Quarta, 18 Fevereiro 2015 17:37

Religiões Afro-Brasileiras

São consideradas religiões afro-brasileiras, todas as religiões que foram trazidas para o Brasil pelos negros africanos, na condição de escravos ou religiões que absorveram ou adotaram costumes e rituais africanos. As principais vertentes são: Babaçuê - Maranhão, Pará / Batuque - Rio Grande do Sul / Cabula - Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina / Candomblé - Em todos estados do Brasil / Culto aos Egungun - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo / Culto de Ifá - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo / Encantaria - Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas / Omoloko - Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo / Pajelança - Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas / Quimbanda - Em todos estados do Brasil / Tambor-de-Mina - Maranhão, Pará / Terecô - Maranhão / Umbanda - Em todos estados do Brasil / Xambá - Alagoas, Pernambuco / Xangô do Nordeste - Pernambuco

As religiões afro-brasileiras na maioria são relacionadas com a religião yoruba e outras religiões tradicionais africanas. Antes da abolição da escravatura em 1888, os negros escravizados fugidos das fazendas, reuniam-se em lugares afastados nas florestas em agrupamentos ou comunidades chamadas quilombos, depois da libertação, os africanos libertos reuniam-se em comunidades nas cidades que passaram a chamar de candomblé. Candomblé é o nome genérico que se dá para todas as casas de candomblé independente da nação. A palavra candomblé a princípio era usada para designar qualquer festa dos africanos.

Principais religiões afro-brasileiras, o candomblé e a umbanda tem forte penetração no país, especialmente em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e na Bahia. Em 1991, existiam quase 650 mil adeptos, de acordo com o censo do IBGE. Estudiosos dessas religiões estimam que quase um terço da população brasileira frequenta um centro. Esse número inclui tanto os frequentadores assíduos quanto os esporádicos, que muitas vezes estão ligados também a outras religiões. Veremos agora algumas características destas duas vertentes.

 

Candomblé 

Religião afro-brasileira que cultua os orixás, deuses das nações africanas de língua ioruba dotados de sentimentos humanos como ciúme e vaidade. O candomblé chegou ao Brasil entre os séculos XVI e XIX com o tráfico de escravos negros da África Ocidental. Sofreu grande repressão dos colonizadores portugueses, que o consideravam feitiçaria. Para sobreviver às perseguições, os adeptos passaram a associar os orixás aos santos católicos, no sincretismo religioso. Por exemplo, Iemanjá é associada a Nossa Senhora da Conceição; Iansã, a Santa Bárbara, etc. As cerimônias ocorrem em templos chamados territórios. Sua preparação é fechada e envolve muitas vezes o sacrifício de pequenos animais. São celebrados em língua africana e marcadas por cantos e o ritmo dos atabaques (tambores), que variam segundo o orixá homenageado. No Brasil, a religião cultua apenas 16 dos mais de 300 orixás existentes na África Ocidental.  Acreditam na sobrevivência da alma após a morte física (os Eguns), e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados (os Orixás, cultuados coletivamente), não materializam; caso não divinizados (os Egungun), materializam em vestes próprias para estarem em contato com os seus descendentes (os vivos), cantando, falando, dando conselhos e auxiliando espiritualmente a sua comunidade. Observa-se que o conceito de "materialização" no Candomblé, é diferente do de "incorporação" na Umbanda ou na Doutrina Espírita. Em princípio os Orixás só se apresentam nas festas e obrigações para dançar e serem homenageados. Não dão consulta ao público assistente, mas podem eventualmente falar com membros da família ou da casa para deixar algum recado para o filho. O normal é os Orixás se expressarem através do jogo de Ifá, (oráculo) e merindilogun.

Dependendo da nação ou linha de candomblé, os candomblés tradicionais não fazem a princípio contato com espíritos através da incorporação para consultas, é possível, mas não é aceito. Já o candomblé de caboclo tem uma ligação muito forte com caboclos e exus que incorporam para dar consultas, os caboclos são diferentes da Umbanda. E existem os candomblés cujos pais de santo eram da Umbanda e passaram para o candomblé que cultuam paralelamente os Orixás e os guias de Umbanda. No Candomblé, todo e qualquer espírito deve ser afastado principalmente na hora da iniciação, para não correr o risco de um deles incorporar na pessoa e se passar por orixá, o Iyawo recolhido é monitorado dia e noite, recorrendo-se ao Ifá ou jogo de búzios para detectar a sua presença. A cerimónia só ocorre quando este confirma a ausência de Eguns no ambiente de recolhimento. Afastam todo e qualquer espírito (egun), ou almas penadas, forças negativas, influências negativas trazidas por pessoas de fora da comunidade. Acredita-se que pessoas trazem consigo boas e más influências, bons e maus acompanhantes (espíritos), através do jogo de Ifá poderá se determinar se essas influências são de nascimento Odu, de destino ou adquiridas de alguma forma.

