Segunda, 15 Dezembro 2014 17:04

Hinduísmo - Uma Busca de Libertação

“Na sociedade hindu, é costume religioso, como primeira coisa a fazer de manhã, banhar-se num rio vizinho, ou em casa, se não houver rio ou riacho nas imediações. As pessoas creem que isso as santifique. Daí, sem ainda se terem alimentado, vão ao templo local e fazem oferendas de flores e alimentos ao deus local. Alguns lavam o ídolo e decoram-no com pó vermelho e amarelo. Quase toda casa tem um canto, ou mesmo um cômodo, para a adoração do deus preferido da família. Um deus popular em algumas localidades é Ganesa, o deus-elefante. As pessoas oram a ele em especial por boa sorte, pois ele é conhecido como removedor de obstáculos. Em outros lugares, Críxena, Rama, Xiva, Durga, ou alguma outra deidade talvez tenha prioridade na devoção.” — Tara C., Katmandu, Nepal.

 

O Que é Hinduísmo?

Trata-se apenas da noção ocidental simplista de venerar animais, banhar-se no Ganges e estar dividido em castas? Ou há algo mais envolvido? A resposta: Há muito mais envolvido. O hinduísmo é uma maneira diferente de entender a vida, para a qual os valores ocidentais são totalmente estranhos. Os ocidentais tendem a ver a vida como linha cronológica de eventos na história. Os hindus vêem a vida como ciclo auto-repetitivo no qual a história humana pouco importa. Não é fácil definir o hinduísmo, pois não tem credo definido, hierarquia sacerdotal nem órgão governante. Mas não deixa de ter suamis (mestres) e gurus (guias espirituais). Numa definição ampla do hinduísmo, certo livro de história diz que é “o inteiro complexo de crenças e instituições que surgiram desde o tempo em que seus antigos (e mais sagrados) escritos, os Vedas, foram compostos, até agora”. Outro diz: “Pode-se dizer que o hinduísmo é a devoção ou a adoração dos deuses Vixenu, ou Xiva [Siva], ou da deusa Sacti, ou das encarnações, dos aspectos, dos consortes ou da progênie deles.” Isto vale para incluir os cultos de Rama e Críxena (encarnações de Vixenu), Durga, Escanda e Ganesa (respectivamente esposa e filhos de Xiva). Afirma-se que o hinduísmo tem 330 milhões de deuses, não obstante, diz-se que o hinduísmo não é politeísta. Como é isso possível? O escritor indiano A. Parthasarathy explica: “Os hindus não são politeístas. O hinduísmo fala de um Deus uno . . . Os diferentes deuses e deusas do panteão hindu são mera representação dos poderes e das funções do único Deus supremo no mundo manifestado.” Os hindus não raro referem-se à sua fé como sanatana darma, que significa lei ou ordem eternas. Hinduísmo é realmente um termo vago que descreve uma hoste de religiões e seitas (sampradaias) que se desenvolveram e floresceram no decorrer dos milênios sob a sombra da complexa mitologia hindu antiga. Essa mitologia é tão intricada que a Nova Enciclopédia Larousse de Mitologia (em inglês) diz: “A mitologia indiana é uma inextricável selva de luxuriante vegetação. Entrando nela, perde-se a luz do dia e todo senso claro de direção.”

 

