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Segunda, 15 Dezembro 2014 16:59

Budismo - A Busca da Iluminação

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POUCO conhecido fora da Ásia na virada do século 20, o budismo hoje assumiu o papel de religião universal. De fato, muitos no Ocidente admiram-se de ver o budismo vicejar ali mesmo em sua própria comunidade. Grande parte disso resulta do movimento internacional de refugiados. Comunidades asiáticas consideravelmente grandes se estabeleceram na Europa Ocidental, na América do Norte, na Austrália e em outros lugares. À medida que cada vez mais imigrantes fincam raízes em um novo país, eles também trazem consigo a sua religião. Ao mesmo tempo, mais pessoas no Ocidente se deparam com o budismo pela primeira vez. Isto, somado à permissividade e ao declínio espiritual nas igrejas tradicionais, têm feito com que alguns se convertessem à “nova” religião. Assim, segundo o Livro do Ano 1989 da Enciclopédia Britânica, o budismo afirma ter cerca de 300 milhões de membros no mundo, com cerca de 200.000 na Europa Ocidental e na América do Norte respectivamente, 500.000 na América Latina e 300.000 na União Soviética. A maioria dos adeptos do budismo, porém, ainda se encontra em países asiáticos, como Sri Lanka, Myanmar (Birmânia), Tailândia, Japão, Coréia e China. Mas, quem foi o Buda? Como se iniciou essa religião? Quais são os ensinos e as práticas do budismo?

 

Uma Questão de Fonte Confiável

 "O que se conhece da vida de Buda baseia-se principalmente na evidência dos textos canônicos, sendo que os mais extensos e abrangentes são os escritos em páli, uma língua da antiga Índia”, diz o livro World Religions—From Ancient History to the Present (Religiões do Mundo — Da História Antiga ao Presente). O que isso significa é que não existe fonte de matéria de seu tempo que nos diga algo sobre Sidarta Gautama, o fundador dessa religião, que viveu no norte da Índia no sexto século AEC. Isto, naturalmente, representa um problema. Mas, ainda mais importante é a pergunta: Quando e como foram produzidos os “textos canônicos”? A tradição budista afirma que logo após a morte de Gautama, convocou-se um concílio de 500 monges para decidir qual era o autêntico ensino do Mestre. Se tal concílio realmente aconteceu é tema de muito debate entre peritos e historiadores budistas. O ponto importante que devemos notar, porém, é que mesmo textos budistas reconhecem que aquilo que se decidiu ser o ensino autêntico não foi assentado por escrito, mas sim memorizado pelos discípulos. A escrita efetiva dos textos sagrados teve de esperar um bom tempo. Segundo certas crônicas cingalesas do quarto e sexto séculos EC, os mais antigos desses “textos canônicos” em páli foram assentados por escrito durante o reinado do rei Vatagamani Abhaia, do primeiro século AEC. Outros relatos da vida de Buda não apareceram por escrito antes talvez do primeiro ou mesmo quinto século EC, cerca de mil anos depois de seu tempo. Assim, diz o Abingdon Dictionary of Living Religions (Dicionário Abingdon de Religiões Vivas): “As ‘biografias’ são tanto tardias em origem como repletas de matéria lendária e mítica, e os mais antigos textos canônicos são produtos de um longo processo de transmissão oral que evidentemente incluiu revisões e muita adição.” Certo perito até mesmo “sustentou que nem uma única palavra do ensino registrado pode ser atribuída com insofismável certeza ao próprio Gautama”. Justificam-se tais críticas?

