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Quarta, 19 Agosto 2015 14:53

A Reforma Protestante

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A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas. Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo e o início de massacres e perseguições por parte da Igreja Católica Romana como por exemplo a noite de Massacre da noite de São Bartolomeu.

Pré-Reforma

 A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero. A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.

 Protestos de Dentro da Igreja

Muitas vezes chamado de “estrela da manhã da Reforma”, João Wycliffe (1330?-84) era sacerdote católico e professor de teologia em Oxford, Inglaterra. Bem ciente dos abusos na Igreja, ele escreveu e pregou contra coisas tais como corrupção nas ordens monásticas, taxação papal, a doutrina da transubstanciação (a afirmação de que o pão e o vinho usados na Missa literalmente se transformam no corpo e no sangue de Jesus Cristo), a confissão, e o envolvimento da Igreja em assuntos temporais. Wycliffe era especialmente franco quanto à negligência da Igreja em ensinar a Bíblia. Disse ele certa vez: “Queira Deus que toda paróquia de igreja neste país tenha uma boa Bíblia e boas explicações do evangelho, e que os sacerdotes os estudem bem, e que realmente ensinem o evangelho e os mandamentos de Deus ao povo!” Com esse fim, Wycliffe, nos últimos anos de sua vida, dedicou-se à tarefa de traduzir a Bíblia Vulgata latina para o inglês. Com a ajuda de seus associados, especialmente Nicolau de Hereford, ele produziu a primeira Bíblia completa no idioma inglês. Esta foi, sem dúvida, a maior contribuição de Wycliffe à causa da busca de Deus, por parte da humanidade. Os escritos de Wycliffe e partes da Bíblia foram distribuídos por toda a Inglaterra por um grupo de pregadores muitas vezes chamados de “Sacerdotes Pobres” porque iam de vestes simples, descalços e sem bens materiais. Eram também desdenhosamente chamados de Lolardos, que provém da palavra do holandês médio Lollaerd, ou “aquele que murmura orações e hinos”. (Dicionário de Frases e Fábulas, de Brewer [em inglês]) “Em poucos anos, o seu número era considerável”, diz o livro The Lollards (Os Lolardos). “Calculou-se que pelo menos um quarto da nação estava real ou supostamente inclinado em favor desses sentimentos.” Tudo isso, naturalmente, não passou despercebido pela Igreja. Devido à sua notoriedade entre as classes dominante e erudita, permitiu-se que Wycliffe morresse em paz no último dia de 1384. Os seus seguidores foram menos afortunados. Durante o reinado de Henrique IV, da Inglaterra, eles foram tachados de hereges e muitos deles foram presos, torturados ou queimados vivos. Fortemente influenciado por João Wycliffe havia o boêmio (tcheco) João Huss (1369?-1415), também sacerdote católico e reitor da Universidade de Praga. Como Wycliffe, Huss pregou contra a corrupção da Igreja Romana e frisou a importância de ler a Bíblia. Isto prontamente trouxe sobre ele a ira da hierarquia. Em 1403, as autoridades ordenaram-lhe que parasse de pregar as idéias antipapais de Wycliffe, cujos livros também queimaram publicamente. Huss, porém, passou a escrever algumas das mais pungentes acusações contra as práticas da igreja, incluindo a venda de indulgências. Ele foi condenado e excomungado em 1410. Huss não transigia no seu apoio à Bíblia. “Rebelar-se contra um papa faltoso é obedecer a Cristo”, escreveu. Ensinou também que a verdadeira igreja, longe de ser o papa e a instituição romana, “é o conjunto de todos os eleitos e o corpo místico de Cristo, cuja cabeça é Cristo; e a noiva de Cristo, a quem à base de seu grande amor ele remiu com o seu próprio sangue”. (Compare com Efésios 1:22, 23; 5:25-27.) Por tudo isso, ele foi julgado no Concílio de Constança e condenado como herege. Dizendo “ser melhor morrer bem do que viver mal”, ele recusou-se a retratar-se e foi queimado vivo na estaca, em 1415. O mesmo concílio ordenou também que os ossos de Wycliffe fossem desenterrados e queimados, embora já estivesse morto e sepultado há mais de 30 anos! Outro Reformador primordial foi o monge dominicano Girolamo Savonarola (1452-98) do mosteiro de São Marcos, em Florença, Itália. Embalado pelo espírito da Renascença italiana, Savonarola falou contra a corrupção tanto na Igreja como no Estado. Afirmando ter como base as Escrituras, bem como visões e revelações que dizia ter recebido, ele tentou fundar um estado cristão, ou ordem teocrática. Em 1497, o papa excomungou-o. No ano seguinte, ele foi preso, torturado e enforcado. Suas últimas palavras foram: “Meu Senhor morreu pelos meus pecados; não devia eu gratamente dar esta pobre vida por ele?” Seu corpo foi queimado e as cinzas lançadas no rio Arno. Apropriadamente, Savonarola autodenominou-se “precursor e sacrifício”. Poucos anos depois, a Reforma irrompeu com plena força em toda a Europa.