Antigas Raízes do Hinduísmo

Embora o hinduísmo talvez não seja tão difundido como algumas outras religiões principais, não obstante, por volta de 1990, gozava da lealdade de uns 700 milhões de seguidores, ou cerca de 1 em 8 (13%) da população do mundo. Contudo, a maioria destes encontra-se na Índia. Assim, é lógico perguntar: Como e por que o hinduísmo ficou concentrado na Índia?Alguns historiadores dizem que as raízes do hinduísmo remontam a mais de 3.500 anos, quando uma onda de migração trouxe do noroeste para o vale do Indo um povo ariano de pele clara, agora localizado principalmente no Paquistão e na Índia. De lá eles se espalharam até as planícies do rio Ganges e por toda a Índia. Alguns estudiosos dizem que os conceitos religiosos desses migrantes baseavam-se em antigos ensinos iranianos e babilônicos. Um traço comum a muitas culturas, e também encontrado no hinduísmo, é a lenda sobre um dilúvio. Mas, que tipo de religião se praticava no vale do Indo antes da chegada dos arianos? Um arqueólogo, Sir John Marshall, fala da “‘Grande Deusa-Mãe’, sendo às vezes representada por estatuetas de figuras femininas grávidas, a maioria nuas, com gargantilha alta e ornato na cabeça. . . . Há também o ‘Deus Macho’, ‘logo identificável como protótipo do histórico Xiva’, sentado com as plantas dos pés tocando uma na outra (uma postura ioga), itifálico (lembrando o culto linga [do falo]), cercado de animais (retratando o epíteto de Xiva, ‘Senhor dos Animais’). Há muitas figuras de pedra do falo e da vulva, . . . que apontam para o culto do linga e da ioni de Xiva e sua consorte”. (Religiões do Mundo — Da História Antiga ao Presente, em inglês) Até hoje Xiva é reverenciado como deus da fertilidade, o deus do falo, ou linga. O touro Nandi o carrega. O hinduísta Swami Sankarananda discorda da interpretação de Marshall, dizendo que originalmente as pedras veneradas, algumas conhecidas como Xivalinga, eram símbolos “do fogo do céu ou do sol e o fogo do sol, os raios”. (A Cultura Rigvédica do Indo Pré-histórico, em inglês) Ele arrazoa que “o culto do sexo . . . não se originou como culto religioso. É um subproduto. Uma degeneração do original. São as pessoas que rebaixam o ideal, elevado demais para sua compreensão, a seus próprios níveis”. Como contra-argumento à crítica ocidental ao hinduísmo, ele diz que, à base da veneração cristã da cruz, um símbolo fálico pagão, “os cristãos . . . são os devotos de um culto do sexo”. Com o tempo, as crenças, os mitos e as lendas da Índia foram assentados por escrito, e formam hoje os escritos sagrados do hinduísmo. Embora tais obras sacras sejam bem abrangentes, elas não tentam propor uma unificada doutrina hindu.

 

Escritos Sagrados do Hinduísmo

Os escritos mais antigos são os Vedas, uma coletânea de orações e hinos conhecidos como Rig-Veda, Sama-Veda, Iajur-Veda e Atarva-Veda. Foram compostos durante vários séculos e completados por volta de 900 AEC. Os Vedas foram mais tarde suplementados por outros escritos, incluindo os Brâmanas e os Upanichades. Os Brâmanas especificam como realizar os ritos e sacrifícios, tanto domésticos como públicos, e dão muitos detalhes sobre seus profundos significados. Foram escritos a partir de cerca de 300 AEC ou mais tarde. Os Upanichades (literalmente: “assentos perto dum mestre”), também conhecidos como Vedanta e escritos por volta de 600-300 AEC, são tratados que delineiam a razão de todo o pensamento e ação, segundo a filosofia hindu. As doutrinas da samsara (transmigração da alma) e do carma (a crença de que as ações de uma existência anterior são a causa do atual estado da pessoa na vida) foram esboçadas nesses escritos. Outro conjunto de escritos são os Puranas, ou longas histórias alegóricas contendo muitos mitos hindus sobre deuses e deusas, bem como sobre heróis hindus. Essa extensa biblioteca hindu inclui também as epopéias de Ramaiana e Maa-barata. A primeira é a história do “Senhor Rama . . . o mais glorioso de todos os personagens encontrados em literatura escritural”, segundo A. Parthasarathy. O Ramaiana é um dos mais populares escritos para os hindus, datado de aproximadamente o quarto século AEC. É a história do herói Rama, ou Ramachandra, tido pelos hindus como filho, irmão e marido exemplar. É considerado o sétimo avatar (encarnação) de Vixenu, e seu nome não raro é invocado como saudação. Segundo Bhaktivedanta Swami Prabhupāda, fundador da Sociedade Internacional para Conscientização Críxena, “Bagavad-gītā [parte do Maa-barata] é a suprema instrução de moralidade. As instruções do Bagavad-gītā constituem o supremo processo de religião e o supremo processo de moralidade. . . . A última instrução do Gītā é a última palavra de toda a moralidade e religião: renda-se a Kṛṣṇa [Críxena].” — BG. O Bagavat Gita (Cântico Celestial), tido por alguns como “jóia da sabedoria espiritual da Índia”, é uma conversação em campo de batalha “entre o Senhor Śrī Kṛṣṇa [Críxena], a Suprema Personalidade da Divindade, e Arjuna, Seu amigo íntimo e devoto, a quem Ele instrui na ciência da auto-realização”. Contudo, o Bagavat Gita é apenas parte da extensa biblioteca sagrada hindu. Alguns desses escritos (Vedas, Brâmanas e os Upanichades) são encarados como Sruti, ou “foram ouvidos”, e são, portanto, considerados escritos sagrados diretamente revelados. Outros, como as epopéias e os Puranas, são Smriti, ou “lembrados”, e, assim, compostos por autores humanos, embora derivados de revelação. Um exemplo é o Manu Smriti, que esboça as leis religiosas e sociais hindus, além de explicar a base para o sistema de castas. Quais são algumas das crenças que surgiram desses escritos hindus?