 

A Concepção e o Nascimento do Buda

Considere os seguintes excertos de Jataca, parte do cânon em páli, e Buda-charita, um texto em sânscrito do segundo século EC sobre a vida do Buda. Primeiro, o relato de como a mãe do Buda, rainha Maha-Maia, veio a concebê-lo num sonho: “Os quatro anjos-da-guarda vieram e ergueram-na, junto com o seu leito, e levaram-na aos contrafortes do Himalaia. . . . Daí vieram as esposas desses anjos-da-guarda, e conduziram-na ao lago Anotata, e banharam-na, para remover toda impureza humana. . . . Não longe dali ficava a Montanha de Prata, e nela uma mansão dourada. Colocaram ali um leito divino com a cabeceira voltada para o oriente, e deitaram-na nele. Neste ponto o futuro Buda se havia tornado um esplêndido elefante branco . . . Ele subiu a Montanha de Prata e . . . rodeou três vezes o leito de sua mãe, com seu lado direito virado para o leito, e golpeando-a em seu lado direito, parecia entrar no ventre dela. Assim ocorreu a concepção na festividade do solstício de verão.” Quando a rainha contou o sonho a seu marido, o rei, ele convocou 64 eminentes sacerdotes hindus, alimentou-os e vestiu-os, e pediu uma interpretação. Esta foi a resposta deles: “Não te aflijas, grande rei! . . . Terás um filho. E ele, se continuar a levar a vida caseira, tornar-se-á um monarca universal; mas, se ele abandonar a vida caseira e se retirar do mundo, se tornará um Buda, e afastará as nuvens do pecado e da tolice deste mundo.” Depois disso, ocorreram alegadamente 32 milagres: “Todos os dez mil mundos subitamente tremeram, estremeceram e se sacudiram. . . . Os fogos se extinguiram em todos os infernos; . . . acabaram-se as doenças entre os homens; . . . todos os instrumentos musicais emitiram seus tons sem serem tocados; . . . no poderoso oceano a água tornou-se doce; . . . os inteiros dez mil mundos viraram uma só massa de grinaldas da mais alta magnificência possível.” Daí ocorreu o incomum nascimento do Buda num jardim de árvores-sal chamado Bosque Lumbini. Quando a rainha desejou deitar mão num ramo da mais alta árvore-sal do bosque, a árvore anuiu por inclinar-se ao seu alcance. Segurando o ramo e em pé, ela deu à luz. “Ele saiu do ventre de sua mãe como um pregador que desce do púlpito, ou como um homem que desce uma escadaria, estirando as mãos e os pés, livre de qualquer impureza do ventre de sua mãe. . . Assim que nasce, o [futuro Buda] planta firmemente os pés rente ao chão, dá sete passos para o norte, com uma capota branca acima da cabeça, e inspeciona todos os quadrantes do mundo, exclamando em tom inigualável: No mundo todo eu sou chefe, o melhor e o mais destacado; este é meu último nascimento; jamais nascerei de novo.” Há também histórias igualmente minuciosas sobre sua infância, seus encontros com jovens admiradoras, suas peregrinações e praticamente todos os eventos de sua vida. Talvez não seja de admirar que a maioria dos peritos rejeite todos esses relatos como lendas e mitos. Um destacado funcionário do Museu Britânico até mesmo sugere que devido à “grande quantidade de lenda e milagre. . . uma vida histórica do Buda está além de restauração”. Apesar desses mitos, existe um relato tradicional da vida do Buda amplamente difundido. Um texto moderno, A Manual of Buddhism (Manual do Budismo), publicado em Colombo, Sri Lanka, fornece o seguinte relato simplificado: “No dia de lua cheia de maio do ano 623 AC nasceu no distrito de Nepal um príncipe indiano saquiano, de nome Sidata Gotama. O rei Sudodana era seu pai, e a rainha Maha Maia era sua mãe. Ela morreu alguns dias depois do nascimento da criança e Maha Pajapati Gotami tornou-se sua mãe adotiva. “Aos dezesseis anos de idade ele casou-se com sua prima, a bela princesa Iasodara. Por uns treze anos após seu feliz casamento ele levou uma vida de esplendor, bem-aventuradamente desconhecedor das vicissitudes da vida fora dos portões do palácio. Com a marcha do tempo, começou gradativamente a compreender a verdade. Em seu 29.° ano, que marcou o ponto de virada em sua carreira, nasceu seu filho Rahula. Ele considerou sua prole como impedimento, pois entendeu que todos, sem exceção, estavam sujeitos ao nascimento, à doença e à morte. Compreendendo assim a universalidade da tristeza, ele decidiu descobrir uma panacéia para essa doença universal da humanidade. Assim, renunciando a seus prazeres palacianos, ele deixou a casa certa noite . . . cortou o cabelo, vestiu a roupa simples de um asceta, e saiu a peregrinar como Buscador da Verdade.” Claramente, estes poucos detalhes biográficos contrastam-se nitidamente com os relatos fantásticos encontrados nos “textos canônicos”. E, à exceção do ano de seu nascimento, eles são comumente aceitos.