Os espíritos são cultuados, nas casas de Candomblé, em uma casa em separado, sendo homenageados diariamente uma vez que, como Exu, são considerados protetores da comunidade. Existem Orixás que já viveram na terra, como Xangô, Oyá, Ogun, Oxossi, viveram e morreram, os que fizeram parte da criação do mundo esses só vieram para criar o mundo e retiraram-se para o Orun, o caso de Obatalá, e outros chamados Orixá funfun (branco). Existem as árvores sagradas que são as mesmas das religiões tradicionais africanas onde Orixás são cultuados pela comunidade como é o caso de Iroko, Apaoká, Akoko, e também os orixás individuais de cada pessoa que é uma parte do Orixá em si e são a ligação da pessoa, iniciada com o Orixá divinizado. Ou seja uma pessoa que é de Xangô, seu orixá individual é uma parte daquele Xangô divinizado com todas as características, ou como chamam arquétipo. Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o Orixá pessoal é uma manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado, outros dizem ser uma incorporação mas é rejeitada por muitos membros do candomblé. Eles justificam que nem o culto aos Egungun é de incorporação e sim de materialização. Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do candomblé.

 

Umbanda 

Religião brasileira nascida no Rio de Janeiro, nos anos 20, da mistura de crenças e rituais africanos e europeus. As raízes umbandistas encontram-se em duas religiões trazidas da África pelos escravos: a cabula, dos bantos, e o candomblé, na nação nagô. A umbanda considera o universo povoado de entidades espirituais, os guias, que entram em contato com os homens por intermédio de um iniciado (o médium), que os incorpora. Tais guias se apresentam por meio de figuras como o caboclo, o preto-velho e a pomba-gira. Os elementos africanos misturam-se ao catolicismo, criando a identificação de orixás com santos. Outra influência é o espiritismo kardecista, que acredita na possibilidade de contato entre vivos e mortos e na evolução espiritual após sucessivas vidas na Terra. Incorpora ainda ritos indígenas e práticas mágicas europeias.

A palavra é derivada de “u´mbana”, um termo que significa “curandeiro” na língua banta falada na Angola, o quimbundo. A umbanda tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos. O culto umbandista é realizado em templos, terreiros ou Centros apropriados para o encontro dos praticantes onde entoam cânticos e fazem uso de instrumentos musicais como o atabaque. Apesar disso, quando o Umbanda foi criado, não existiam manifestações musicais, como cânticos e utilização de instrumentos. O culto é presidido por um chefe masculino ou feminino. Durante as sessões são realizadas consultas de apoio e orientação a quem recorre ao terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de entidades espirituais e outros rituais. O culto se assemelha ao candomblé, no entanto, são religiões que possuem práticas distintas. Ao longo do tempo, a umbanda passou por transformações e foi se demarcando de outras religiões. Também criou ramificações, algumas delas são descritas como: Umbanda Tradicional: criada no Rio de Janeiro pelo jovem Zélio Fernandino de Moraes; Umbandomblé ou Umbanda Traçada: onde um mesmo sacerdote pode realizar sessões distintas de umbanda ou de candomblé; Umbanda Branca: utiliza elementos espíritas, kardecistas e os adeptos usam roupas brancas; Umbanda de Caboclo: forte influência da cultura indígena brasileira.

Conheça o livro que tem abalado o mundo religioso! Clique Aqui!

Participe de nossa enquete. Sua opinião é muito importante para nós! Clique Aqui e de seu voto. 

Publicado em AFRO-BRASILEIRAS
Quarta, 19 Agosto 2015 14:53

A Reforma Protestante

A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas. Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo e o início de massacres e perseguições por parte da Igreja Católica Romana como por exemplo a noite de Massacre da noite de São Bartolomeu.

Pré-Reforma

 A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero. A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.