 

Ensinos e Conduta - Ainsa e Varna

No hinduísmo, como também em outras religiões, há certos conceitos básicos que influenciam o pensamento e a conduta cotidiana. Um notável exemplo é o ainsa (sânscrito: ahinsa), ou não-violência, pela qual Mohandas Gandhi (1869-1948), conhecido como o Mahatma, tanto se celebrizou. À base dessa filosofia, os hindus não devem matar outras criaturas, nem praticar violência contra elas, que é uma das razões pelas quais eles veneram certos animais, como vacas, cobras e macacos. Os mais estritos expoentes desse ensino do ainsa e respeito à vida são os seguidores do jainismo (fundado no sexto século AEC), que andam descalços e usam até mesmo uma máscara para não engolir acidentalmente algum inseto. Em contraste, os siques são conhecidos por sua tradição guerreira, e Singh, um sobrenome comum entre eles, significa leão. Um aspecto universalmente conhecido do hinduísmo é o varna, ou sistema de castas, que divide a sociedade em rígidas classes. É impossível não perceber que a sociedade hindu ainda está estratificada por esse sistema, ainda que seja rejeitado pelos budistas e jainistas. Contudo, assim como a discriminação racial persiste nos Estados Unidos e em outras partes, da mesma forma o sistema de castas está profundamente arraigado no espírito indiano. De certo modo é uma forma de conscientização de classe que, de maneira paralela, ainda se encontra hoje em menor grau na sociedade britânica e em outros países. Assim, na Índia, a pessoa nasce dentro de um rígido sistema de castas e praticamente não existe uma saída. Ademais, o hindu mediano não procura uma saída. Ele considera isso como sua predeterminada e inescapável sorte na vida, o resultado de suas ações numa existência anterior, ou carma. Mas, como se originou o sistema de castas? Mais uma vez temos de recorrer à mitologia hindu. Segundo a mitologia hindu, havia originalmente quatro principais castas baseadas nas partes do corpo do Puruxa, figura do pai original da humanidade. Os hinos do Rig-Veda dizem: “Quando dividiram o Puruxa, quantas partes fizeram? Como eles chamam sua boca, seus braços? Como chamam suas coxas e pés? A brâmane [a casta mais elevada] era sua boca, de ambos os seus braços se fez a rajânia. Suas coxas se tornaram a vaixiá, de seus pés se produziu a sudra.” — The Bible of the World (A Bíblia do Mundo). Assim, os brâmanes sacerdotais, a mais elevada casta, supostamente se originaram da boca do Puruxa, sua parte mais elevada. A classe governante, ou guerreira, (xátria ou rajânia) veio de seus braços. A classe mercadora e lavradora, chamada vaixá, ou vaixiá, originou-se de suas coxas. Uma casta inferior, a sudra, ou xudra, ou classe trabalhadora, resultou da parte mais inferior do corpo, os pés.No decorrer dos séculos vieram a existir até mesmo castas inferiores, os párias e os intocáveis, ou como Mahatma Gandhi os chamava mais bondosamente, os harijãs, ou “pessoas pertencentes ao deus Vixenu”. Embora a intocabilidade seja ilegal na Índia desde 1948, os intocáveis ainda levam uma existência muito dura. Com o tempo as castas se multiplicaram, passando a corresponder a quase toda profissão e artesanato na sociedade hindu. Este antigo sistema de castas, que mantém cada qual no seu respectivo lugar social, é na realidade também racial e “inclui distintos tipos raciais que variam desde o que é conhecido como tronco ariano [de pele clara] ao pré-dravidiano [de pele mais escura]”. Varna, ou casta, significa “cor”. “As primeiras três castas eram arianas, as pessoas mais claras; a quarta casta, que incluía os aborígenes de pele escura, era não-ariana.” (Série Mitos e Lendas — Índia, de Donald A. Mackenzie, em inglês) É um fato da vida na Índia que o sistema de castas, fortalecido pelo ensino religioso do carma, mantém milhões de pessoas presas a eterna pobreza e injustiça.

