é aquilo que a ameaça. Não precisamos de uma divindade para nos dizer que é errado matar, mentir ou roubar. Os humanos sempre tiveram o potencial para usar as suas mentes para determinar o que é bondoso e razoável. Não existe um “apelo moral universal” e nem todos os sistemas éticos concordam entre si. Poligamia, sacrifícios humanos, canibalismo (eucaristia), espancamento da esposa, automutilação, guerra, circuncisão, castração e incesto são ações perfeitamente “morais” em algumas culturas. Será que Deus está confuso?

Os valores residem no interior dos cérebros físicos, portanto se a moralidade aponta para “Deus”, então nós somos Deus: o conceito de Deus é simplesmente uma projeção de ideais humanos. Aquele velho argumento da moralidade onde muito usam a frase: "Se não existe um padrão moral absoluto, então não existe certo e errado absolutos, sem Deus, não há base ética e a ordem social desintegrar-se-ia” é um argumento a favor da crença num Deus, mas, não é um argumento a favor da existência de um Deus. A exigência de uma moralidade “absoluta” só vem de religiosos inseguros (Voltaire ironizou: “Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”). Pessoas maduras sentem-se confortáveis com o caráter relativo do humanismo, visto que este fornece um quadro de referência consistente, racional e flexível para o comportamento humano ético, sem uma divindade.

As leis dos países mais desenvolvidos baseiam-se numa constituição secular, não se baseiam na Bíblia. Quaisquer textos bíblicos que apoiem uma boa lei só fazem isso porque passaram no teste dos valores humanos, que são muito anteriores aos ineficazes Dez Mandamentos. Não há evidência de que os teístas são mais morais que os ateus. De fato, o contrário parece ser verdadeiro, conforme evidenciado por séculos de violência religiosa. Em sua maioria, os ateus são pessoas felizes, produtivas e morais. Mesmo que este argumento fosse verdadeiro, seria de pouco valor prático. Cristãos devotos e crentes na Bíblia não conseguem concordar entre si quanto ao que a Bíblia diz sobre muitas questões morais cruciais. Crentes comumente adotam posições opostas em assuntos tais como pena de morte, aborto, pacifismo, controle de natalidade, suicídio medicamente assistido, direitos dos animais, ambiente, separação entre igreja e estado, direitos dos homossexuais e direitos das mulheres. Disso pode concluir-se que ou há uma multiplicidade de deuses distribuindo conselhos morais contraditórios, ou um único deus está irremediavelmente confuso.

Vários livros como "Why good is good" (Por que o bom é bom), de Robert Hinde, "The science of good and evil" (A ciência do bem e do mal), de Michael Shermer, "Can we be good without God?" (Podemos ser bons sem Deus?), de Robert Buckman, e "Moral minds" (Mentes morais), de Marc Hauser, argumentam que nosso senso de certo e errado é uma consequência de nosso passado darwiniano. A seleção natural durante milhões de anos “criou” o senso de moralidade que nós temos hoje.

 

O ARGUMENTO DA BELEZA

Um personagem do romance de Aldous Huxley provou a existência de Deus tocando o Quarteto de cordas nº 15 em lá menor de Beethoven ("heiligerDankgesang") num gramofone. O argumento pode parecer pouco convincente, mas ele realmente representa uma vertente bem popular. Já desisti de contar o número de vezes que recebo o questionamento mais ou menos truculento: "Como então você explica Shakespeare?" (Troque a gosto por Schubert, Michelangelo etc.) O argumento é tão familiar que não preciso documentá-lo mais. Mas a lógica por trás dele nunca é esclarecida, e quanto mais se pensa sobre ele mais vazio se percebe que ele é. É óbvio que os últimos quartetos de Beethoven são sublimes. Assim como os sonetos de Shakespeare. São sublimes se Deus existe e são sublimes se não existe. Eles não provam a existência de Deus; eles provam a existência de Beethoven e Shakespeare. Atribui-se a um grande maestro a seguinte declaração: "Se você tem Mozart para ouvir, para que precisa de Deus?".

Veja o exemplo da Capela Sistina ou da Anunciação de Rafael. Até mesmo grandes artistas têm de ganhar a vida, e eles aceitam encomendas onde há encomendas. Não tenho nenhum motivo para duvidar que Rafael e Michelangelo tenham sido cristãos — era basicamente a única opção no tempo deles —, mas esse fato é quase incidental. Sua enorme riqueza havia transformado a Igreja no patrono dominante das artes. Se a história tivesse sido diferente, e Michelangelo tivesse sido contratado para pintar o teto de um Museu de Ciência gigante, ele não poderia ter produzido uma coisa no mínimo tão inspiradora quanto a Capela Sistina? Como é triste o fato de que jamais ouviremos a "Sinfonia mesozóica", de Beethoven, ou a ópera "O universo em expansão", de Mozart. E que pena sermos privados do "Oratório da evolução" de Haydn, mas isso não nos impede de apreciar sua Criação. Para abordar o argumento pelo outro lado, e se Shakespeare tivesse sido obrigado a trabalhar em encomendas da Igreja? Certamente teríamos perdido Hamlet, Rei Lear e Mac-beth. E o que teríamos ganhado em troca? Os tecidos de que são feitos os sonhos? Vá sonhando. Se existe um argumento lógico que ligue a existência de grandes obras de arte à existência de Deus, ele não é esclarecido por seus proponentes. Simplesmente se assume que ele é evidente por si só, coisa que certamente não é. Talvez ele deva ser encarado como mais uma versão para o argumento do design: o cérebro musical de Schubert é uma maravilha da improbabilidade, mais ainda que o olho dos vertebrados. Ou, para falar de modo mais desdenhoso, talvez seja uma espécie de inveja da genialidade. Como outro ser humano se atreve a fazer música/poesia/arte tão bela e eu não? Deve ter sido Deus quem fez.