 

A Iluminação — Como Aconteceu

Qual foi o supramencionado “ponto de virada em sua carreira”? Foi quando, pela primeira vez na vida, ele viu um enfermo, um ancião e um cadáver. Esta experiência deixou-o aflito com relação ao significado da vida — Por que os homens nascem, apenas para sofrer, envelhecer e morrer? Daí, informa-se que ele viu um homem santo, que renunciara o mundo em busca da verdade. Isto impeliu Gautama a renunciar sua família, seus bens e seu nome principesco e passar os seguintes seis anos buscando a resposta de mestres e gurus hindus, mas sem êxito. Os relatos nos dizem que ele dedicou-se a um proceder de meditação, jejum, ioga e extremo desprendimento, não obstante, não encontrou nenhuma paz ou iluminação espiritual. Por fim, ele veio a perceber que seu proceder de desprendimento extremo era tão inútil como a vida regalada que levara antes. Adotou então o que chamou de Caminho Médio, evitando os extremos dos estilos de vida que seguira antes. Decidindo que a resposta devia ser encontrada na sua própria percepção, ele sentou-se para meditar debaixo de um pipal, ou figueira-dos-pagodes indiana. Resistindo a ataques e tentações do diabo Mara, ele continuou firme em sua meditação por quatro semanas (alguns dizem sete semanas) até que supostamente transcendeu todo conhecimento e entendimento e atingiu a iluminação. Por esse processo, na terminologia budista, Gautama tornou-se o Buda — o Despertado, ou Iluminado. Ele atingira o derradeiro alvo, Nirvana, o estado de paz e iluminação perfeita, libertado do desejo e do sofrimento. Tornou-se também conhecido como Saquiamuni (sábio da tribo sáquia), e não raro dirigia-se a si mesmo como Tatagata (um que assim veio [para ensinar]). Diferentes seitas budistas, contudo, têm diferentes conceitos sobre este assunto. Alguns encaram-no estritamente como ser humano que encontrou o caminho da iluminação para si mesmo e ensinou-o a seus seguidores. Outros encaram-no como o último duma série de Budas que vieram ao mundo para pregar ou reavivar o darma (páli, Dama), o ensino ou caminho do Buda. Ainda outros encaram-no como bodisatva, alguém que alcançou a iluminação mas postergou a entrada no Nirvana a fim de ajudar outros em sua busca de iluminação. O que quer que seja, este evento, a Iluminação, é de importância central para todas as escolas do budismo.

 

A Iluminação — O Que É?