 

O Frustrador Ciclo da Existência

Outra crença básica que afeta a ética e a conduta hindu, e uma das mais vitais, é o ensino do carma. Trata-se do princípio de que toda ação tem suas conseqüências, positivas ou negativas; determina cada existência da alma transmigrada ou reencarnada. Como explica o Garuda Purana: “O homem é o criador de seu próprio destino, e mesmo na vida fetal, ele é afetado pela dinâmica das obras praticadas na sua existência anterior. Quer confinado num reduto de montanha, quer tranqüilo na superfície de um mar, quer seguro no colo de sua mãe quer erguido sobre a cabeça dela, o homem não pode fugir dos efeitos de suas próprias ações passadas. . . . O que quer que tenha de acontecer a um homem, em qualquer idade ou época específicas, certamente lhe sobrevirá então e naquela data.” O Garuda Purana continua: “O conhecimento adquirido por um homem na sua vida anterior, a riqueza dada como caridade na sua existência anterior e as obras feitas por ele numa encarnação prévia, vão à frente de sua alma na sua permanência temporária.” De que depende essa crença? A alma imortal é essencial para o ensino do carma, e é o carma que faz o conceito hindu da alma diferir do da cristandade. Os hindus crêem que cada alma pessoal, jiva ou pran, passa por muitas reencarnações e possivelmente pelo “inferno”. Ela tem de lutar para unir-se à “Suprema Realidade”, também chamada Brâmane, ou Brâmine (não confundir com o deus hindu Brama). Por outro lado, as doutrinas da cristandade oferecem à alma as opções do céu, inferno, purgatório ou limbo, dependendo da crença religiosa. Como conseqüência do carma, os hindus tendem a ser fatalistas. Crêem que o atual status ou condição da pessoa resulta duma existência prévia, sendo, portanto, merecida, seja boa ou má. O hindu pode tentar estabelecer um registro melhor, de modo que a próxima existência seja mais suportável. Assim, ele aceita mais prontamente a sua sorte na vida do que o ocidental. O hindu vê tudo como o resultado da lei de causa e efeito em relação à sua existência anterior. É o princípio de colher o que se semeou numa suposta existência anterior. Tudo isso, naturalmente, baseia-se na premissa de que o homem tem uma alma imortal que passa para uma outra vida, seja esta como humano, animal ou vegetal. Assim, qual é o derradeiro objetivo da fé hindu? É alcançar a mocsa, que significa libertação, ou liberação, do círculo vicioso de renascimentos e diferentes existências. Por conseguinte, é um escape da existência incorporada, não para o corpo, mas sim para a “alma”. “Visto que a mocsa, ou libertação duma longa série de encarnações, é o alvo de todo hindu, o maior evento de sua vida é realmente a morte”, diz certo comentarista. Pode-se conseguir a mocsa seguindo os diferentes margas, ou caminhos.