 

O ARGUMENTO DA "EXPERIÊNCIA" PESSOAL

Um dos meus colegas de faculdade mais maduros e mais inteligentes, que era profundamente religioso foi acampar. No meio da noite ele e a namorada foram despertados em sua barraca pela voz do diabo — Satã em pessoa; não havia dúvida possível: a voz era diabólica em todos os sentidos. Meu amigo jamais esqueceria aquela experiência terrível e ela foi um dos fatores que mais tarde o levaram a ser ordenado ministro religioso. Jovem, fiquei impressionado com sua história, e a contei numa reunião de zoólogos. Dois deles, por acaso, eram ornitólogos experientes e caíram na gargalhada. "Pardela-sombria!", gritaram em coro, rindo. Um deles acrescentou que os gritos e cacarejes da espécie garantiram a ela, em várias partes do mundo e em várias línguas, o apelido local de "pássaro do diabo". Muita gente acredita em Deus porque acredita ter tido uma visão dele — ou de um anjo ou de uma virgem de azul — com seus próprios olhos. Ou que ele fala com eles dentro de sua cabeça. Esse argumento da experiência pessoal é o mais convincente para aqueles que afirmam ter passado por uma. Mas é o menos convincente para todo o resto, e para qualquer pessoa que conheça psicologia. Você diz que sentiu Deus diretamente? Bem, tem gente que sentiu um elefante cor-de-rosa, mas isso provavelmente não vai impressioná-lo. Peter Sutcliffe, o Estripador de Yorkshire, ouvia distintamente a voz de Jesus dizendo-lhe para matar mulheres, e foi condenado à prisão perpétua. George W. Bush afirma que Deus disse a ele que invadisse o Iraque (é uma pena que Deus não tenha lhe concedido a revelação de que não havia armas de destruição em massa). Pacientes de sanatórios acham que são Napoleão ou Charlie Chaplin, ou que o mundo inteiro conspira contra eles, ou que podem transmitir seus pensamentos para a cabeça de outras pessoas. Divertimo-nos com elas, mas não levamos a sério suas crenças internamente reveladas, principalmente porque pouca gente tem as mesmas crenças. As experiências religiosas só são diferentes no fato de que as pessoas que alegam tê-las tido são muito numerosas. Sam Harris não estava sendo cínico em excesso quando escreveu, em The end of faith [Fim da fé]:

"Temos nomes para as pessoas que têm muitas crenças para as quais não há justificativa racional. Quando suas crenças são extremamente comuns, nós as chamamos de "religiosas"; nos outros casos, elas provavelmente serão chamadas de "loucas", "psicóticas" ou "delirantes" [...] Claramente, a sanidade está nos números. E, mesmo assim, é apenas um acidente da história o fato de ser considerado normal em nossa sociedade acreditar que o Criador do universo é capaz de ouvir nossos pensamentos, enquanto é uma demonstração de doença mental acreditar que ele está se comunicando com você fazendo a chuva bater em código Morse na janela de seu quarto. Assim, se as pessoas religiosas não são generalizadamente loucas, suas principais crenças absolutamente o são".