 Protestos de Dentro da Igreja

Muitas vezes chamado de “estrela da manhã da Reforma”, João Wycliffe (1330?-84) era sacerdote católico e professor de teologia em Oxford, Inglaterra. Bem ciente dos abusos na Igreja, ele escreveu e pregou contra coisas tais como corrupção nas ordens monásticas, taxação papal, a doutrina da transubstanciação (a afirmação de que o pão e o vinho usados na Missa literalmente se transformam no corpo e no sangue de Jesus Cristo), a confissão, e o envolvimento da Igreja em assuntos temporais. Wycliffe era especialmente franco quanto à negligência da Igreja em ensinar a Bíblia. Disse ele certa vez: “Queira Deus que toda paróquia de igreja neste país tenha uma boa Bíblia e boas explicações do evangelho, e que os sacerdotes os estudem bem, e que realmente ensinem o evangelho e os mandamentos de Deus ao povo!” Com esse fim, Wycliffe, nos últimos anos de sua vida, dedicou-se à tarefa de traduzir a Bíblia Vulgata latina para o inglês. Com a ajuda de seus associados, especialmente Nicolau de Hereford, ele produziu a primeira Bíblia completa no idioma inglês. Esta foi, sem dúvida, a maior contribuição de Wycliffe à causa da busca de Deus, por parte da humanidade. Os escritos de Wycliffe e partes da Bíblia foram distribuídos por toda a Inglaterra por um grupo de pregadores muitas vezes chamados de “Sacerdotes Pobres” porque iam de vestes simples, descalços e sem bens materiais. Eram também desdenhosamente chamados de Lolardos, que provém da palavra do holandês médio Lollaerd, ou “aquele que murmura orações e hinos”. (Dicionário de Frases e Fábulas, de Brewer [em inglês]) “Em poucos anos, o seu número era considerável”, diz o livro The Lollards (Os Lolardos). “Calculou-se que pelo menos um quarto da nação estava real ou supostamente inclinado em favor desses sentimentos.” Tudo isso, naturalmente, não passou despercebido pela Igreja. Devido à sua notoriedade entre as classes dominante e erudita, permitiu-se que Wycliffe morresse em paz no último dia de 1384. Os seus seguidores foram menos afortunados. Durante o reinado de Henrique IV, da Inglaterra, eles foram tachados de hereges e muitos deles foram presos, torturados ou queimados vivos. Fortemente influenciado por João Wycliffe havia o boêmio (tcheco) João Huss (1369?-1415), também sacerdote católico e reitor da Universidade de Praga. Como Wycliffe, Huss pregou contra a corrupção da Igreja Romana e frisou a importância de ler a Bíblia. Isto prontamente trouxe sobre ele a ira da hierarquia. Em 1403, as autoridades ordenaram-lhe que parasse de pregar as idéias antipapais de Wycliffe, cujos livros também queimaram publicamente. Huss, porém, passou a escrever algumas das mais pungentes acusações contra as práticas da igreja, incluindo a venda de indulgências. Ele foi condenado e excomungado em 1410. Huss não transigia no seu apoio à Bíblia. “Rebelar-se contra um papa faltoso é obedecer a Cristo”, escreveu. Ensinou também que a verdadeira igreja, longe de ser o papa e a instituição romana, “é o conjunto de todos os eleitos e o corpo místico de Cristo, cuja cabeça é Cristo; e a noiva de Cristo, a quem à base de seu grande amor ele remiu com o seu próprio sangue”. (Compare com Efésios 1:22, 23; 5:25-27.) Por tudo isso, ele foi julgado no Concílio de Constança e condenado como herege. Dizendo “ser melhor morrer bem do que viver mal”, ele recusou-se a retratar-se e foi queimado vivo na estaca, em 1415. O mesmo concílio ordenou também que os ossos de Wycliffe fossem desenterrados e queimados, embora já estivesse morto e sepultado há mais de 30 anos! Outro Reformador primordial foi o monge dominicano Girolamo Savonarola (1452-98) do mosteiro de São Marcos, em Florença, Itália. Embalado pelo espírito da Renascença italiana, Savonarola falou contra a corrupção tanto na Igreja como no Estado. Afirmando ter como base as Escrituras, bem como visões e revelações que dizia ter recebido, ele tentou fundar um estado cristão, ou ordem teocrática. Em 1497, o papa excomungou-o. No ano seguinte, ele foi preso, torturado e enforcado. Suas últimas palavras foram: “Meu Senhor morreu pelos meus pecados; não devia eu gratamente dar esta pobre vida por ele?” Seu corpo foi queimado e as cinzas lançadas no rio Arno. Apropriadamente, Savonarola autodenominou-se “precursor e sacrifício”. Poucos anos depois, a Reforma irrompeu com plena força em toda a Europa.

Uma Casa Dividida

Quando a tormenta da Reforma finalmente irrompeu, ela destroçou a casa religiosa da cristandade na Europa Ocidental. Tendo estado sob o domínio praticamente total da Igreja Católica Romana, ela tornou-se então uma casa dividida. O sul da Europa — Itália, Espanha, Áustria e partes da França — permaneceu na maior parte católico. O resto acomodou-se em três principais divisões: Luterana, na Alemanha e Escandinávia; Calvinista (ou Reformada) na Suíça, Países-Baixos, Escócia e partes da França; e Anglicana na Inglaterra. Entremeados entre estas havia grupos menores, porém mais radicais, primeiro os anabatistas e mais tarde os menonitas, huteritas e puritanos, que com o tempo levaram as suas crenças para a América do Norte. No decorrer dos anos, essas principais divisões fragmentaram-se adicionalmente em centenas de denominações atuais — Presbiteriana, Episcopal, Metodista, Batista, Congregacional, apenas para mencionar algumas. A cristandade deveras se tornou uma casa dividida. Como foi que ocorreram tais divisões?