 

O Panteão de Deuses Hindus

Embora o hinduísmo afirme existir milhões de deuses, na prática real há certos deuses favoritos que se têm tornado o ponto focal de várias seitas dentro do hinduísmo. Três dos deuses mais destacados estão incluídos no que os hindus chamam de Trimúrti, uma trindade, ou tríade, de deuses. A tríade consiste em Brama, o Criador, Vixenu, o Preservador e Xiva, o Destruidor, e cada qual tem pelo menos uma esposa ou consorte. Brama é casado com Sarasváti, a deusa do conhecimento. A esposa de Vixenu é Lacximi e a primeira esposa de Xiva era Sati, que se suicidou. Foi a primeira mulher a passar pelo fogo sacrificial, tornando-se assim a primeira sati. Seguindo seu exemplo mitológico, milhares de viúvas hindus ao longo dos séculos se sacrificaram na pira funerária de seu marido, embora tal prática seja agora ilegal. Xiva tem também outra esposa, conhecida por vários nomes e títulos. Na sua forma benigna, ela é Parvati e Uma, bem como Gauri, a Dourada. Como Durga ou Cali, ela é uma deusa terrificante. Brama, embora seja central na mitologia hindu, não ocupa um lugar de destaque na adoração do hindu mediano. De fato, bem poucos templos são dedicados a ele, embora seja chamado de Brama, o Criador. Contudo, a mitologia hindu atribui a tarefa de criar o universo material a um ser, fonte ou essência suprema — Brâmane ou Brâmine, identificado pelas sílabas sagradas OM ou AUM. Todos os três membros da tríade são considerados parte desse “Ser”, e todos os outros deuses são tidos como diferentes manifestações. Qualquer que seja o deus que então é adorado como supremo, pensa-se que essa deidade seja todo-abrangente. Assim, ao passo que os hindus veneram abertamente milhões de deuses, a maioria reconhece a existência de apenas um único Deus verdadeiro, que pode assumir muitas formas: varão, mulher, ou até mesmo animal. Por conseguinte, os peritos hindus frisam prontamente que o hinduísmo é realmente monoteísta, não politeísta. O pensamento védico posterior, contudo, descarta o conceito de um ser supremo, substituindo-o por um impessoal princípio ou realidade divina. Vixenu, uma benevolente deidade solar e cósmica, é o centro da adoração para os seguidores do vaixnavismo. Ele aparece sob dez avatares, ou encarnações, incluindo Rama, Críxena e o Buda. Outro avatar é Vixenu Naraiana, “representado em forma humana adormecido sobre a serpente enrolada Xexa ou Ananta, flutuando nas águas cósmicas com sua esposa, a deusa Lacximi, sentada a seus pés ao passo que o deus Brama surge de um loto que cresce do umbigo de Vixenu”. — Enciclopédia de Crenças do Mundo (em inglês). Xiva, também comumente chamado de Mahexa (Supremo Senhor) e Maadeva (Grande Deus), é o segundo maior deus do hinduísmo, e a adoração que lhe é prestada chama-se xivaísmo. Ele é descrito como “o grande asceta, o mestre iogue sentado, mergulhado na meditação nas encostas do Himalaia, com o corpo besuntado de cinzas e a cabeça coberta de cabelo emaranhado”. É também conhecido “por seu erotismo, como originador da fertilidade e supremo senhor da criação, Maadeva”. (Enciclopédia de Crenças do Mundo) Adora-se a Xiva por meio do linga, ou representação fálica. Como muitas outras religiões do mundo, o hinduísmo tem a sua deusa suprema, que pode tanto ser atraente como aterradora. Em sua forma mais agradável ela é conhecida como Parvati e Uma. Seu gênio temível é mostrado como Durga ou Cali, uma deusa sanguinária que se deleita em sacrifícios de sangue. Como Deusa-Mãe, Cali Ma (Negra Mãe-Terra), ela é a deidade principal da seita Sacti. É retratada nua até os quadris e usando como adornos cadáveres, cobras e caveiras. No passado, vítimas humanas estranguladas eram oferecidas a ela por crentes conhecidos como tug, de onde vem a palavra portuguesa “tugue”.