O cérebro humano executa um avançadíssimo software de simulação. Nossos olhos não apresentam ao cérebro uma fotografia fiel do que há por aí, ou um filme preciso do que está acontecendo ao longo do tempo. Nosso cérebro constrói um modelo que é constantemente atualizado: atualizado por pulsos codificados que circulam pelo nervo óptico, mas de toda forma construído. As ilusões de óptica são um forte lembrete desse fato. Uma importante classe de ilusões, das quais o Cubo de Necker é um exemplo, ocorre porque os dados sensoriais recebidos pelo cérebro são compatíveis com dois modelos alternativos de realidade. A figura para a qual olhamos parece, quase literalmente, virar uma outra coisa. O programa de simulação do cérebro é especialmente habilitado para construir rostos e vozes. Tenho no peitoril da janela uma máscara de plástico de Einstein. Quando vista de frente, ela parece um rosto sólido, o que não é de surpreender. O surpreendente é que, quando vista de trás — do lado oco —, ela também parece um rosto sólido, e a percepção que temos dela é mesmo muito estranha. Conforme o observador se move em torno dele, o rosto parece segui-lo — e não no sentido frágil e pouco convincente daquela história de que os olhos da Mona Lisa seguem o observador. A máscara oca parece mesmo, mesmo, estar se mexendo. Quem nunca viu a ilusão perde o fôlego, impressionado. O mais estranho é que, se a máscara for colocada sobre uma mesa giratória que rode devagar, ela parece virar na direção correta quando se olha para o lado sólido, mas na direção oposta quando o lado oco aparece. O resultado é que, quando se olha para a transição de um lado para o outro, o lado que está chegando parece "comer" o lado que está indo embora. É uma ilusão incrível, vale a pena se meter em encrencas só para vê-la. Às vezes dá para chegar surpreendentemente perto do rosto oco sem ver que ele é "mesmo" oco. Quando você consegue enxergar, novamente há uma virada rápida, que pode ser reversível. Por que isso acontece? Não há truque na construção da máscara. Qualquer máscara oca fará a mesma coisa. O truque está todo no cérebro do observador. O programa de simulação interno recebe dados que indicam a presença de um rosto, talvez nada mais que um par de olhos, um nariz e uma boca nos lugares mais ou menos certos. Depois de receber essas indicações básicas, o cérebro faz o resto. O programa de simulação de rostos entra em ação e constrói um modelo plenamente sólido de rosto, apesar de a realidade apresentada aos olhos ser uma máscara oca. A ilusão da rotação para a direção errada acontece porque (é bem difícil, mas se você pensar bastante sobre isso vai confirmá-lo) a rotação reversa é o único modo de interpretar os dados ópticos quando uma máscara oca está rodando, se ela é percebida como uma máscara sólida. É como a ilusão de uma imagem rotativa de radar, daquelas que às vezes se vêem em aeroportos. Até que o cérebro mude para o modelo correto de radar, um modelo incorreto é enxergado rodando na direção errada, mas de um jeito estranhamente torto. Digo tudo isso só para demonstrar o poder formidável do programa de simulação do cérebro. Ele é bem capaz de construir "visões" e "visitas" com enorme poder de veracidade. Simular um fantasma ou um anjo ou a Virgem Maria seria brincadeira de criança para um software tão sofisticado. E a mesma coisa acontece com a audição. Quando ouvimos um som, ele não é fielmente transportado pelo nervo auditivo e entregue ao cérebro como se por um Bang & Olufsen de alta-fidelidade. Assim como na visão, o cérebro constrói um modelo de som, baseado nos dados continuamente atualizados do nervo auditivo. É por isso que ouvimos o trompete como uma única nota, e não como a composição da harmonia de tons puros que lhe dá seu som metalizado. Um clarinete que toque a mesma nota soa "amadeirado", e um oboé soa mais "caniçado", por causa dos equilíbrios diferentes na harmonia. Se você manipular com cuidado um sintetizador de som para mostrar as harmonias independentes uma a uma, o cérebro as ouvirá como uma combinação de tons puros por um breve período, até que seu programa de simulação "capte" a coisa, e a partir de então ouve-se apenas uma única nota de puro trompete, ou oboé, ou o que quer que seja. As vogais e as consoantes do discurso