Tendo conseguido a iluminação, e depois de vencer certa hesitação inicial, o Buda pôs-se a ensinar a outros a sua recém-encontrada verdade, seu darma. Seu primeiro e provavelmente mais importante sermão foi proferido na cidade de Benares, num parque de veados, a cinco bicus — discípulos ou monges. Nele, ensinou que, para se ser salvo, deve-se evitar tanto o proceder de indulgência sensual como o do ascetismo, e seguir o Caminho Médio. Daí, deve-se entender e seguir as Quatro Nobres Verdades (veja o quadro, na página ao lado), que podem brevemente ser assim resumidas: (1) Toda existência é sofrimento. (2) O sofrimento vem do desejo ou anseio. (3) A cessação do desejo significa o fim do sofrimento. (4) Consegue-se a cessação do desejo seguindo-se o Caminho Óctuplo, controlando a conduta, o pensamento e a crença da pessoa. Este sermão sobre o Caminho Médio e as Quatro Nobres Verdades engloba a essência da Iluminação e é considerado o epítome de todo o ensino de Buda. (Em contraste, compare com Mateus 6:25-34; 1 Timóteo 6:17-19; Tiago 4:1-3; 1 João 2:15-17.) Gautama não reivindicou inspiração divina para seu sermão, mas deu mérito a si próprio com as palavras “descoberto pelo Tatagata”. Alega-se que em seu leito de morte o Buda disse a seus discípulos: “Buscai a salvação apenas na verdade; não procureis ajuda de ninguém, exceto de vós mesmos.” Assim, segundo o Buda, a iluminação vem, não de Deus, mas sim de empenho pessoal em desenvolver raciocínio correto e boas ações. Não é difícil perceber por que esse ensino foi bem recebido na sociedade indiana da época. Ele condenava as gananciosas e corruptas práticas religiosas promovidas pelos brâmanes hindus, ou casta sacerdotal, por um lado, e, por outro, o rígido ascetismo dos jainistas e outros cultos místicos. Acabou também com os sacrifícios e rituais, as miríades de deuses e deusas, e o fatigante sistema de castas que dominava e escravizava todo aspecto da vida das pessoas. Em suma, prometia libertação a todos os que se dispusessem a seguir o caminho do Buda.

 

O Budismo Amplia a Sua Influência

Quando os cinco bicus aceitaram o ensino do Buda, tornaram-se os primeiros sanga, ou ordem de monges. Assim, as “Três Jóias” (Triratna) do budismo estavam completas, a saber, o Buda, o darma e o sanga, que supostamente ajudariam as pessoas a entrar no caminho da iluminação. Assim preparado, Gautama, o Buda, saiu a pregar em toda a extensão do vale do Ganges. Pessoas de todo o nível e condição sociais vinham ouvi-lo, e tornavam-se discípulos seus. Por ocasião de sua morte, aos 80 anos, ele já era bem conhecido e bem respeitado. Consta que as últimas palavras a seus discípulos foram: “A decadência é inerente a todas as coisas. Produzi a vossa própria salvação com diligência.” No terceiro século AEC, cerca de 200 anos depois da morte do Buda, apareceu o maior paladino do budismo, o imperador Asoca, que pôs sob seu controle a maior parte da Índia. Entristecido pelas matanças e convulsões causadas por suas conquistas, ele adotou o budismo e deu-lhe apoio estatal. Erigiu monumentos religiosos, convocou concílios e exortou o povo a viver segundo os preceitos do Buda. Asoca enviou também missionários budistas a todas as partes da Índia e ao Sri Lanka, Síria, Egito e Grécia. Principalmente devido aos empenhos de Asoca, o budismo passou de seita indiana a religião universal. Justificadamente, alguns o consideram o segundo fundador do budismo. Do Sri Lanka o budismo se propagou para o leste, a Myanmar (Birmânia), à Tailândia e a outras partes da Indochina. Para o norte, o budismo se espalhou à Cachemira e à Ásia central. A partir dessas regiões, e já no primeiro século EC, monges budistas viajaram através das agrestes montanhas e desertos e levaram sua religião para a China. Da China, foi um passo curto para o budismo chegar à Coréia e ao Japão. O budismo foi também introduzido no Tibete, vizinho da Índia ao norte. Mesclado com crenças locais, emergiu como lamaísmo, que dominou, ali, tanto a vida religiosa como política. Por volta do sexto ou sétimo século EC, o budismo já estava bem estabelecido em todo o sudeste asiático e Extremo Oriente. Mas, o que acontecia na Índia? Ao passo que o budismo espalhava sua influência a outros países, declinava gradativamente na Índia. Profundamente envolvidos em interesses filosóficos e metafísicos, os monges passaram a perder a ligação com seus seguidores leigos. Além disso, a perda de patrocínio palaciano e a adoção de conceitos e práticas hindus apressaram a extinção do budismo na Índia. Até mesmo lugares santos budistas, como Lumbini, onde Gautama nasceu, e Buda Gaia, onde ele teve a “iluminação”, viraram ruínas. Por volta do século 13, o budismo virtualmente desaparecera da Índia, seu país de origem. Durante o século 20, o budismo passou por outra mudança de feição. Levantes políticos na China, Mongólia, Tibete e países do sudeste asiático aplicaram-lhe um golpe devastador. Milhares de mosteiros e templos foram destruídos e centenas de milhares de monges e monjas foram afastados, aprisionados ou mesmo mortos. Não obstante, ainda se percebe fortemente a influência do budismo no modo de pensar e nos hábitos do povo desses países. Na Europa e na América do Norte, o conceito budista de buscar a “verdade” dentro da própria pessoa parece exercer um amplo atrativo, e sua prática de meditação provê uma fuga do corre-corre do estilo de vida ocidental. É interessante que, no prefácio do livro Living Buddhism (Budismo Vivo), Tenzin Gyatso, o exilado Dalai Lama do Tibete, escreveu: “Talvez hoje o budismo tenha uma parte a desempenhar em lembrar os povos ocidentais da dimensão espiritual de suas vidas.”