Uma Casa Dividida

Quando a tormenta da Reforma finalmente irrompeu, ela destroçou a casa religiosa da cristandade na Europa Ocidental. Tendo estado sob o domínio praticamente total da Igreja Católica Romana, ela tornou-se então uma casa dividida. O sul da Europa — Itália, Espanha, Áustria e partes da França — permaneceu na maior parte católico. O resto acomodou-se em três principais divisões: Luterana, na Alemanha e Escandinávia; Calvinista (ou Reformada) na Suíça, Países-Baixos, Escócia e partes da França; e Anglicana na Inglaterra. Entremeados entre estas havia grupos menores, porém mais radicais, primeiro os anabatistas e mais tarde os menonitas, huteritas e puritanos, que com o tempo levaram as suas crenças para a América do Norte. No decorrer dos anos, essas principais divisões fragmentaram-se adicionalmente em centenas de denominações atuais — Presbiteriana, Episcopal, Metodista, Batista, Congregacional, apenas para mencionar algumas. A cristandade deveras se tornou uma casa dividida. Como foi que ocorreram tais divisões?

Lutero e Suas Teses

Se necessário fosse indicar um ponto inicial decisivo na Reforma protestante, este seria 31 de outubro de 1517, quando o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) pregou as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, no estado alemão da Saxônia. Contudo, o que provocou esse dramático evento? Quem era Martinho Lutero? E contra o que protestou? Como Wycliffe e Huss, antes dele, Martinho Lutero era um monge erudito. Era também doutor em teologia e professor de estudos bíblicos na Universidade de Wittenberg. Lutero ficou famoso por sua compreensão da Bíblia. Embora tivesse fortes opiniões sobre o assunto da salvação, ou justificação, por meio de fé em vez de obras ou de penitência, ele não intencionava romper com a igreja de Roma. De fato, a emissão de suas teses foi sua reação a um incidente específico e não uma revolta planejada. Ele protestava contra a venda de indulgências. Nos dias de Lutero, as indulgências papais eram publicamente vendidas não apenas em favor dos vivos mas também em favor dos mortos. “Assim que a moeda no cofre cai, a alma do Purgatório sai”, dizia um ditado popular. Para o povo, uma indulgência era quase que uma apólice de seguro contra a punição por qualquer pecado, e o arrependimento saía pela tangente. “Em toda a parte”, escreveu Erasmo, “vende-se a remissão do tormento purgatorial; não é apenas vendida, mas forçada aos que se recusam a comprá-la”. Em 1517, João Tetzel, um frade dominicano, foi a Jüterbog, perto de Wittenberg, para vender indulgências. O dinheiro arrecadado visava em parte financiar a reconstrução da Basílica de São Pedro, em Roma. Visava também ajudar Alberto de Brandenburgo a repor o dinheiro que tomara emprestado para pagar à Cúria Romana pelo cargo de arcebispo de Mainz. Tetzel usava toda a sua perícia de vendedor, e o povo afluía a ele. Lutero indignou-se, e recorreu ao que lhe parecia ser a maneira mais rápida de expressar publicamente a sua opinião sobre esse espetáculo circense — pregar 95 pontos de discórdia na porta da igreja. Lutero chamou suas 95 teses de Disputa Para Esclarecer o Poder das Indulgências. Seu objetivo não era tanto desafiar a autoridade da igreja, como apontar os excessos e abusos da venda de indulgências papais. Pode-se ver isto das seguintes teses: “5. O papa não tem a intenção nem o poder de remir qualquer penalidade, exceto as que ele impôs por sua própria autoridade... 