Lutero e Suas Teses

Se necessário fosse indicar um ponto inicial decisivo na Reforma protestante, este seria 31 de outubro de 1517, quando o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) pregou as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, no estado alemão da Saxônia. Contudo, o que provocou esse dramático evento? Quem era Martinho Lutero? E contra o que protestou? Como Wycliffe e Huss, antes dele, Martinho Lutero era um monge erudito. Era também doutor em teologia e professor de estudos bíblicos na Universidade de Wittenberg. Lutero ficou famoso por sua compreensão da Bíblia. Embora tivesse fortes opiniões sobre o assunto da salvação, ou justificação, por meio de fé em vez de obras ou de penitência, ele não intencionava romper com a igreja de Roma. De fato, a emissão de suas teses foi sua reação a um incidente específico e não uma revolta planejada. Ele protestava contra a venda de indulgências. Nos dias de Lutero, as indulgências papais eram publicamente vendidas não apenas em favor dos vivos mas também em favor dos mortos. “Assim que a moeda no cofre cai, a alma do Purgatório sai”, dizia um ditado popular. Para o povo, uma indulgência era quase que uma apólice de seguro contra a punição por qualquer pecado, e o arrependimento saía pela tangente. “Em toda a parte”, escreveu Erasmo, “vende-se a remissão do tormento purgatorial; não é apenas vendida, mas forçada aos que se recusam a comprá-la”. Em 1517, João Tetzel, um frade dominicano, foi a Jüterbog, perto de Wittenberg, para vender indulgências. O dinheiro arrecadado visava em parte financiar a reconstrução da Basílica de São Pedro, em Roma. Visava também ajudar Alberto de Brandenburgo a repor o dinheiro que tomara emprestado para pagar à Cúria Romana pelo cargo de arcebispo de Mainz. Tetzel usava toda a sua perícia de vendedor, e o povo afluía a ele. Lutero indignou-se, e recorreu ao que lhe parecia ser a maneira mais rápida de expressar publicamente a sua opinião sobre esse espetáculo circense — pregar 95 pontos de discórdia na porta da igreja. Lutero chamou suas 95 teses de Disputa Para Esclarecer o Poder das Indulgências. Seu objetivo não era tanto desafiar a autoridade da igreja, como apontar os excessos e abusos da venda de indulgências papais. Pode-se ver isto das seguintes teses: “5. O papa não tem a intenção nem o poder de remir qualquer penalidade, exceto as que ele impôs por sua própria autoridade... 20. Por conseguinte, quando o papa fala da plena remissão de todas as penalidades, isso não significa realmente de todas, mas apenas daquelas impostas por ele mesmo... 36. Todo cristão que sente verdadeira compunção tem direito à plena remissão da punição e da culpa, mesmo sem cartas de indulto.” Ajudado pela então recém-inventada imprensa, essas explosivas idéias não demoraram a atingir outras partes da Alemanha — e Roma. O que começou como debate acadêmico sobre a venda de indulgências logo se transformou numa controvérsia sobre assuntos de fé e autoridade papal. De início, a Igreja de Roma envolveu Lutero em debate e ordenou-lhe que se retratasse. Quando Lutero se recusou, tanto o poder eclesiástico como o político foram acionados contra ele. Em 1520 o papa emitiu uma bula, ou edito, que proibia Lutero de pregar e ordenou que seus livros fossem queimados. Em desafio, Lutero queimou a bula papal em público. O papa excomungou-o em 1521. Mais tarde naquele ano, Lutero foi convocado à dieta, ou assembléia, em Worms. Foi julgado pelo imperador do Santo Império Romano, Carlos V, um católico fanático, bem como pelos seis eleitores de colegiado dos estados alemães, e por outros líderes e dignitários, religiosos e seculares. Ao ser novamente pressionado a retratar-se, Lutero fez a sua famosa declaração: “A menos que eu me convença pelas Escrituras e pela razão evidente... não posso e não vou retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é direito nem seguro. Que Deus me ajude. Amém.” Consequentemente, o imperador declarou-o fora-da-lei. Contudo, o governante de seu próprio estado alemão, o eleitor Frederico de Saxônia, veio em seu auxílio e ofereceu-lhe abrigo no castelo de Wartburg. Essas medidas, porém, não impediram a disseminação das idéias de Lutero. Por dez meses no refúgio de Wartburg, Lutero dedicou-se a produzir escritos e à tradução da Bíblia. Traduziu as Escrituras Gregas para o alemão, do texto grego de Erasmo. As Escrituras Hebraicas vieram mais tarde. A Bíblia de Lutero revelou ser justamente o que o povo necessitava. Consta que “foram vendidos cinco mil exemplares em dois meses, duzentos mil em doze anos”. Sua influência sobre o idioma e a cultura alemã é muitas vezes comparada à da Versão Rei Jaime sobre o inglês. Nos anos que se seguiram à Dieta de Worms, o movimento da Reforma ganhou tanto apoio popular que em 1526 o imperador concedeu a cada estado alemão o direito de escolher sua forma de religião, luterana ou católica romana. Contudo, em 1529, quando o imperador reverteu a decisão, alguns dos príncipes alemães protestaram; assim, cunhou-se o nome protestante para o movimento da Reforma. No ano seguinte, 1530, na Dieta de Augsburgo, o imperador empenhou-se em sanar as diferenças entre as duas partes. Os luteranos apresentaram suas crenças num documento, a Confissão de Augsburgo, produzido por Philipp Melanchthon, mas à base dos ensinos de Lutero. Embora o documento tivesse um tom mui conciliatório, a Igreja Romana rejeitou-o, e a brecha entre o protestantismo e o catolicismo tornou-se intransponível. Muitos estados alemães aliaram-se a Lutero e os estados escandinavos logo seguiram o seu exemplo.

Reforma ou Revolta?