são construídas no cérebro da mesma maneira, assim como, num nível superior, os fonemas e as palavras. Uma vez, quando era criança, ouvi um fantasma: uma voz masculina murmurando, como se recitando ou rezando. Quase conseguia distinguir as palavras, mas não chegava a isso, e elas pareciam ter um timbre sério e solene. Tinham me contado histórias sobre os esconderijos de padres nas casas antigas, e eu estava um pouco assustado. Conforme me aproximei, o som ficou mais alto, e então, de repente, ele "virou" dentro da minha cabeça. Eu já estava perto o suficiente para discernir do que realmente se tratava. O vento, soprando pelo buraco da fechadura, estava criando sons que o programa de simulação do meu cérebro havia usado para construir um modelo de discurso masculino, de tom solene. Se eu fosse uma criança mais impressionável, é possível que tivesse "ouvido" não apenas um discurso ininteligível, mas palavras específicas e até frases. E, se eu fosse ao mesmo tempo impressionável e de formação religiosa, imagino que palavras o vento poderia ter dito. Em outra ocasião, quando eu tinha mais ou menos a mesma idade, vi um rosto gigantesco e redondo me encarando, com uma malevolência indescritível, em uma janela de uma casa como qualquer outra de uma cidadezinha litorânea. Trémulo, aproximei-me até estar perto o suficiente para ver o que o rosto era de verdade: apenas um padrão que lembrava vagamente um rosto, criado pela posição das cortinas. O rosto em si, e seu ar malévolo, tinha sido construído em meu cérebro apavorado. No dia 11 de setembro de 2001, pessoas crédulas acreditaram ter visto o rosto de Satã na fumaça que saía das torres gêmeas: uma superstição alimentada por uma fotografia que foi publicada na internet, com grande circulação. O cérebro humano é muito bom em construir modelos. Quando estamos dormindo, isso se chama sonhar; quando estamos acordados, chamamos de imaginação, ou, quando é real demais, de alucinação. Crianças que têm "amigos imaginários" muitas vezes os vêem claramente, exatamente como se eles fossem reais. Se somos crédulos, não reconhecemos a alucinação ou o sonhar acordado e alegamos ter visto ou ouvido um fantasma; ou um anjo; ou Deus; ou — especialmente se formos jovens, mulheres e católicas — a Virgem Maria. Visões e manifestações como essas de certo não compõem bases sólidas para acreditar que fantasmas ou anjos, deuses ou virgens realmente estão ali. Pelo jeito, as visões em massa, como os registros de que 70 mil peregrinos em Fátima, Portugal, em 1917 viram o sol "desprender-se dos céus e despencar sobre a multidão" são bem mais difíceis de minimizar. Não é fácil explicar como 70 mil pessoas podem ter a mesma alucinação. Mas é ainda mais difícil aceitar que aquilo tenha realmente acontecido sem que o resto do mundo, fora de Fátima, tenha visto — e não só tenha visto, mas não tenha achado que se tratava da destruição catastrófica do sistema solar, incluindo forças de aceleração suficientes para lançar todo mundo no espaço. É impossível não lembrar o eficaz teste de David Hume para um milagre: "Nenhum depoimento é suficiente para estabelecer um milagre, a menos que o depoimento seja de tal natureza que sua falsidade seria mais milagrosa que o fato que ele pretende estabelecer". Pode parecer improvável que 70 mil pessoas possam ter o mesmo delírio simultaneamente, ou que tenham conspirado simultaneamente para uma mentira em massa. Ou que a história esteja errada por registrar que 70 mil pessoas alegaram ter visto o sol dançar. Ou que todas elas tenham visto simultaneamente uma miragem (elas haviam sido convencidas a olhar para o sol, coisa que não pode ter feito muito bem para sua visão). Mas qualquer uma dessas aparentes improbabilidades é bem mais provável que a alternativa: a de que a Terra de repente tenha sido tirada de sua órbita, e o sistema solar destruído, sem que ninguém fora de Fátima tenha percebido. Afinal, Portugal não é tão isolado assim. Isso é tudo que precisa ser dito sobre as "experiências" pessoais de deuses e outros fenômenos religiosos. Se você teve uma experiência dessas, pode ser que acredite firmemente que ela foi real. Mas não espere que o resto de nós acredite, especialmente se tivermos uma familiaridade mínima com o cérebro e seus feitos incríveis.