20. Por conseguinte, quando o papa fala da plena remissão de todas as penalidades, isso não significa realmente de todas, mas apenas daquelas impostas por ele mesmo... 36. Todo cristão que sente verdadeira compunção tem direito à plena remissão da punição e da culpa, mesmo sem cartas de indulto.” Ajudado pela então recém-inventada imprensa, essas explosivas idéias não demoraram a atingir outras partes da Alemanha — e Roma. O que começou como debate acadêmico sobre a venda de indulgências logo se transformou numa controvérsia sobre assuntos de fé e autoridade papal. De início, a Igreja de Roma envolveu Lutero em debate e ordenou-lhe que se retratasse. Quando Lutero se recusou, tanto o poder eclesiástico como o político foram acionados contra ele. Em 1520 o papa emitiu uma bula, ou edito, que proibia Lutero de pregar e ordenou que seus livros fossem queimados. Em desafio, Lutero queimou a bula papal em público. O papa excomungou-o em 1521. Mais tarde naquele ano, Lutero foi convocado à dieta, ou assembléia, em Worms. Foi julgado pelo imperador do Santo Império Romano, Carlos V, um católico fanático, bem como pelos seis eleitores de colegiado dos estados alemães, e por outros líderes e dignitários, religiosos e seculares. Ao ser novamente pressionado a retratar-se, Lutero fez a sua famosa declaração: “A menos que eu me convença pelas Escrituras e pela razão evidente... não posso e não vou retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é direito nem seguro. Que Deus me ajude. Amém.” Consequentemente, o imperador declarou-o fora-da-lei. Contudo, o governante de seu próprio estado alemão, o eleitor Frederico de Saxônia, veio em seu auxílio e ofereceu-lhe abrigo no castelo de Wartburg. Essas medidas, porém, não impediram a disseminação das idéias de Lutero. Por dez meses no refúgio de Wartburg, Lutero dedicou-se a produzir escritos e à tradução da Bíblia. Traduziu as Escrituras Gregas para o alemão, do texto grego de Erasmo. As Escrituras Hebraicas vieram mais tarde. A Bíblia de Lutero revelou ser justamente o que o povo necessitava. Consta que “foram vendidos cinco mil exemplares em dois meses, duzentos mil em doze anos”. Sua influência sobre o idioma e a cultura alemã é muitas vezes comparada à da Versão Rei Jaime sobre o inglês. Nos anos que se seguiram à Dieta de Worms, o movimento da Reforma ganhou tanto apoio popular que em 1526 o imperador concedeu a cada estado alemão o direito de escolher sua forma de religião, luterana ou católica romana. Contudo, em 1529, quando o imperador reverteu a decisão, alguns dos príncipes alemães protestaram; assim, cunhou-se o nome protestante para o movimento da Reforma. No ano seguinte, 1530, na Dieta de Augsburgo, o imperador empenhou-se em sanar as diferenças entre as duas partes. Os luteranos apresentaram suas crenças num documento, a Confissão de Augsburgo, produzido por Philipp Melanchthon, mas à base dos ensinos de Lutero. Embora o documento tivesse um tom mui conciliatório, a Igreja Romana rejeitou-o, e a brecha entre o protestantismo e o catolicismo tornou-se intransponível. Muitos estados alemães aliaram-se a Lutero e os estados escandinavos logo seguiram o seu exemplo.

Reforma ou Revolta?