Quais eram os pontos fundamentais que dividiam os protestantes dos católicos romanos? Segundo Lutero, havia três. Primeiro, Lutero cria que a salvação resulta da “justificação apenas através da fé” (latim, sola fide) e não da absolvição sacerdotal ou de obras de penitência. Segundo, ele ensinava que o perdão é concedido apenas devido à graça de Deus (sola gratia) e não pela autoridade de sacerdotes ou papas. Por fim, Lutero sustentava que todos os assuntos doutrinais deviam ser confirmados pelas Escrituras apenas (sola scriptura) e não por papas ou concílios de igreja. Apesar disso, diz The Catholic Encyclopedia, Lutero “reteve das antigas crenças e liturgia tudo aquilo que era possível ajustar a seus conceitos peculiares sobre o pecado e a justificação”. Sobre a fé luterana, a Confissão de Augsburgo diz que “nada existe que seja discordante das Escrituras, ou da Igreja Católica, ou mesmo da Igreja Romana, conforme essa Igreja é conhecida à base de escritores”. De fato, a fé luterana, conforme delineada na Confissão de Augsburgo, incluía doutrinas antibíblicas como a Trindade, a alma imortal e o tormento eterno, bem como práticas tais como o batismo de bebês e feriados e festas religiosas. Por outro lado, os luteranos exigiram certas mudanças, tais como que se permitisse ao povo receber tanto o vinho como o pão na Comunhão e que fossem abolidos o celibato, os votos monásticos e a confissão compulsória. Como um todo, a Reforma, conforme defendida por Lutero e seus seguidores, teve êxito em livrar-se do jugo papal. Mas, como Jesus declarou em João 4:24, “Deus é Espírito, e os que o adoram têm de adorá-lo com espírito e verdade”. Pode-se dizer que, com Martinho Lutero, a luta da humanidade em busca do verdadeiro Deus tomou apenas um novo rumo; o caminho estreito da verdade ainda estava distante. — Mateus 7:13, 14; João 8:31, 32.

A Reforma de Zwingli na Suíça

Enquanto Lutero se mantinha ocupado batalhando contra os emissários papais e as autoridades civis na Alemanha, o sacerdote católico Ulrich Zwingli (1484-1531) iniciou seu movimento de reforma em Zurique, Suíça. Sendo esta uma região de língua alemã, o povo já estava influenciado pela maré de reformas vinda do norte. Por volta de 1519, Zwingli começou a pregar contra as indulgências, a mariolatria, o celibato clerical e outras doutrinas da Igreja Católica. Embora Zwingli afirmasse ser independente de Lutero, ele concordava com Lutero em muitos aspectos e distribuía os panfletos de Lutero por todo o país. Em contraste com o mais conservador Lutero, porém, Zwingli defendia a remoção de todos os vestígios da Igreja Romana — imagens, crucifixos, batina, e até mesmo música litúrgica. No entanto, uma controvérsia mais séria entre os dois Reformadores dizia respeito à Eucaristia, ou Missa (Comunhão). Lutero, insistindo numa interpretação literal das palavras de Jesus: ‘Este é meu corpo’, cria que o corpo e o sangue de Cristo estavam milagrosamente presentes no pão e no vinho servidos na Comunhão. Zwingli, por outro lado, argumentava, em seu tratado On the Lord’s Supper (Sobre a Ceia do Senhor) que a declaração de Jesus “deve ser tomada ilustrativa ou metaforicamente; ‘isto é meu corpo’, quer dizer ‘o pão significa meu corpo’, ou ‘é uma representação do meu corpo’”. Por causa dessa diferença, os dois Reformadores se apartaram. Zwingli continuou a pregar as suas doutrinas de reforma em Zurique e fez muitas mudanças ali. Outras cidades logo seguiram seu exemplo, mas a maioria das pessoas nas áreas rurais, mais conservadoras, apegaram-se ao catolicismo. O conflito entre as duas facções tornou-se tão grande que irrompeu uma guerra civil entre suíços protestantes e católicos romanos. Zwingli, servindo como capelão de exército, foi morto na batalha de Kappel, perto do lago Zug, em 1531. Quando finalmente veio a paz, concedeu-se a cada distrito o direito de decidir sua própria forma de religião, protestante ou católica.

Anabatistas, Menonitas e Huteritas

Alguns protestantes, porém, achavam que os Reformadores não foram suficientemente longe em renunciar às falhas da igreja católica papista. Criam que a igreja cristã devia compor-se apenas dos fiéis praticantes que se tornavam batizados, em vez de todo o povo numa comunidade ou nação. Assim, eles rejeitavam o batismo de bebês e insistiam na separação entre Igreja e Estado. Secretamente rebatizavam seus concrentes e, por isso, ganharam o nome de anabatistas (ana significa “de novo” em grego). Visto que se recusavam a portar armas, fazer juramentos ou aceitar cargos públicos, eles eram encarados como ameaça à sociedade e eram perseguidos tanto por católicos como por protestantes. De início, os anabatistas viviam em pequenos grupos espalhados por partes da Suíça, Alemanha e Países-Baixos. Sendo que pregavam suas crenças onde quer que fossem, suas fileiras aumentavam rapidamente. Um grupo de anabatistas, levados por seu fervor religioso, abandonou seu pacifismo e capturou a cidade de Münster, em 1534, e tentou estabelecê-la como comunal e polígama Nova Jerusalém. O movimento foi logo derrubado, com grande violência. Isto estragou a reputação dos anabatistas e eles foram praticamente eliminados. Na verdade, a maioria dos anabatistas eram pessoas religiosas simples que tentavam levar uma vida separada e tranqüila. Entre os mais bem organizados originários dos anabatistas havia os menonitas, seguidores do Reformador holandês Menno Simons, e os huteritas, liderados pelo tirolês Jacob Hutter. Para fugir da perseguição, alguns deles migraram para a Europa Oriental — Polônia, Hungria e até mesmo Rússia — outros para a América do Norte, onde pôr fim surgiram como comunidades huterita e amish.