 

Os Diversificados Caminhos do Budismo

Embora seja costumeiro falar-se do budismo como religião única, na realidade ele está dividido em várias escolas de pensamento. Baseadas em diferentes interpretações da natureza do Buda e de seus ensinos, cada qual tem suas próprias doutrinas, práticas e escrituras. Estas escolas estão adicionalmente divididas em numerosos grupos e seitas, muitos dos quais fortemente influenciados por culturas e tradições locais. O Teravada (Caminho dos Mais Velhos), ou Hinaiana (Pequeno Veículo) é uma escola do budismo que floresce no Sri Lanka, Myanmar (Birmânia), Tailândia, Kampuchea (Cambodja) e Laos. Alguns consideram-na a escola conservadora. Ela enfatiza ganhar sabedoria e a pessoa produzir a sua própria salvação por renunciar ao mundo e levar uma vida de monge, devotando-se à meditação e ao estudo num mosteiro. É comum ver em alguns desses países grupos de rapazes com cabeça rapada, em longos trajes cor de açafrão e descalços, segurando tigelas de esmolas para receberem sua provisão diária dos crentes leigos, cujo papel é sustentá-los. É costumeiro os homens passarem pelo menos parte de sua vida num mosteiro. O derradeiro objetivo da vida monástica é tornar-se arat, isto é, alguém que atingiu a perfeição espiritual e a libertação da dor e do sofrimento nos ciclos do renascimento. O Buda indicou o caminho; compete a cada um segui-lo. A escola Mahaiana (Grande Veículo) do budismo encontra-se comumente na China, Coréia, Japão e Vietnã. Tem este nome porque destaca o ensino do Buda de que “a verdade e o caminho da salvação é para todos, quer se viva numa caverna, num mosteiro, quer numa casa . . . Não é apenas para os que renunciam ao mundo”. O conceito básico mahaiano é que o amor e a compaixão do Buda são tão grandes que ele não privaria ninguém da salvação. Ensina que, estando a natureza do Buda presente em todos nós, todos somos capazes de tornar-nos um buda, um iluminado, ou bodisatva. A iluminação vem, não através de estrênua autodisciplina, mas sim pela fé no Buda e compaixão para com todas as coisas vivas. Isto obviamente exerce maior atrativo sobre as massas de mentalidade prática. Por causa dessa atitude mais liberal, contudo, desenvolveram-se numerosos grupos e cultos. Entre as muitas seitas mahaianas que se desenvolveram na China e no Japão figuram as escolas Terra Pura e Zen do budismo. A primeira centraliza sua crença na fé no poder salvador do Buda Amida, que prometeu a seus seguidores um renascimento na Terra Pura, ou Paraíso Ocidental, uma terra de alegria e deleite habitada por deuses e seres humanos. De lá, é fácil alcançar o Nirvana. Repetindo a oração: “Tenho fé em Buda Amida”, às vezes milhares de vezes por dia, os devotos se purificam a fim de chegar à iluminação ou ganhar o renascimento no Paraíso Ocidental. O budismo Zen (escola Ch’an, na China) derivou seu nome da prática da meditação. As palavras ch’an (chinês) e zen (japonês) são variações da palavra sânscrita diana, que significa “meditação”. Esta disciplina ensina que o estudo, as boas obras e os rituais têm pouco mérito. Pode-se conseguir a iluminação simplesmente por meditar em enigmas imponderáveis, tais como: ‘Qual é o ruído de se bater palmas com uma só mão?’, e: ‘O que encontramos onde nada existe?’ A natureza mística do budismo zen tem encontrado expressão nas finas artes de arranjos florais, caligrafia, pinturas a nanquim, poesia, jardinagem, e assim por diante, e estas têm sido bem recebidas no Ocidente. Hoje, existem centros de meditação Zen em muitos países ocidentais. Por fim, há o budismo Tibetano, ou Lamaísmo. Esta forma de budismo é às vezes chamada de Mantraiana (Veículo Mantra) por causa do largo uso de mantras, uma série de sílabas com ou sem significado, em longos recitais. Em vez de enfatizar a sabedoria ou a compaixão, esta forma de budismo enfatiza o uso de rituais, orações, magia, e espiritismo na adoração. As orações são repetidas milhares de vezes por dia com a ajuda de contas de oração e tambores de oração. É possível aprender os complicados rituais apenas sob instrução oral dos lamas, ou líderes monásticos, dentre os quais os mais conhecidos são o Dalai Lama e o Panchen Lama. Depois da morte de um lama, faz-se a busca de uma criança na qual alegadamente o lama teria sido reencarnado para ser o próximo líder espiritual. Esse termo, contudo, é também aplicado genericamente a todos os monges, que, segundo certa estimativa, certa vez somavam cerca de um quinto de toda a população do Tibete. Os lamas eram também mestres, médicos, proprietários de terra ou figuras políticas. Estas principais divisões do budismo estão, por sua vez, subdivididas em muitos grupos, ou seitas. Alguns são devotados a um líder específico, como Nichiren, no Japão, que ensinou que apenas o Sutra de Loto mahaiano contém os ensinos definitivos do Buda, e Nun Ch’in-Hai, em Taiwan (Formosa), que tem numerosos seguidores. Neste respeito, o budismo não difere muito da cristandade com suas muitas denominações e seitas. De fato, é comum ver pessoas que afirmam ser budistas envolvidas em práticas do taoísmo, do xintoísmo, da adoração de ancestrais e até mesmo da cristandade. Todas estas seitas budistas afirmam basear suas crenças e práticas nos ensinos do Buda.