 

O ARGUMENTO DAS ESCRITURAS

Ainda tem gente que é convencida a acreditar em Deus pelas evidências das Escrituras. Um argumento comum, atribuído, entre outros, a C. S. Lewis (que bem devia ter sabido), afirma que, como Jesus alegava ser o Filho de Deus, ou ele estava certo ou então era louco ou mentiroso: "Louco, Mau ou Deus". Ou "Lunático, Mentiroso ou Senhor".* As evidências históricas de que Jesus tenha reclamado para si qualquer tipo de status divino são mínimas. Mas, mesmo que as evidências fossem sólidas, o trilema em questão seria de uma inadequação ridícula. Uma quarta possibilidade, quase óbvia demais para ser mencionada, é a de que Jesus estivesse honestamente enganado. Muita gente se engana. De qualquer modo, como já disse, não há boas evidências históricas de que ele tenha achado que era divino. O fato de as coisas estarem por escrito é persuasivo para pessoas que não estão acostumadas a fazer perguntas como: "Quem escreveu, e quando?"; "Como eles sabiam o que escrever?"; "Será que eles, naquela época, realmente queriam dizer o que nós, em nossa época, entendemos que eles estão dizendo?"; "Eram eles observadores imparciais, ou tinham uma agenda que influenciava seus escritos?". Desde o século xix, teólogos acadêmicos vêm defendendo que os evangelhos não são relatos confiáveis sobre o que aconteceu na história do mundo real. Todos eles foram escritos muito tempo depois da morte de Jesus, e também das epístolas de Paulo, que não mencionam quase nenhum dos supostos fatos da vida de Jesus. Todos eles foram copiados e recopiados, ao longo de muitas "gerações de telefones sem fio", por escribas sujeitos a falhas e que, por sinal, tinham suas próprias agendas religiosas. Um bom exemplo da cor acrescentada pelas agendas religiosas é a tocante lenda do nascimento de Jesus, em Belém, seguida do massacre dos inocentes por Herodes. Quando os evangelhos foram escritos, muitos anos depois da morte de Jesus, ninguém sabia onde ele tinha nascido. Mas uma profecia do Antigo Testamento (Miquéias 5: 2) tinha levado os judeus à expectativa de que o esperado Messias nasceria em Belém. À luz dessa profecia, o Evangelho de João afirma textualmente que seus seguidores ficaram surpresos com o fato de ele não ter nascido em Belém: "Outros diziam: Ele é o Cristo; outros, porém, perguntavam: Porventura, o Cristo virá da Galiléia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi?". Mateus e Lucas lidaram com o problema de outra forma, concluindo que Jesus devia ter nascido em Belém, no fim das contas. Mas eles chegaram a essa conclusão por caminhos diferentes. Mateus coloca Maria e José em Belém desde sempre, tendo mudado para Nazaré só muito tempo depois do nascimento de Jesus, na volta do Egito, para onde tinham fugido do rei Herodes e do massacre dos inocentes. Lucas, por outro lado, admite que Maria e José moravam em Nazaré antes de Jesus nascer. Como então levá-los a Belém no momento crucial, para cumprir a profecia? Lucas diz que, na época em que Quirino era governador da Síria, César Augusto ordenou a realização de um censo, com fins tributários, e todo mundo tinha que ir "para a sua cidade". José era "da casa e da linhagem de Davi" e portanto tinha de ir para a "cidade de Davi, que é chamada de Belém". Deve ter parecido uma boa solução. Tirando o fato de que, do ponto de vista histórico, ela é completamente absurda, como apontaram A. N. Wilson, em Jesus: O maior homem do mundo, e Robin Lane Fox, em Bíblia: Verdade e ficção (entre outros). Davi, se existiu, viveu quase mil anos antes de Maria e José. Por que diabos os romanos teriam exigido que José voltasse para a cidade onde um ancestral remoto havia vivido um milênio antes? É como se eu fosse obrigado a especificar, digamos, Coimbra (Portugal) como minha cidade no formulário do censo, se por acaso eu conseguisse rastrear minha ascendência até a revolta de Avis. Além do mais, Lucas confunde as datas mencionando impensadamente eventos que os historiadores são capazes de verificar com independência. Houve mesmo um censo sob o domínio do governador Quirino — um censo localizado, não um que tivesse sido decretado por César Augusto para o Império inteiro —, mas ele aconteceu tarde demais: em 6 d. C., bem depois da morte de Herodes. Lane Fox conclui que "a história de Lucas é historicamente impossível e internamente incoerente", mas solidariza-se com o empenho e o desejo de Lucas de fazer cumprir a profecia de Miquéias. Na edição de dezembro de 2004 da Free Inquiry, Tom Flynn, o editor dessa excelente revista, reuniu uma coleção de artigos documentando as contradições e os buracos da adorada história do Natal. O próprio Flynn lista as muitas contradições entre Mateus e Lucas, os dois únicos evangelistas que chegam a falar do nascimento de Jesus. Robert Gillooly mostra como todas as características mais essenciais da lenda de Jesus, incluindo a estrela de Belém, a virgindade da mãe, a veneração do bebé por reis, os milagres, a execução, a ressurreição e a ascensão são empréstimos — cada uma delas — de outras religiões que já existiam na região do Mediterrâneo e do Oriente próximo. Flynn sugere que o desejo de Mateus de fazer cumprir as profecias messiânicas (descendência de Davi, nascimento em Belém), pelo bem dos leitores judaicos, entrou em rota de colisão com o desejo de Lucas de adaptar o cristianismo aos gentios, e portanto de utilizar pontos conhecidos e populares das regiões pagãs helênicas (virgindade da mãe, adoração por reis etc.). As contradições resultantes são evidentes, mas sempre minimizadas pelos fiéis. Cristãos sofisticados não precisam de Ira Gershwin para convencê-los de que "As coisas que você/ Pode ler na Bíblia/ Não são necessariamente assim". Mas há muitos cristãos pouco sofisticados por aí que acham, sim, que elas são necessariamente assim — que levam a Bíblia bem a sério, como um registro literal e preciso da história, e portanto como evidência que sustenta suas crenças religiosas. Será que essas pessoas chegam a abrir o livro que acreditam ser a verdade literal? Por que não percebem essas contradições tão evidentes? Um literalista não devia se preocupar com o fato de Mateus rastrear a descendência de José do rei Davi por 28 gerações intermediárias, enquanto Lucas fala em 41 gerações? O pior é que não há coincidências nos nomes das duas listas! De qualquer jeito, se Jesus nasceu mesmo de uma virgem, os ancestrais de José são irrelevantes e não podem ser usados para fazer cumprir, a favor de Jesus, a profecia do Antigo Testamento de que o Messias deveria ser descendente de Davi. O acadêmico bíblico americano Bart Ehrman, num livro cujo título é O que Jesus disse? O que Jesus não disse?