Surge o Calvinismo

A obra de reforma na Suíça prosseguiu sob a liderança de um francês chamado Jean Chauvin, ou João Calvino (1509-64), que entrou em contato com ensinamentos protestantes durante seus dias de estudo na França. Em 1534, Calvino deixou Paris por causa de perseguição religiosa e fixou-se em Basiléia, na Suíça. Em defesa dos protestantes, publicou Institutes of the Christian Religion (Preceitos da Religião Cristã), em que resumiu os conceitos dos primitivos pais da igreja e de teólogos medievais, bem como os de Lutero e Zwingli. Esse trabalho veio a ser considerado como fundamento doutrinal para todas as igrejas Reformadas fundadas mais tarde na Europa e nos Estados Unidos. Em Preceitos, ele apresentou a sua teologia. Para Calvino, Deus é o soberano absoluto, cuja vontade determina e governa tudo. Em contraste, o homem decaído é pecaminoso e totalmente imerecedor. A salvação, portanto, não depende das boas obras do homem, mas de Deus — resultando disso a doutrina da predestinação, de Calvino, sobre a qual ele escreveu: “Afirmamos que, por um eterno e imutável desígnio, Deus determinou de uma vez por todas, tanto a quem Ele concederá a salvação, como a quem Ele condenará à destruição. Afirmamos que este desígnio, no que tange aos eleitos, é fundado em Sua gratuita misericórdia, totalmente independente de mérito humano; mas que àqueles a quem Ele entrega à condenação, o portão da vida é fechado por um julgamento justo e irrepreensível, porém incompreensível.” A austeridade de tal ensino reflete-se também em outras áreas. Calvino insistia que os cristãos devem levar uma vida santa e virtuosa, abstendo-se não somente do pecado, mas também do prazer e da frivolidade. Ademais, ele argumentava que a igreja, composta dos eleitos, deve ser poupada de todas as restrições civis e que apenas através da igreja é possível estabelecer uma sociedade realmente piedosa. Pouco depois de publicar Preceitos, Calvino foi persuadido por William Farel, outro Reformador francês, a radicar-se em Genebra. Trabalharam juntos para pôr o calvinismo em prática. Seu objetivo era transformar Genebra numa cidade de Deus, uma teocracia de governo divino combinando as funções de Igreja e Estado. Instituíram regulamentos estritos, com sanções, que abrangiam tudo, desde instrução religiosa e serviços eclesiásticos à moral pública e até mesmo assuntos tais como saneamento e prevenção de incêndio. Certo livro de história conta que “certa cabeleireira, por exemplo, por arrumar o cabelo de uma noiva duma maneira considerada indecorosa, foi encarcerada por dois dias; e a mãe, junto com duas amigas, que haviam ajudado no processo, sofreram a mesma penalidade. Dançar e jogar baralho também eram punidos pelo magistrado”. Dispensava-se um tratamento duro aos que divergiam de Calvino em teologia, o caso mais famoso sendo a queima do espanhol Miguel Servet. Calvino continuou a aplicar o seu tipo de reforma em Genebra até a sua morte, em 1564, e a igreja Reformada ficou firmemente estabelecida. Reformadores protestantes, fugindo da perseguição em outras terras, afluíram a Genebra, assimilaram os conceitos calvinistas e serviram de instrumentos em iniciar movimentos de reforma em seus respectivos países de origem. O calvinismo logo chegou à França, onde os huguenotes (como eram chamados os protestantes calvinistas franceses) sofreram severa perseguição às mãos dos católicos. Nos Países-Baixos, os calvinistas ajudaram a estabelecer a Igreja Holandesa Reformada. Na Escócia, sob a zelosa liderança do ex-sacerdote católico João Knox, a Igreja Presbiteriana da Escócia foi estabelecida segundo a linha calvinista. O calvinismo desempenhou um papel também na Reforma na Inglaterra, e de lá seguiu com os puritanos para a América do Norte. Neste sentido, embora Lutero tivesse acionado a Reforma protestante, Calvino teve em muito a maior influência no seu desenvolvimento.