 

Os Três Cestos e Outras Escrituras Budistas

Os ensinos atribuídos ao Buda foram transmitidos pela palavra oral, e começaram a ser assentados por escrito apenas séculos depois de sua morte. Assim, quando muito, eles representam o que seus seguidores em gerações posteriores pensavam que ele disse e fez. Isto se complica ainda mais pelo fato de que, naquela época, o budismo já se havia ramificado em muitas escolas. Assim, diferentes textos apresentam versões bem diferentes do budismo. Os mais antigos dos textos budistas foram escritos em páli, alegadamente relacionada com a língua nativa do Buda, por volta do primeiro século AEC. São aceitos pela escola Teravada como sendo os textos autênticos. Consistem em 31 livros organizados em três coleções chamadas de Tipitaca (sânscrito, Tripitaca), significando “Três Cestos”, ou “Três Coleções”. O Vinaia Pitaca (Cesto da Disciplina) trata especialmente de regras e regulamentos para monges e monjas. O Suta Pitaca (Cesto de Discursos) contém os sermões, as parábolas e os provérbios enunciados pelo Buda e seus principais discípulos. Por último, o Abidama Pitaca (Cesto da Derradeira Doutrina) consiste em comentários sobre doutrinas budistas. Por outro lado, os escritos da escola Mahaiana são na maioria em sânscrito, chinês e tibetano, e são volumosos. Apenas os textos em chinês consistem em mais de 5.000 volumes. Contêm muitos conceitos não constantes nos escritos anteriores, tais como relatos de budas tão numerosos como os grãos de areia do Ganges, que alegadamente viveram por incontáveis milhões de anos, cada qual presidindo sobre seu próprio mundo buda. Não há exagero quando certo escritor observa que esses textos são “caracterizados pela diversidade, imaginação extravagante, personalidades pitorescas e repetições desordenadas”. É desnecessário dizer que poucas pessoas conseguem compreender esses tratados altamente abstratos. Conseqüentemente, esses desenvolvimentos posteriores têm levado o budismo para muito longe do que o Buda originalmente intencionara. Segundo o Vinaia Pitaca, o Buda queria que seus ensinos fossem entendidos não apenas pela classe culta, mas por todo tipo de pessoa. Para isso, ele insistia que seus conceitos fossem ensinados na língua do povo comum, e não na sagrada língua morta do hinduísmo. Assim, à objeção dos budistas teravadas de que esses livros não são canônicos, a resposta dos seguidores mahaianos é que Gautama, o Buda, primeiro ensinou aos simples e ignorantes, mas, para os instruídos e sábios, ele revelou os ensinos escritos mais tarde nos livros mahaianos.