 

O Hinduísmo e o Rio Ganges

Não podemos falar do panteão de deuses do hinduísmo sem mencionar seu rio mais sagrado — o Ganges. Grande parte da mitologia hindu relaciona-se diretamente com o rio Ganges, ou Gangá Ma (Mãe Gangá), como os devotos hindus o chamam. (Veja mapa, página 123.) Eles recitam uma oração que inclui 108 diferentes nomes para o rio. Por que é o Ganges tão reverenciado pelos hindus sinceros? Por ser tão intimamente ligado à sua sobrevivência diária e à sua antiga mitologia. Eles crêem que o rio existia antes no céu qual Via-Láctea. Mas como é que se transformou num rio? Com algumas variações, a maioria dos hindus explicaria isso da seguinte maneira: O Marajá Sagara tinha 60.000 filhos que foram mortos pelo fogo de Capila, uma manifestação de Vixenu. Suas almas estavam condenadas ao inferno, a menos que a deusa Gangá descesse do céu para purificá-los e livrá-los da maldição. Bagirati, bisneto de Sagara, intercedeu junto a Brama para que este permitisse que a sagrada Gangá descesse à terra. Certo relato continua: “Gangá respondeu: ‘Sou uma torrente tão poderosa que abalaria as fundações da terra.’ De modo que [Bagirati], depois de fazer penitência por mil anos, recorreu ao deus Xiva, o maior de todos os ascetas, e persuadiu-o a se posicionar alto acima da terra em meio às rochas e o gelo do Himalaia. Xiva tinha cabelos emaranhados alto na sua cabeça, e ele permitiu a Gangá que se arremessasse do céu para dentro de seus cachos, que brandamente absorveram o choque ameaçador à terra. Daí Gangá escoou suavemente para a terra e fluiu das montanhas e através das planícies, trazendo água e, por conseguinte, vida para a terra seca.” — Do Oceano Para o Céu (em inglês), de Sir Edmund Hillary. Os seguidores de Vixenu têm uma versão um pouco diferente sobre a origem do Ganges. Segundo um texto antigo, o Vixenu Purana, a sua versão é: “Dessa região [o assento sagrado de Vixenu] procede o rio Ganges, que remove todos os pecados . . . Emana da unha do dedão do pé esquerdo de Vixenu.” Ou, como dizem os seguidores de Vixenu, em sânscrito: “Visnu-padabja-sambhuta”, que significa “Nascido do pé, semelhante ao loto, de Vixenu”. Os hindus crêem que o Ganges tem o poder de libertar, purificar, limpar e curar os crentes. O Vixenu Purana declara: “Os santos, que são purificados por se banharem nas águas deste rio, e cujas mentes estejam devotadas a Quesava [Vixenu], obtêm a libertação final. O rio sagrado, ouvindo-se dele falar, ao ser desejado, visto, tocado, ao se banhar nele, ou ao se cantar hinos por ele, dia a dia purifica todos os seres. E aqueles que mesmo vivendo à distância . . . exclamarem ‘Gangá e Gangá’ serão libertados dos pecados cometidos durante as três existências prévias.” O Bramadapurana diz: “Quanto aos que se banham devotamente uma vez nas puras correntes do Gangá, suas tribos são protegidas por Ela contra centenas de milhares de perigos. Males acumulados durante gerações são destruídos. Simplesmente por banhar-se no Gangá a pessoa é imediatamente purificada.” Os indianos acorrem ao rio para realizar a puja, ou adoração, oferecendo flores, salmodiando orações e recebendo dum sacerdote o tilaque, a manchinha de pasta vermelha ou amarela na testa. Daí eles entram na água para se banhar. Muitos também bebem a água, embora seja altamente poluída por esgotos, substâncias químicas e cadáveres. Mas, tão grande é a atração espiritual do Ganges que milhões de indianos almejam banhar-se pelo menos uma vez no seu ‘rio santo’, poluído ou não. Outros trazem os corpos de seus entes queridos para serem cremados em piras na margem do rio, e daí talvez as cinzas sejam lançadas no rio. Eles crêem que isso garante a felicidade eterna para a alma que partiu. Os muito pobres para pagar uma pira funerária simplesmente lançam no rio o corpo coberto, onde é atacado por aves necrófagas, ou simplesmente se decompõe.

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