Quais eram os pontos fundamentais que dividiam os protestantes dos católicos romanos? Segundo Lutero, havia três. Primeiro, Lutero cria que a salvação resulta da “justificação apenas através da fé” (latim, sola fide) e não da absolvição sacerdotal ou de obras de penitência. Segundo, ele ensinava que o perdão é concedido apenas devido à graça de Deus (sola gratia) e não pela autoridade de sacerdotes ou papas. Por fim, Lutero sustentava que todos os assuntos doutrinais deviam ser confirmados pelas Escrituras apenas (sola scriptura) e não por papas ou concílios de igreja. Apesar disso, diz The Catholic Encyclopedia, Lutero “reteve das antigas crenças e liturgia tudo aquilo que era possível ajustar a seus conceitos peculiares sobre o pecado e a justificação”. Sobre a fé luterana, a Confissão de Augsburgo diz que “nada existe que seja discordante das Escrituras, ou da Igreja Católica, ou mesmo da Igreja Romana, conforme essa Igreja é conhecida à base de escritores”. De fato, a fé luterana, conforme delineada na Confissão de Augsburgo, incluía doutrinas antibíblicas como a Trindade, a alma imortal e o tormento eterno, bem como práticas tais como o batismo de bebês e feriados e festas religiosas. Por outro lado, os luteranos exigiram certas mudanças, tais como que se permitisse ao povo receber tanto o vinho como o pão na Comunhão e que fossem abolidos o celibato, os votos monásticos e a confissão compulsória. Como um todo, a Reforma, conforme defendida por Lutero e seus seguidores, teve êxito em livrar-se do jugo papal. Mas, como Jesus declarou em João 4:24, “Deus é Espírito, e os que o adoram têm de adorá-lo com espírito e verdade”. Pode-se dizer que, com Martinho Lutero, a luta da humanidade em busca do verdadeiro Deus tomou apenas um novo rumo; o caminho estreito da verdade ainda estava distante. — Mateus 7:13, 14; João 8:31, 32.

A Reforma de Zwingli na Suíça

Enquanto Lutero se mantinha ocupado batalhando contra os emissários papais e as autoridades civis na Alemanha, o sacerdote católico Ulrich Zwingli (1484-1531) iniciou seu movimento de reforma em Zurique, Suíça. Sendo esta uma região de língua alemã, o povo já estava influenciado pela maré de reformas vinda do norte. Por volta de 1519, Zwingli começou a pregar contra as indulgências, a mariolatria, o celibato clerical e outras doutrinas da Igreja Católica. Embora Zwingli afirmasse ser independente de Lutero, ele concordava com Lutero em muitos aspectos e distribuía os panfletos de Lutero por todo o país. Em contraste com o mais conservador Lutero, porém, Zwingli defendia a remoção de todos os vestígios da Igreja Romana — imagens, crucifixos, batina, e até mesmo música litúrgica. No entanto, uma controvérsia mais séria entre os dois Reformadores dizia respeito à Eucaristia, ou Missa (Comunhão). Lutero, insistindo numa interpretação literal das palavras de Jesus: ‘Este é meu corpo’, cria que o corpo e o sangue de Cristo estavam milagrosamente presentes no pão e no vinho servidos na Comunhão. Zwingli, por outro lado, argumentava, em seu tratado On the Lord’s Supper (Sobre a Ceia do Senhor) que a declaração de Jesus “deve ser tomada ilustrativa ou metaforicamente; ‘isto é meu corpo’, quer dizer ‘o pão significa meu corpo’, ou ‘é uma representação do meu corpo’”. Por causa dessa diferença, os dois Reformadores se apartaram. Zwingli continuou a pregar as suas doutrinas de reforma em Zurique e fez muitas mudanças ali. Outras cidades logo seguiram seu exemplo, mas a maioria das pessoas nas áreas rurais, mais conservadoras, apegaram-se ao catolicismo. O conflito entre as duas facções tornou-se tão grande que irrompeu uma guerra civil entre suíços protestantes e católicos romanos. Zwingli, servindo como capelão de exército, foi morto na batalha de Kappel, perto do lago Zug, em 1531. Quando finalmente veio a paz, concedeu-se a cada distrito o direito de decidir sua própria forma de religião, protestante ou católica.