 

O Ciclo do Carma e do Samsara

Embora o budismo até certo ponto libertasse as pessoas das amarras do hinduísmo, seus conceitos fundamentais ainda são um legado dos ensinos hindus do carma e do samsara. O budismo, conforme originalmente ensinado pelo Buda, difere do hinduísmo no sentido de que nega a existência de uma alma imortal, mas fala do indivíduo como sendo “uma combinação de forças ou energias físicas e mentais”. Não obstante, seus ensinos ainda se centralizam nos conceitos de que toda a humanidade passa de vida em vida através de incontáveis renascimentos (samsara) e sofre as conseqüências de ações passadas e presentes (carma). Ainda que a sua mensagem de iluminação e libertação desse ciclo possa parecer atraente, alguns se perguntam: Quão sólida é a base? Que prova existe de que todos os sofrimentos são o resultado das ações da pessoa numa vida anterior? E, de fato, que evidência existe de que realmente há alguma vida anterior? Certa explicação da lei do carma diz: “O cama [equivalente de carma em páli] é uma lei em si mesmo. Mas isso não significa que deva existir um legislador. Leis comuns da natureza, como a gravidade, não necessitam de legislador. A lei do cama também não exige legislador. Ela opera em seu próprio campo sem a intervenção dum agente diretivo externo, independente.” — Manual do Budismo. Quanto ao renascimento, segue-se uma explanação do perito budista Dr. Walpola Rahula: “Um ser nada é senão uma combinação de forças ou energias físicas e mentais. O que chamamos de morte é o total não-funcionamento do corpo físico. Será que todas essas forças e energias cessam completamente com o não-funcionamento do corpo? O budismo diz: ‘Não.’ Vontade, volição, desejo, ânsia de existir, de continuar, de tornar-se sempre mais importante, é uma tremenda força que move inteiras vidas, inteiras existências, que move até mesmo o mundo inteiro. Esta é a maior força, a maior energia do mundo. Segundo o budismo, essa força não cessa com o não-funcionamento do corpo, que é a morte; mas continua a manifestar-se em outra forma, produzindo a reexistência, chamada de renascimento.” No momento da concepção, a pessoa herda 50 por cento de seus genes de cada um dos genitores. De modo que não existe maneira de ela poder ser cem por cento igual a alguém de uma existência anterior. De fato, não é possível sustentar o processo de renascimento através de algum conhecido princípio de ciência. Não raro, os que crêem na doutrina do renascimento citam como prova as experiências de pessoas que afirmam lembrar-se de rostos, eventos e lugares que não conheciam antes. É isso lógico? Dizer que a pessoa que pode lembrar-se de coisas de tempos passados deve ter vivido naquela era, implica também dizer que a pessoa que pode predizer o futuro — e são muitas as que afirmam fazê-lo — devem ter vivido no futuro. O que, obviamente, não é o caso.

 

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