Reforma na Inglaterra

Bastante distante dos movimentos de reforma na Alemanha e na Suíça, a Reforma inglesa pode remontar suas raízes aos dias de João Wycliffe, cuja pregação anticlerical e ênfase na Bíblia gerou o espírito protestante na Inglaterra. Seu empenho em traduzir a Bíblia para o inglês foi seguido por outros. William Tyndale, que teve de fugir da Inglaterra, produziu seu Novo Testamento em 1526. Mais tarde foi traído na Antuérpia e estrangulado na estaca, e seu corpo foi queimado. Miles Coverdale terminou a obra de tradução de Tyndale, e a Bíblia completa surgiu em 1535. A publicação da Bíblia na língua do povo foi sem dúvida o mais poderoso fator que contribuiu para a Reforma na Inglaterra. A ruptura formal com o catolicismo romano ocorreu quando Henrique VIII (1491-1547), chamado de Defensor da Fé pelo papa, proclamou o Ato de Supremacia, em 1534, nomeando a si mesmo chefe da Igreja da Inglaterra, ou Igreja Anglicana. Henrique também fechou os mosteiros e dividiu os bens destes entre a pequena nobreza. Além disso, ordenou que se colocasse um exemplar da Bíblia em inglês em todas as igrejas. Contudo, a ação de Henrique era mais política do que religiosa. O que ele queria era independência da autoridade papal, especialmente sobre seus assuntos conjugais. No aspecto religioso, ele continuou católico em todos os sentidos, menos no nome. Foi durante o longo reinado (1558-1603) de Elisabete I que a Igreja da Inglaterra tornou-se protestante na prática, embora permanecesse largamente católica na estrutura. Aboliu o dever de obediência ao papa, o celibato clerical, a confissão e outras práticas católicas, não obstante, reteve uma forma episcopal de estrutura eclesiástica em sua hierarquia de arcebispos e bispos, bem como ordens de monges e freiras. Este conservadorismo causou considerável descontentamento, e surgiram vários grupos dissidentes. Os puritanos exigiam uma reforma mais cabal para purificar a igreja de todas as práticas católico romanas; os separatistas e os independentes insistiam que os assuntos da igreja deviam ser cuidados por anciãos locais (presbíteros). Muitos dissidentes fugiram para os Países-Baixos ou para a América do Norte, onde fundaram adicionalmente suas igrejas Congregacional e Batista. Também surgiu na Inglaterra a Sociedade de Amigos (Quakers) sob George Fox (1624-91) e os Metodistas sob João Wesley (1703-91).

Conheça o livro que tem abalado o mundo religioso! Clique Aqui! 

Participe de nossa enquete. Sua opinião é muito importante para nós! Clique Aqui e de seu voto.

Publicado em PROTESTANTISMO

As Religiões tem determinadas ideias que as pessoas denominam como sagradas. Isto significa que você não pode falar de certa noção ou ideia. Por que não? Por que não, e pronto! Acho peculiar isso, se alguém vota em um partido com o qual você não concorda, você pode discutir isso o quanto quiser, todo mundo terá um argumento, mas ninguém vai se sentir ofendido. Se alguém acha que os impostos devem subir ou baixar, você pode ter uma discussão sobre isso. Mas se alguém disser "A humanidade começou com dois pelados e uma cobra falante", você tem que dizer: "eu não vou falar contra isso". Como é possível que seja perfeitamente legítimo apoiar o PT ou o PSDB, o capitalismo ou o socialismo, o Macintosh ou o Windows, mas, não ter uma opinião sobre como o universo começou, sobre como começou a vida na terra, NÃO, ISSO É SAGRADO!!! Todo mundo fica absolutamente louco porque não se pode falar destas coisas. Mas, se analisarmos racionalmente, não há nenhuma razão para que estas ideias não estejam sujeitas ao debate tanto quanto qualquer outras. 

     Veja um outro exemplo do respeito exagerado de nossa sociedade pela religião. De longe o meio mais fácil de se obter permissão para dispensa do serviço militar é por motivo religioso. Você pode ser um filósofo brilhante da moralidade com uma tese de doutorado premiada sobre os males da guerra, um pacifista laureado, que mesmo assim pode ter dificuldade diante dos avaliadores para ser dispensado por motivo de consciência. Mas, se você falar que seus pais são evangélicos, consegue fácil, mesmo que seja completamente iletrado ou desarticulado quanto a teoria do pacifismo ou do próprio evangelismo.

   Vocês já observaram a relutância que as pessoas tem em usar nomes religiosos para facções de guerra. Na Irlanda do Norte, católicos e protestantes ganham os nomes eufemistas de "nacionalistas" e "legalistas". A própria palavra "religiões" e censurada e transformada em "comunidades" como em guerra intercomunidades. O Iraque entrou numa guerra civil sectarista entre muçulmanos sunitas e xiitas, porém todos os noticiários da época descreveram o conflito como "limpeza étnica". "Étnica", neste conceito é mais um eufemismo, estamos falando de limpeza RELIGIOSA, como também na ex Iugoslávia onde uma limpeza RELIGIOSA envolvendo sérvios (cristãos ortodoxos), croatas (cristãos católicos) e bósnios (muçulmanos) foi chamada de limpeza étnica.

    Veja outro exemplo estranho do privilégio dado a religião. Em 21 de fevereiro de 2006, a Suprema Corte dos Estados Unidos determinou, de acordo com a constituição, que uma igreja no Novo México deveria ser isenta da lei que proíbe o uso de drogas alucinógenas. Isto porque os integrantes do Centro Espírita Beneficente União Vegetal acreditam que só conseguem compreender Deus tomando chá de ayahuasca, que contém a droga ilegal dimetiltriptamina. Perceba que basta que eles ACREDITEM que a droga aumenta sua compreensão do divino que tudo bem, eles não tem que fornecer provas. Por outro lado, há muitas provas de que a maconha alivia náuseas e o desconforto de doentes de câncer submetidos a quimioterapia. Mesmo assim, novamente de acordo com a constituição, a Suprema Corte determinou em 2005 que todos os pacientes que usarem maconha com fins medicinais estarão sujeitos a indiciamento federal. A religião é como sempre o trunfo. Imagine se artistas começassem a alegar na justiça que "acreditam" que determinado alucinógeno aumentam sua compreensão dos quadros impressionistas e surrealistas. Mas, quando uma igreja alega uma necessidade semelhante, recebe o apoio da mais alta corte do país. Isso sem falar nos privilégios com impostos e trabalho voluntário na maioria dos países.