-Quem mudou a Bíblia e por quê, revela as imensas incertezas que obscurecem os textos do Novo Testamento. Na introdução do livro, o professor Ehrman traça de forma emocionante sua jornada educacional pessoal de crente fundamentalista na Bíblia a cético ponderado, uma jornada impulsionada pela esclarecedora constatação da enorme falibilidade das Escrituras. De modo significativo, conforme ele foi subindo na hierarquia das universidades americanas, desde o fundo do poço, no "Instituto Bíblico Moody", passando pelo Wheaton College (um pouco mais elevado na escala, mas ainda a alma mater de Billy Granam) e o Seminário Teológico em Princeton, a cada passo que dava ia sendo advertido de que teria problemas para manter seu cristianismo fundamentalista diante do perigoso progressismo. Isso se comprovou; e nós, seus leitores, somos os maiores beneficiados. Outros livros de uma iconoclastia revigorante são Bíblia: Verdade e ficção, já mencionado, de Robin Lane Fox, e The secular Bible: Why nonbelievers must take religion seriously, de Jacques Berlinerblau. Os quatro evangelhos que chegaram ao cânone oficial foram escolhidos, mais ou menos de forma arbitrária, dentre uma amostra maior de pelo menos uma dúzia, incluindo os evangelhos de Tomé, Pedro, Nicodemo, Felipe, Bartolomeu e Maria Madalena. Era a esses outros evangelhos que Thomas Jefferson se referia na carta ao sobrinho: "Esqueci de observar, quando falei do Novo Testamento, que deves ler todas as histórias de Cristo, também as daqueles que um conselho de eclesiásticos decidiu por nós serem Pseudo-evangelistas, lê-los tanto quanto os chamados Evangelistas. Porque esses Pseudo-evangelistas pretendiam a inspiração, tanto quanto os outros, e tu é que deves julgar as pretensões deles por tuas próprias razões, e não pelas razões daqueles eclesiásticos." Os evangelhos que não entraram no cânone foram omitidos por aqueles eclesiásticos provavelmente porque incluíam histórias que eram ainda mais embaraçosamente implausíveis que aquelas dos quatro canônicos. O infantil Evangelho de Tomé, por exemplo, contém várias passagens sobre o menino Jesus abusando de seus poderes mágicos como uma fada travessa, transformando descaradamente seus coleguinhas em bodes, ou transformando a lama em pardais, ou dando uma mão ao pai na carpintaria, estendendo milagrosamente uma peça de madeira. Alguém dirá que ninguém acredita mesmo em histórias de milagres brutos como as do Evangelho de Tomé. Mas não há nem mais nem menos motivos para acreditar nos quatro evangelhos canônicos. Todos têm o status de lenda, tão duvidosos em termos factuais quanto as histórias do rei Artur e seus Cavaleiros da Távola Redonda (* A. N. Wilson, em sua biografia de Jesus, chega a lançar dúvidas sobre a história de que José era carpinteiro. A palavra tekton, do grego, realmente significa carpinteiro, mas ela foi traduzida do aramaico naggar, que podia significar artesão ou homem culto. Esse é um entre os vários erros de tradução constitutivos que habitam a Bíblia, sendo o mais famoso deles a tradução errada do hebraico para moça (altnah), em Isaías, transformada na palavra grega para virgem (parthenos). Um equívoco fácil de cometer (pense nas palavras em inglês maid [moça, criada] e maiden [donzela, moça solteira, virgem] para ver como isso pode ter acontecido, um deslize de um tradutor, seria loucamente inflacionado para dar origem à absurda lenda de que a mãe de Jesus era uma virgem! O único concorrente ao título de o maior erro de tradução constitutivo de todos os tempos também tem a ver com virgens. Ibn Warraq vem alegando, de modo hilariante, que, na famosa promessa de 72 virgens para cada mártir muçulmano, "virgens" é uma tradução errada de "passas brancas claras como cristal". Puxa vida, se isso tivesse sido mais divulgado, quantas vítimas de missões suicidas poderiam ter sido salvas? (Ibn Warraq, "Virgins? What Virgins?", Free Inquiry 26:1, 2006, pp. 45-6). A maior parte do que há em comum nos quatro evangelhos canônicos vem da mesma fonte, seja o Evangelho de Marcos ou uma obra perdida da qual Marcos é o primeiro descendente remanescente. Ninguém sabe quem foram os quatro evangelistas, mas eles quase certamente jamais conheceram Jesus pessoalmente. Boa parte do que escreveram não representava de maneira nenhuma uma tentativa honesta de registrar a história, mas uma simples reciclagem do Antigo Testamento, porque os autores dos evangelhos estavam devotadamente convencidos de que a vida de Jesus tinha de cumprir as profecias do Antigo Testamento. É até possível montar uma argumentação histórica séria, embora ela não conte com apoio total, para defender que Jesus nem chegou a existir, como já fez, entre outras pessoas, o professor G. A. Wells, da Universidade de Londres, em vários livros, como Did Jesus exist? Embora Jesus provavelmente tenha existido, acadêmicos bíblicos respeitados em geral não acreditam que o Novo Testamento (e, obviamente, tampouco o Antigo Testamento) seja um registro confiável do que realmente aconteceu na história, e já não considerarei mais a Bíblia evidência da existência de qualquer tipo de divindade. Nas palavras sagazes de Thomas Jefferson, que escrevia para seu antecessor, John Adams, "Chegará o dia em que a geração mística de Jesus, pelo Ser Supremo como pai, no ventre de uma virgem, será categorizada junto com a fábula da geração de Minerva no cérebro de Júpiter". O romance O código Da Vinci, de Dan Brown, e o filme feito a partir dele estão suscitando enormes controvérsias em círculos da Igreja. Os cristãos são incentivados a boicotar o filme e fazer piquetes nas salas que o exibem. É realmente uma fabricação do começo ao fim: ficção inventada, faz-de-conta. Nesse aspecto, é exatamente como os evangelhos. A única diferença entre O código Da Vinci e os evangelhos é que os evangelhos são ficção antiga, enquanto O código Da Vinci é ficção moderna.