Anabatistas, Menonitas e Huteritas

Alguns protestantes, porém, achavam que os Reformadores não foram suficientemente longe em renunciar às falhas da igreja católica papista. Criam que a igreja cristã devia compor-se apenas dos fiéis praticantes que se tornavam batizados, em vez de todo o povo numa comunidade ou nação. Assim, eles rejeitavam o batismo de bebês e insistiam na separação entre Igreja e Estado. Secretamente rebatizavam seus concrentes e, por isso, ganharam o nome de anabatistas (ana significa “de novo” em grego). Visto que se recusavam a portar armas, fazer juramentos ou aceitar cargos públicos, eles eram encarados como ameaça à sociedade e eram perseguidos tanto por católicos como por protestantes. De início, os anabatistas viviam em pequenos grupos espalhados por partes da Suíça, Alemanha e Países-Baixos. Sendo que pregavam suas crenças onde quer que fossem, suas fileiras aumentavam rapidamente. Um grupo de anabatistas, levados por seu fervor religioso, abandonou seu pacifismo e capturou a cidade de Münster, em 1534, e tentou estabelecê-la como comunal e polígama Nova Jerusalém. O movimento foi logo derrubado, com grande violência. Isto estragou a reputação dos anabatistas e eles foram praticamente eliminados. Na verdade, a maioria dos anabatistas eram pessoas religiosas simples que tentavam levar uma vida separada e tranqüila. Entre os mais bem organizados originários dos anabatistas havia os menonitas, seguidores do Reformador holandês Menno Simons, e os huteritas, liderados pelo tirolês Jacob Hutter. Para fugir da perseguição, alguns deles migraram para a Europa Oriental — Polônia, Hungria e até mesmo Rússia — outros para a América do Norte, onde pôr fim surgiram como comunidades huterita e amish.

Surge o Calvinismo

A obra de reforma na Suíça prosseguiu sob a liderança de um francês chamado Jean Chauvin, ou João Calvino (1509-64), que entrou em contato com ensinamentos protestantes durante seus dias de estudo na França. Em 1534, Calvino deixou Paris por causa de perseguição religiosa e fixou-se em Basiléia, na Suíça. Em defesa dos protestantes, publicou Institutes of the Christian Religion (Preceitos da Religião Cristã), em que resumiu os conceitos dos primitivos pais da igreja e de teólogos medievais, bem como os de Lutero e Zwingli. Esse trabalho veio a ser considerado como fundamento doutrinal para todas as igrejas Reformadas fundadas mais tarde na Europa e nos Estados Unidos. Em Preceitos, ele apresentou a sua teologia. Para Calvino, Deus é o soberano absoluto, cuja vontade determina e governa tudo. Em contraste, o homem decaído é pecaminoso e totalmente imerecedor. A salvação, portanto, não depende das boas obras do homem, mas de Deus — resultando disso a doutrina da predestinação, de Calvino, sobre a qual ele escreveu: “Afirmamos que, por um eterno e imutável desígnio, Deus determinou de uma vez por todas, tanto a quem Ele concederá a salvação, como a quem Ele condenará à destruição. Afirmamos que este desígnio, no que tange aos eleitos, é fundado em Sua gratuita misericórdia, totalmente independente de mérito humano; mas que àqueles a quem Ele entrega à condenação, o portão da vida é fechado por um julgamento justo e irrepreensível, porém incompreensível.” A austeridade de tal ensino reflete-se também em outras áreas. Calvino insistia que os cristãos devem levar uma vida santa e virtuosa, abstendo-se não somente do pecado, mas também do prazer e da frivolidade. Ademais, ele argumentava que a igreja, composta dos eleitos, deve ser poupada de todas as restrições civis e que apenas através da igreja é possível estabelecer uma sociedade realmente piedosa. Pouco depois de publicar Preceitos, Calvino foi persuadido por William Farel, outro Reformador francês, a radicar-se em Genebra. Trabalharam juntos para pôr o calvinismo em prática. Seu objetivo era transformar Genebra numa cidade de Deus, uma teocracia de governo divino combinando as funções de Igreja e Estado. Instituíram regulamentos estritos, com sanções, que abrangiam tudo, desde instrução religiosa e serviços eclesiásticos à moral pública e até mesmo assuntos tais como saneamento e prevenção de incêndio. Certo livro de história conta que “certa cabeleireira, por exemplo, por arrumar o cabelo de uma noiva duma maneira considerada indecorosa, foi encarcerada por dois dias; e a mãe, junto com duas amigas, que haviam ajudado no processo, sofreram a mesma penalidade. Dançar e jogar baralho também eram punidos pelo magistrado”. Dispensava-se um tratamento duro aos que divergiam de Calvino em teologia, o caso mais famoso sendo a queima do espanhol Miguel Servet. Calvino continuou a aplicar o seu tipo de reforma em Genebra até a sua morte, em 1564, e a igreja Reformada ficou firmemente estabelecida. Reformadores protestantes, fugindo da perseguição em outras terras, afluíram a Genebra, assimilaram os conceitos calvinistas e serviram de instrumentos em iniciar movimentos de reforma em seus respectivos países de origem. O calvinismo logo chegou à França, onde os huguenotes (como eram chamados os protestantes calvinistas franceses) sofreram severa perseguição às mãos dos católicos. Nos Países-Baixos, os calvinistas ajudaram a estabelecer a Igreja Holandesa Reformada. Na Escócia, sob a zelosa liderança do ex-sacerdote católico João Knox, a Igreja Presbiteriana da Escócia foi estabelecida segundo a linha calvinista. O calvinismo desempenhou um papel também na Reforma na Inglaterra, e de lá seguiu com os puritanos para a América do Norte. Neste sentido, embora Lutero tivesse acionado a Reforma protestante, Calvino teve em muito a maior influência no seu desenvolvimento.