    Não sou a favor de ofender nem magoar ninguém sem motivo. Mas fico intrigado e espantado com o privilégio desproporcional da religião em nossas sociedades ditas laicas. Todos os políticos e pessoas públicas tem de se acostumar com caricaturas e críticas muitas vezes ácidas sobre suas pessoas e ninguém faz atos públicos em sua defesa. O que a religião tem de tão especial (seja ela qual for) para que asseguremos a ela um respeito tão privilegiado e singular, acima de todos os demais?

    É por isso tudo que penso que a sociedade precisa de alguma forma começar a mudar essa mentalidade de eterno favorecimento das instituições religiosas para que as pessoas comessem a entender que críticas a certas ideias e ações de instituições religiosas não significam críticas as pessoas que seguem determinado credo. Os religiosos tem que começar a se acostumar com críticas as suas instituições assim como um político, uma celebridade, um artista, um esportista convivem com constantes críticas as suas ideias ou ações que muitos não consideram corretas. Tal mentalidade infelizmente está causando um atraso em nossa sociedade, dificultando o avanço de diversas pesquisas cientificas e aprovação de leis para melhorar a vida das pessoas.

    Por exemplo, nesta recente visita do Papa Francisco que tanta comoção causou em nosso país, era uma excelente oportunidade para que certos questionamentos fundamentais fossem feitos a ele, mas, o que vimos foi uma tremenda sequência de bajulações e reverencias, uma enxorada de eventos onde a preocupação da imprensa era o CARRO popular que o papa usou, a rota errada que ele pegou, que ele abaixou o vidro para acenar, blá, blá, blá....

    Inclusive um reporter da rede globo teve um oportunidade ímpar de questiona-lo numa entrevista exclusiva, onde em vez de aproveitar para fazer as perguntas que todos queriam ouvir, se limitou apenas a bajula-lo.

    Eu pergunto a vocês, por que ele não perguntou o motivo da Igreja Católica continuar a insistir na proibição do uso da camisinha para seus bilhões de fiéis, visto que a pandemia da AIDS continua a assolar a terra e continentes como a África estão perdendo o controle porque milhões de católicos naquela região se negam a usar preservativos devido a proibição da igreja?

   Por que a igreja insiste em proibir que um católico se case uma segunda vez na igreja, visto que muitos casais por vários motivos não dão certo e alguns vivem uma vida insuportável ao lado de uma pessoa que não ama apenas para agradar a igreja, ou outros talvez se separam e encontram outra pessoa que realmente amam e seu maior desejo é casar-se na igreja e comungar nos costumes mas são impedidos disso, causando uma terrível frustração e tristeza nestes fiéis?

    Por que a igreja ainda insiste no celibato, obrigando muitos padres que realmente tem vocação para o sacerdócio a não terem outra opção a não ser largar a batina, ou outros que ficam como padres mas tem que sufocar desejos que em muitos casos acabam em horríveis casos de pedofilia onde a igreja tem que gastar milhões de dólares em indenizações para abafar o caso causando um tremendo mal estar e abalando a reputação da igreja?

   Por que a igreja continua contrária a pesquisa com células tronco, fazendo até lobby político para barrar as pesquisas limitando um estudo que poderá trazer inimagináveis benefícios a milhões de pessoas que estão sofrendo padecimentos terríveis, incluindo muitos católicos? Por que a igreja continua com essa posição intransigente com respeito ao aborto em casos de estupro e fetos anencéfalos obrigando milhares de mulheres a carregar uma criança sem cérebro até o final de gestação sabendo que vai concebe-lo apenas para enterra-lo?

    Como a igreja pode bradar em alto som que deseja o fim da fome e pobreza no mundo que em muitos casos é causado pela super população e a explosão demográfica quando na realidade é contra métodos anticonceptivos (como a camisinha)?

   Eu pergunto a vocês, algumas destas perguntas acima foram feitas ao Papa??? Pelo que eu saiba NÃO!!! Infelizmente não. Imaginem se toda a sociedade começasse a realmente questionar a igreja católica, perdendo esse respeito excessivo que existe com as religiões? Eu citei aqui a igreja católica apenas devido a visita do Papa, mas, questionamentos até maiores poderia ser feitos ao islamismo, judaísmo, protestantes, pentecostais, testemunhas de Jeová, mórmons, etc, etc, etc... Imaginem o grande avanço que causaria a sociedade em geral uma mudança de posição da igreja católica em pelo menos alguns destes pontos que citei acima? Imaginem quanto sofrimento, dor, frustração, trauma, abusos poderiam ser evitados com apenas uma mudança de posição? Mas eu pergunto a vocês, se continuarmos com esse passivismo, indolência e excessivo respeito pelas instituições religiosas alguma coisa vai mudar? Se não protestarmos, criticarmos, questionarmos com veemência eles vão se sentir induzidos a mudarem seus conceitos???

 

Conheça o livro que tem abalado o mundo religioso! Clique Aqui!

 

Participe de nossa enquete. Sua opinião é muito importante para nós! Clique Aquie de seu voto.

Publicado em CATOLICISMO