 

O ARGUMENTO DOS CIENTISTAS ADMIRADOS E RELIGIOSOS

"A imensa maioria dos homens intelectualmente eminentes não acredita na religião cristã, mas esconde esse fato do público, porque tem medo de perder sua renda". Bertrand Russell

"Newton era religioso. Quem é você para se achar superior a Newton, Galileu, Kepler etc. etc. etc.? Se Deus era bom o suficiente para gente como eles, quem você pensa que é?" Não que isso faça muita diferença num argumento que já é tão ruim, mas alguns apologistas acrescentam até o nome de Darwin, sobre quem os boatos persistentes, mas comprovadamente falsos, de uma conversão no leito de morte sempre voltam a aparecer, como um cheiro ruim, desde que foram iniciados deliberadamente por uma certa "Lady Hope", que desfiou uma balela tocante sobre corno Darwin, recostado nos travesseiros, à luz noturna, folheou o Novo Testamento e confessou que a evolução estava errada. Neste trecho concentro-me principalmente nos cientistas, porque — por motivos que talvez não sejam muito difíceis de imaginar — aqueles que propagandeiam os nomes de indivíduos admirados que seriam exemplares religiosos com frequência escolhem cientistas. Newton realmente afirmava ser religioso. Assim como quase todo mundo até — de modo significativo, na minha opinião — o século XIX, quando havia menos pressão social e judicial que nos séculos anteriores para se professar a religião, e mais apoio científico para abandoná-la. Houve exceções, é evidente, em ambas as direções. Mesmo antes de Darwin, nem todo mundo era crente, como mostra James Haught em seu 2000 years ofdisbelief: Famous people with the courage to doubt [2000 anos de descrença: Pessoas famosas com coragem de duvidar]. E alguns cientistas renomados continuaram acreditando depois de Darwin. Não temos motivos para duvidar da sinceridade cristã de Michael Faraday, mesmo depois da época em que ele deve ter tomado conhecimento da obra de Darwin. Ele era integrante da seita sandemaniana, que acreditava (no pretérito, porque hoje eles estão virtualmente extintos) numa interpretação literal da Bíblia, lavava os pés dos novos membros, num ritual, e fazia sorteios para determinar a vontade de Deus. Faraday tornou-se presbítero em 1860, o ano seguinte à publicação de A origem das espécies, e morreu, sandemaniano, em 1867. A contrapartida teórica do experimentalista Faraday, James Clerk Maxwell, era um cristão igualmente devoto. Assim como outro pilar da física britânica do século XIX, William Thomson, o lorde Kelvin, que tentou demonstrar que a evolução estava descartada por falta de tempo hábil. As datações equivocadas do grande termodinamicista pressupunham que o Sol era uma espécie de incêndio, que consumia um combustível que teria que ter se esgotado em dezenas de milhões de anos, não em bilhões de anos. Obviamente não se podia esperar que Kelvin conhecesse a energia nuclear. O divertido é que, na reunião de 1903 da Associação Britânica, coube a sir George Darwin, segundo filho de Charles, vingar seu pai, que não tinha título de cavaleiro, ao invocar a descoberta do rádio pelos Curie, pondo em dúvida a estimativa prévia de lorde Kelvin, que ainda estava vivo. Fica cada vez mais difícil encontrar grandes cientistas que professem sua religião ao longo do século XX, mas eles não são especialmente raros. Desconfio que a maioria dos mais recentes é religiosa apenas no sentido de um Deus impessoal que não interfere na vida das pessoas ou uma energia cósmica sem personalidade. Mesmo assim, existem alguns espécimes genuínos de bons cientistas que são sinceramente religiosos, no sentido pleno e tradicional como por exemplo Francis Collins, diretor administrativo do braço americano do Projeto Genoma Humano oficial. Mas, assim como na Grã-Bretanha, eles se destacam por sua raridade e são objeto de uma perplexidade divertida por parte de seus pares da comunidade acadêmica. Em 1996, Jim Watson, gênio fundador do Projeto Genoma Humano, num documentário da BBC sobre Gregor Mendel, gênio fundador da própria genética, afirmou que Mendel, evidentemente, era religioso, um monge agostiniano; mas aquilo foi no século XIX, quando se tornar um monge foi o meio mais fácil para o jovem Mendel explorar seus estudos científicos. Sobre cientistas religiosos ele respondeu: "Às vezes os encontro, e fico meio sem jeito [risos] porque, sabe, não consigo acreditar em ninguém que aceite a verdade pela revelação". Francis Crick, co-fundador junto com Watson de toda a revolução da genética molecular, abriu mão de sua associação ao Churchill College, de Cambridge, por causa da decisão da faculdade de construir uma capela (a pedido de um benfeitor). O empenho dos apologistas para encontrar cientistas modernos destacados que sejam religiosos tem um certo ar de desespero, produzindo o som inconfundível de raspar o fundo da panela. A única página da internet que consegui achar com uma suposta lista de "Cristãos Vencedores de Prêmios Nobel Científicos" apresentou seis nomes, do total de várias centenas de Nobel científicos. Desses seis, quatro na verdade não eram nem vencedores do Nobel; e pelo menos um, que eu saiba, é um descrente que vai à igreja por motivos puramente sociais. Um estudo mais sistemático de Benjamin Beit-Hallahmi "descobriu que entre os laureados pelo prémio Nobel nas áreas científicas, assim como na literatura, houve um grau notável de irreligiosidade, se com-parado com as populações das quais eles são oriundos". Um estudo na importante revista Nature, de Larson e Witham, em 1998, mostrou que dentre os cientistas americanos considerados eminentes o bastante para serem eleitos para a Academia Nacional de Ciências (o equivalente a pertencer à Royal Society na Grã-Bretanha) apenas cerca de 7% acreditam num Deus pessoal. Essa enorme preponderância de ateus é quase que o exato oposto do perfil da população americana em geral, da qual mais de 90% são formados por pessoas que acreditam em algum tipo de ser sobrenatural. O número entre cientistas menos eminentes, não eleitos para a Academia Nacional, é intermediário. Assim como na amostra mais destacada, os que acreditam na religião são minoria, mas uma minoria menos drástica, de cerca de 40%. O fato de os cientistas americanos serem menos religiosos que o povo americano em geral é exatamente como eu teria imaginado, assim como o de os cientistas mais destacados serem os menos religiosos. O que é notável é a oposição completa entre a religiosidade do povo americano em geral e o ateísmo da elite intelectual.