Reforma na Inglaterra

Bastante distante dos movimentos de reforma na Alemanha e na Suíça, a Reforma inglesa pode remontar suas raízes aos dias de João Wycliffe, cuja pregação anticlerical e ênfase na Bíblia gerou o espírito protestante na Inglaterra. Seu empenho em traduzir a Bíblia para o inglês foi seguido por outros. William Tyndale, que teve de fugir da Inglaterra, produziu seu Novo Testamento em 1526. Mais tarde foi traído na Antuérpia e estrangulado na estaca, e seu corpo foi queimado. Miles Coverdale terminou a obra de tradução de Tyndale, e a Bíblia completa surgiu em 1535. A publicação da Bíblia na língua do povo foi sem dúvida o mais poderoso fator que contribuiu para a Reforma na Inglaterra. A ruptura formal com o catolicismo romano ocorreu quando Henrique VIII (1491-1547), chamado de Defensor da Fé pelo papa, proclamou o Ato de Supremacia, em 1534, nomeando a si mesmo chefe da Igreja da Inglaterra, ou Igreja Anglicana. Henrique também fechou os mosteiros e dividiu os bens destes entre a pequena nobreza. Além disso, ordenou que se colocasse um exemplar da Bíblia em inglês em todas as igrejas. Contudo, a ação de Henrique era mais política do que religiosa. O que ele queria era independência da autoridade papal, especialmente sobre seus assuntos conjugais. No aspecto religioso, ele continuou católico em todos os sentidos, menos no nome. Foi durante o longo reinado (1558-1603) de Elisabete I que a Igreja da Inglaterra tornou-se protestante na prática, embora permanecesse largamente católica na estrutura. Aboliu o dever de obediência ao papa, o celibato clerical, a confissão e outras práticas católicas, não obstante, reteve uma forma episcopal de estrutura eclesiástica em sua hierarquia de arcebispos e bispos, bem como ordens de monges e freiras. Este conservadorismo causou considerável descontentamento, e surgiram vários grupos dissidentes. Os puritanos exigiam uma reforma mais cabal para purificar a igreja de todas as práticas católico romanas; os separatistas e os independentes insistiam que os assuntos da igreja deviam ser cuidados por anciãos locais (presbíteros). Muitos dissidentes fugiram para os Países-Baixos ou para a América do Norte, onde fundaram adicionalmente suas igrejas Congregacional e Batista. Também surgiu na Inglaterra a Sociedade de Amigos (Quakers) sob George Fox (1624-91) e os Metodistas sob João Wesley (1703-91).

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