 

A APOSTA DE PASCAL

O grande matemático francês Blaise Pascal achava que, por mais improvável que fosse a existência de Deus, há uma assimetria ainda maior na punição por errar no palpite. É melhor acreditar em Deus, porque se você estiver certo poderá ganhar o júbilo eterno, e se estiver errado não vai fazer a menor diferença. Por outro lado, se você não acreditar em Deus e estiver errado, será amaldiçoado para todo o sempre, e se estiver certo não vai fazer diferença. Pensando assim, a decisão é óbvia. Acredite em Deus. Há, porém, alguma coisa claramente esquisita no argumento. Acreditar não é uma coisa que se possa decidir, como se fosse uma questão política. Não é pelo menos uma coisa que eu consiga decidir por vontade própria. Posso decidir ir à igreja e posso decidir recitar a novena, e posso decidir jurar sobre uma pilha de Bíblias que acredito em cada palavra escrita nelas. Mas nada disso pode realmente me fazer acreditar se eu não acreditar. A aposta de Pascal só poderia servir de argumento para uma crença fingida em Deus. E é melhor que o Deus em que você alega acreditar não seja do tipo onisciente, senão ele vai saber da enganação. A ideia absurda de que acreditar é uma coisa que se pode decidir fazer é deliciosamente ridicularizada por Douglas Adams em Dirk Gentlys Holistic Detective Agency, em que somos apresentados ao Monge Elétrico, um dispositivo muito prático que se compra para "acreditar por você". O modelo de luxe é anunciado como "capaz de acreditar em coisas que ninguém de Salt Lake City acreditaria". Mas por que, então, estamos tão dispostos a aceitar a ideia de que o que é imprescindível fazer, se se quiser agradar a Deus, é acreditar nele? O que há de tão especial em acreditar? Não é igualmente provável que Deus recompense a bondade, ou a generosidade, ou a humildade? Ou a sinceridade? E se Deus for um cientista que considera a busca honesta pela verdade a virtude suprema? Aliás, o projetista do universo não teria de ser um cientista? Perguntaram a Bertrand Russell o que ele diria se morresse e se visse confrontado por Deus, exigindo saber por que Russell não acreditava nele. "Não havia provas suficientes, Deus, não havia provas suficientes", foi a resposta (eu quase diria imortal) de Russell. Deus não respeitaria Russell por seu ceticismo corajoso (sem contar pelo pacifismo corajoso que o colocou na prisão durante a Primeira Guerra Mundial), bem mais do que respeitaria Pascal por sua aposta cautelosa e covarde? E, embora não tenhamos como saber de que lado Deus ficaria, não precisamos saber para refutar a aposta de Pascal. Estamos falando de uma aposta, lembre-se, e Pascal não estava defendendo que a dele tivesse qualquer coisa além de uma probabilidade muito remota. Você apostaria que Deus valorizaria mais uma crença fingida e desonesta (ou mesmo uma crença honesta) que o ceticismo honesto? Suponha que o deus que o confrontar quando você morrer seja Baal, e suponha que Baal seja tão invejoso quanto disseram que era seu velho rival Javé. Não seria melhor que Pascal não tivesse apostado em deus nenhum, tendo uma posição neutra, em vez de apostar no deus errado? O próprio número de deuses e deusas em potencial em que se poderia apostar não corrompe toda a lógica de Pascal? Pascal estava provavelmente brincando quando promoveu sua aposta, assim como estou brincando para descartá-la. Mas já encontrei gente que apresentou seriamente a aposta de Pascal como um argumento a favor da crença em Deus, por isso tive motivos para dar a ela um breve espaço aqui.

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Publicado em ATEÍSMO
Segunda, 22 Dezembro 2014 21:29

Amigo imaginário

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